Adeus a Ângela Ro Ro: ícone da MPB e pioneira da representatividade, morre aos 75 anos
Cantora e compositora de voz inconfundível, autora de clássicos como ‘Amor, Meu Grande Amor’ e ‘Escândalo’, Ângela Ro Ro deixa legado de talento, intensidade e representatividade na música brasileira.

A cantora e compositora Ângela Ro Ro, conhecida pelo marcante timbre rouco de sua voz, faleceu nesta segunda-feira (8) aos 75 anos, no Rio de Janeiro. Ângela estava internada há cerca de três meses devido a problemas de saúde e não resistiu a complicações de uma infecção pulmonar, vindo a sofrer uma parada cardíaca após um procedimento cirúrgico.
A notícia de sua partida foi confirmada por pessoas próximas à artista e divulgada na imprensa na tarde de hoje, gerando comoção entre fãs e colegas.
Nos últimos meses, Ângela Ro Ro enfrentava sérios problemas de saúde. Em junho, ela foi internada na UTI do Hospital Silvestre, no Rio, com infecção pulmonar grave e complicações renais, chegando a passar por uma traqueostomia durante o tratamento.
Impedida de trabalhar por conta da doença, a artista recorreu às redes sociais em maio para pedir ajuda financeira aos admiradores, explicando que não tinha perspectiva de alta e precisava de apoio para custear o tratamento. Infelizmente, o quadro clínico se agravou nas últimas semanas, culminando no falecimento da cantora nesta manhã.
Carreira e principais sucessos
Nascida Angela Maria Diniz Gonsalves, no Rio de Janeiro, em 5 de dezembro de 1949, a artista adotou o nome artístico Ângela Ro Ro inspirada por um apelido de infância, dado por amigos em referência à sua voz rouca característica. Pianista talentosa, cantora e também compositora, Ro Ro despontou no cenário musical no final da década de 1970 e rapidamente se destacou por seu estilo singular, que mesclava MPB com elementos de blues e rock, além de letras confessionais e interpretações intensas.
Seu álbum de estreia, Ângela Ro Ro (1979), é hoje considerado um clássico e trouxe canções icônicas como “Amor, Meu Grande Amor”, um dos maiores hits de sua carreira. Ao longo dos anos 1980, a artista consolidou seu sucesso com discos aclamados – entre eles Só Nos Resta Viver (1980) e Escândalo (1981) – e manteve-se produtiva, lançando um total de dez álbuns de estúdio ao longo da carreira (sendo Selvagem, de 2017, o mais recente).
Ela colaborou e dividiu os palcos com grandes nomes da música brasileira, como Ney Matogrosso, Maria Bethânia e Caetano Veloso, chegando inclusive a participar com gaita em uma faixa do célebre álbum Transa (1972) de Caetano Veloso.
Com uma trajetória repleta de composições marcantes, Ângela Ro Ro deixa um rico legado musical. Entre suas músicas mais emblemáticas estão baladas românticas e canções passionais que conquistaram o público. Destacam-se títulos como “Amor, Meu Grande Amor”, “Fogueira”, “Escândalo”, “Simples Carinho”, “Gota de Sangue” e “Só Nos Resta Viver”, entre outros sucessos que marcaram a MPB nas últimas décadas.
Autora de grande parte de seu repertório, Ro Ro também se notabilizou por imprimir personalidade forte nas interpretações de obras de outros compositores, fazendo de cada performance um ato de entrega artística.

Legado e representatividade
Ao longo de mais de quatro décadas de carreira, Ângela Ro Ro firmou-se como uma das vozes mais marcantes da música brasileira. Em 2012, foi reconhecida como a 33ª maior voz do Brasil, uma prova do respeito conquistado por sua técnica vocal poderosa e estilo autêntico. Sua franqueza artística e pessoal sempre foi uma de suas marcas: Ro Ro não temia expor emoções nas letras nem revelar suas vulnerabilidades ao público, o que lhe rendeu grande admiração de fãs e inspirou novos artistas a abraçarem a sinceridade em suas obras.
Além do impacto musical, Ângela Ro Ro foi uma figura pioneira em representatividade. Em uma época em que prevalecia o conservadorismo, ela despontou como uma das primeiras artistas brasileiras a assumir abertamente a homossexualidade. Sua coragem em se apresentar de forma autêntica – dentro e fora dos palcos – fez dela um símbolo para a comunidade LGBTQIA+ e abriu caminhos para que outras gerações de artistas pudessem viver sua orientação com naturalidade. Ro Ro desafiou normas sociais e enfrentou preconceitos de cabeça erguida, sempre fiel a si mesma e à sua arte, tornando-se referência de resistência e liberdade.
Com a partida de Ângela Ro Ro, a música brasileira perde uma artista singular, dona de um estilo e voz inconfundíveis. Porém, seu legado permanece vivo: suas canções continuam a emocionar públicos de diferentes gerações, e sua história de autenticidade e paixão pela música segue inspirando artistas e admiradores. Ângela Ro Ro despede-se do palco da vida, mas sua voz rouca e seus versos intensos ecoarão para sempre na memória da MPB, celebrando uma carreira marcada por talento, coragem e verdade artística.
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