Às vésperas de seu novo álbum, Supla crava o nome em Buenos Aires ao lado do The Casualties
Em plena forma, Supla provoca Buenos Aires e reafirma seu legado no punk latino-americano.

Supla e os Punks de Boutique se apresentaram em Buenos Aires nesta última terça-feira, 17 de junho de 2025. O show marcou a última parada do roqueiro brasileiro na capital argentina e foi realizado no Uniclub, no bairro de Balvanera.
Em turnê pela América do Sul como suporte aos seus amigos nova-iorquinos do The Casualties, Supla aproveita o momento para preparar terreno para o lançamento de seu novo álbum, previsto para o próximo mês. Promovido pelas produtoras brasileiras Xaninho Discos e Caveira Velha Produções, em parceria com a argentina Noiseground, o evento teve momentos memoráveis.
Da expectativa ao impacto: a abertura da noite
A banda local Los Quebraditos abriu a noite com um set de bom punk rock porteño. Embora tecnicamente eficiente, o público ainda não parecia aquecido. A expectativa parecia estar concentrada na atração headliner — foi nesse clima que Supla e os Punks de Boutique entraram em cena.

O trio formado por Filipe Lima (bateria), Henrique Cabreira (guitarra) e Edu Hollywood (baixo) abriu o palco tocando uma versão de “Pipeline” de Stevie Ray Vaughan e Dick Dale e logo se destacaram pela imponência imagética. Em termo de entretenimento, o show do Supla se inicia ali, no seu conceito imagético. Ao olhar para o palco, somos imergidos na cultura punk dos anos 70. Se os Los Quebraditos se apresentaram como uma típica banda local, Supla surgiu como um autêntico astro punk. A atmosfera criada evidenciou que tratava-se de um show internacional.
Supla em seu território: atitude e punk rock
Supla grita ao microfone o nome de sua música “Fuck Politics” — mas em castellano — deixando claro seu posicionamento. Filho de políticos conhecidos, Supla nunca se furtou ao confronto com a própria origem — como quando usou sua participação na Casa dos Artistas (SBT, 2001) para criticar políticas da mãe, então prefeita de São Paulo-SP. Essa coerência sempre foi parte de sua imagem.
Na sequência, mandou mais uma do álbum “Ilegal” (2018), dessa vez a faixa-título. Mantendo a energia punk, emendou com uma versão de “Imagine”, de John Lennon — não um cover genérico, mas uma reinterpretação punk com assinatura própria. O resultado foi muito convincente e coerente com o repertório de Supla — que por vezes circula com um show paralelo dedicado somente aos Beatles.
Nuances precisas e cenas memoráveis
Do álbum “Suplaego” (2020), “Fall to the Ground” elevou a energia da casa. A essa altura, o público já estava completamente envolvido. Supla se jogou na plateia — inclusive sobre este que vos escreve — e, beirando os 60 anos, iniciou a roda punk, mostrando preparo físico, técnica vocal e presença de palco invejáveis.
A inédita “Você Não Vai Me Quebrar” funcionou muito bem ao vivo, sendo cantada em português com alguns trechos adaptados para o espanhol. O show mesclou as três línguas — português, inglês e espanhol — o que aproximou o artista ainda mais do público argentino.
“Supla Zombie”, do álbum “Transa Amarrada” (2023) — o primeiro a apresentar o nome composto “Supla e os Punks de Boutique”, trouxe teatralidade ao show: o Papito interpretou um zumbi no palco, mesclando música e performance. Na sequência, apresentou uma releitura de “Dancing With Myself” do Generation X (1981), mais uma vez, uma versão tão apropriada ao seu próprio estilo que poderia ser confundida como uma faixa autoral.
Chegou a vez da clássica “O Charada Brasileiro”, que, mesmo 24 anos mais velha, foi executada com mais punch e vigor do que no disco original de 2001. Houve ainda espaço para a bossa nova gótica “If You Believe in Nosferatu” — um respiro bem-vindo antes de retomar a energia explosiva com “Eu Sou Um Capacho”, outra do “Transa Amarrada” (2023), e “Porque Eu Só Quero Comer Você”, do álbum "Vicious" (2006), marcada por bom humor e interação com a plateia.
Revisitando as raízes: um tributo ao velho punk
Supla resgatou sua fase Psycho 69, de 1995 — época em que conheceu e se tornou amigo dos headliners The Casualties — com “Green Monsters”, em uma performance agitada e expressiva. E, claro, não faltou homenagem aos Ramones com “Beat on the Brat” (1976), levando os argentinos ao coro. Fechou o bloco com “Anarquia Lifestyle”, do álbum “Diga o que Você Pensa” (2016), em versão acelerada e com o refrão adaptado para “anarquia lifestyle para ustedes”.
Na reta final, apresentou “Be My Baby” (2024), sua versão punk bem divertida para o clássico das The Ronettes. Em seguida, veio a potente “Humanos”, mais uma do álbum “O Charada Brasileiro”, preparando o terreno para o encerramento com a emblemática “Garota de Berlim”, relembrando os tempos do Tokyo (1985).
O público vibrou até o fim. Supla agradeceu, posou para fotos com os fãs e entregou um show que misturou carisma, força cênica e energia autêntica. Um espetáculo bem pensado — do setlist à performance — que reafirma sua relevância no cenário punk latino-americano.
The Casualties mantém o peso e atitude
The Casualties entrou com a missão de sustentar a temperatura elevada deixada por Supla. A nova formação, com Jack Kolatis e Marc Eggers, únicos remanescentes da formação clássica, mantiveram a identidade da banda. David Rodriguez assumiu com segurança os vocais deixados por Jorge Herrera, enquanto Doug Wellmon se apresentou com bastante apetite, uma adição promissora à engrenagem da banda.
Apesar da boa performance, Supla havia deixado o terreno tão bem preparado que, mesmo se o The Casualties entregasse um show morno, a noite já estaria ganha. Não por acaso, ter o brasileiro como atração de abertura se mostrou uma escolha estratégica e certeira para a turnê sul-americana dos nova-iorquinos.

Um autêntico astro punk
Supla não sobe ao palco apenas para executar uma playlist; ele entra em cena para apresentar um espetáculo. Mostrou técnica vocal, consciência artística, domínio de público e respeito ao punk rock, convertendo um simples repertório em uma grande experiência artística. Supla provoca, brinca com os limites e transforma o caos em arte. Quem estava ali saiu com a alma riscada por alguma imagem, algum refrão ou algum gesto fora do script.
Mesmo para quem não for fã do Supla, assisti-lo ao vivo é um convite à reconsideração. Com quase 60 anos, o Papito mantém a mesma energia da primeira vez em que o vi, em 2002, quando dividiu o palco da Praça Charles Miller com CPM 22 e Engenheiros do Hawaii. O tempo parece não passar para O Charada Brasileiro. C’mon Kids!
Confira a playlist do show no Spotify:
Ficha técnica
SETLIST:
Pipeline (Cover de Stevie Ray Vaughan e Dick Dale)
Fuck Politics
Ilegal
Imagine (versão de John Lennon)
Fall To The Ground
Você não vai me quebrar
Supla Zombie
Dancing With Myself (versão de Generation X)
O charada brasileiro
Humanos
Garota de Berlim
If You Believe In Nosferatu
Eu Sou Um Capacho
Porque Eu Só Quero Comer Você
Green Monsters
Beat on the Brat (Cover de Ramones)
Anarquia Lyfestyle
Be My Baby (versão de Ronettes)

BANDA:
Supla - voz
Filipe Lima - batera
Henrique Cabreira - guita
Edu Hollywood - bass
EVENTO:
Local: Uniclub
Endereço: Guardia Vieja 3360, C1192AAB, Ciudad Autónoma de Buenos Aires, Argentina
Data: 17/06/2025
Realização: Noiseground, Xaninho Discos, Caveira Velha Produções
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