Logo R7.com
RecordPlus

Chico César reúne vozes judaicas em ‘Breu’, um grito musical contra a guerra

Canção trilíngue reúne artistas do Brasil, Israel e Gaza em um manifesto que mistura forró, folk e denúncia política

Musikorama|Rodrigo d’SalesOpens in new window

  • Google News

Breu é a resposta de Chico César contra o conflito no Oriente Médio. A canção reúne o paraibano a músicos judeus e a um artista palestino em um gesto que, por si só, já é um posicionamento: gente de origens diferentes unida para dizer que a guerra é inaceitável.

A faixa se abre com a voz de Rivo, músico de Gaza, em árabe, afirmando que a paz não é fraqueza e que o perdão é mais forte que a inimizade. Não é um prólogo decorativo. É a escolha de colocar, logo de início, quem vive o bombardeio falando de humanidade.


Em seguida entram Chico César, Benjamin Taubkin, Fábio Pinczowski, Gabriel Levy, Oran Etkin, Paulo Rapoport, além de Luisa Maita e Noga Ritter. A formação mistura Brasil, Israel e Palestina de forma muito concreta, sem discurso abstrato de “união dos povos”.

Musicalmente, Breu lembra o rock de protesto à la Raul Seixas; tem canto, tem lamúria, tem pés fincados na tradição nordestina: violão suave, cadência de forró sombrio, voz que oscila entre conversa e desabafo. Quando o inglês aparece, o clima remete a Bob Dylan, com versos que soam simples, mas carregados de imagem e crítica. Essa combinação faz a música transitar bem entre o regional e o universal, sem perder identidade.


A letra não foge do conflito. Fala do antes e depois de Gaza, das casas em ruínas, dos sobreviventes sem luz nem destino. Aparecem crianças, o mundo “debaixo do cobertor” e a bomba lançada na asa da pomba. Chico tira a canção do terreno neutro da “mensagem de paz”, apontando responsabilidade política. O refrão, com o mantra “horror horror horror horror” seguido da pergunta “por que ficamos tanto tempo assim calados?”, funciona como acusação e autocrítica ao mesmo tempo.

Os trechos em inglês e hebraico ampliam o alcance da mensagem. Em inglês, a música fala de prédios que desabam como as colunas morais de quem mandou atirar e da escuridão que atinge tanto as vítimas diretas quanto quem se omite.


Em hebraico, o texto convoca a abrir os olhos, sair do breu, admitir que não há justificativa para tanto sangue e semear vida para todos. Em um debate frequentemente sequestrado por leituras rasas, ouvir isso em hebraico dentro de uma canção crítica é um gesto forte.

Do ponto de vista artístico, Breu é uma canção sólida, comovente e bem construída. Do ponto de vista político, é um risco calculado: Chico sabe que vai desagradar quem prefere artistas neutros, mas escolhe usar seu capital simbólico para se posicionar em uma causa que o atravessa. Essa decisão mantém coerente a trajetória de um compositor que nunca tratou a música só como entretenimento.


Não é uma faixa para deixar de fundo. Exige escuta atenta e um mínimo de disposição para encarar desconfortos. Justamente por isso, cumpre uma função rara hoje: reativa a tradição da canção de protesto, com sotaque nordestino, ecos de Raul Seixas e Bob Dylan, e a presença real de vozes judaicas e palestinas.

Em meio a tanta desinformação, Breu lembra que ainda há espaço para arte que toma posição e cobra responsabilidade de quem ouve.

Chico César reacende em “Breu” o espírito da canção de protesto ao denunciar o horror vivido por civis palestinos Reprodução/Instagram/@oficialchicocesar

Ficha Técnica:

Voz por Chico César, RIVO, Noga Ritter, Luisa Maita e Oran Etkin

Piano por Benjamin Taubkin

Violões por Chico César

Guitarra e percussão por Fabio Pinczowski

Acordeom por Gabriel Levy

Clarinete e clarone por Oran Etkin

Baixo por Paulo Rapoport

Gravado, mixado e masterizado no estúdio Space Blues por Alexandre Fontanetti

Engenheiro de gravação adicional por Pedro Luz

Gravação de vídeo por Vange Milliet e Márcio Vasconcelos

Edição de vídeo por Márcio Vasconcelos e Vange Milliet

Direção de Arte da Capa por Edith Derdik

Finalização da Capa por Adriano Cunha

Redes Sociais por Marcos Lauro

Assessoria Comunicação por Patricia Dornelas

Produção Executiva por Sil Ribas

Direção Executiva por LF+C

Para ficar por dentro de críticas e artigos sobre o mercado da música, nos siga nas redes sociais: @musikoramamusic|@digaomusik

Para saber tudo do mundo dos famosos, siga o canal de entretenimento do R7, o portal de notícias da Record, no WhatsApp

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

Últimas


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com oAviso de Privacidade.