Em ‘História Mal Escrita’, Bellizio transforma resiliência em rock e pop
Com um pé no hard rock e outro na pista de dança, artista paulistano estreia com um disco que encara as mentiras da vida moderna para encontrar alguma verdade no caos

Há discos que nascem da calmaria e outros forjados no fogo. “História Mal Escrita (Verdades Mentiras)”, de Bellizio, se enquadra na segunda categoria. A jornada do artista, interrompida por crises de burnout, depressão e um AVC, transforma o lançamento deste álbum em um testamento de resiliência. O se escuta não é apenas um conjunto de canções, mas a crônica de quem fez do recomeço a sua própria linguagem.
O resultado é um trabalho de contrastes bem executados, fruto da ousadia de um artista capaz de unir Aerosmith e Vanusa num mesmo palco e fazer tudo soar coeso. A abertura com a faixa-título, “História Mal Escrita”, funciona como um cartão de visitas para esse universo: uma batida de indie pop contagiante serve de trilha para uma letra sobre o vazio existencial. É a angústia da ressaca emocional musicada com um refrão eficaz e radiofônico.

Essa exploração das relações tortas e da busca por identidade continua em “A Verdade” e “O Que Você Quer de Mim?”. A primeira, uma espécie de bem sucedida fusão entre Dire Straits e Jota Quest, retrata com a friendzone; a segunda, apontando para referências mais contemporâneas como Imagine Dragons, é o desabafo de quem tropeça na comunicação dentro do relacionamento. Bellizio mostra-se um cronista atento das armadilhas afetivas do mundo de hoje. Já “Roubou um Beijo” renova a atmosfera do disco ao trazer uma pegada country e contextualizar com leveza a história da garota que partiu rumo ao Colorado.
É aqui, porém, que o álbum atinge seu centro gravitacional. “Não é Fácil” é uma faixa que carrega um tema de forte apelo: a dor de um pai que precisa se afastar da filha recém-nascida devido a rotina profissional. A canção cresce aos poucos, numa onda de emoção que remete a Def Leppard e Skid Row, mas com identidade própria. É uma faixa de beleza honesta e força silenciosa — uma das canções mais impactantes que ouvi este ano.
Passado o momento de maior intensidade emocional, o disco retoma o fôlego com o otimismo de “Vem Comigo” e a busca incessante de “A Grande Aventura”. Esta última sintetiza a alma do álbum na frase “Você não sabe o quanto eu procurei”. Porque é disso que se trata o disco inteiro: uma procura. Por amor, por verdade, por si mesmo. Bellizio é um Sísifo moderno que, ao invés de se resignar, escolheu dançar junto do absurdo.
Na reta final, “Calmaria” evoca o rock brasileiro oitentista de Titãs e Barão Vermelho para dar voz à exaustão da mulher moderna, um tema que Bellizio aborda com sensibilidade. O encerramento com a experimental “Nem Olhei” deixa um gosto agridoce e onírico, a confusão de um quase-encontro que espelha as incertezas da própria vida.
“História Mal Escrita (Verdades Mentiras)” nos mostra que Bellizio, embora em início de jornada, possui uma maturidade artística rara. Ele não emula Titãs ou Jota Quest; bebe das mesmas fontes e entrega algo autêntico. Seu álbum é o relato de alguém que conhece suas feridas e escolheu enfrentá-las com música alta e desejo sincero de viver. Uma estreia que transforma dor e medo em arte, com leveza e profundidade — e ainda nos tira pra dançar.
“História Mal Escrita (Verdades Mentiras)” está disponível em todas as plataformas de streaming para você conferir. Vale a pena acompanhar os próximos passos de Bellizio nas redes sociais:
@eubellizio @digaomusik @musikoramamusic
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