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Produtor revela como músicos brasileiros estão conquistando o mercado europeu

Bono da Costa revela as estratégias usadas por artistas sem depender de números gigantes nas redes sociais

Musikorama|Rodrigo d’SalesOpens in new window

LEIA AQUI O RESUMO DA NOTÍCIA

  • Bono da Costa, produtor hispano-brasileiro, destaca a internacionalização de músicos brasileiros.
  • Ele fundou a Asociación Cultural Latinoamérica 360, focando na circulação artística e oportunidades para artistas independentes.
  • Bono acredita que não é necessário ter milhões de seguidores nas redes sociais para garantir shows internacionais.
  • O projeto Rock for Family visa dar às crianças sua primeira experiência com rock and roll, começando em 2024.

Produzido pela Ri7a - a Inteligência Artificial do R7

Premiado produtor hispano-brasileiro, Bono da Costa tem levado artistas do Brasil a cruzar fronteiras e conquistar palcos internacionais — mesmo sem terem milhões de seguidores nas redes sociais.

Fundador da Asociación Cultural Latinoamérica 360, sediada em Madri, Bono construiu uma carreira sólida unindo forças do setor privado e público em prol da cultura.

Com presença constante em diferentes regiões do Brasil e compromisso com a circulação artística global, Bono compartilha nesta entrevista sua trajetória e estratégias para que músicos independentes transformem sonhos em turnês pelo mundo.

MSKRM: Sua principal criação, o Latinoamérica 360, passou por algumas transformações. Hoje, qual o seu core business?


BN: Hoje o Latinoamérica 360 atua em duas frentes principais. A primeira é a internacionalização de carreiras — conectar bandas e artistas com diferentes países sempre esteve no nosso DNA. A segunda é o Music Business 360, nosso braço de formação, que completa 10 anos e vai se transformar em um instituto.

Fomos pioneiros em levar workshops pelo mundo, começando em oito países e passando por 14 estados do Brasil. Fico feliz em ver o business e o networking ganhando destaque na indústria, pois é essencial conectar as frentes do mercado para descobrir e dar visibilidade a novos talentos.


Mais importante ainda é falar de subsistência: colocar dinheiro no bolso da base da cadeia produtiva, para que artistas pequenos e profissionais de apoio tenham melhores condições de renda. Isso é fundamental e pouco discutido.

MSKRM: Qual foi a motivação para criar, em 2012, uma associação cultural que promovesse formação, profissionalização, empreendedorismo e gigs internacionais para artistas independentes?


BN: Antes da música, fui atleta profissional e professor de alto rendimento. Durante três anos conciliei esporte e música, até perceber, em 2002, que era hora de dedicar minha vida integralmente à música.

Aprendi no esporte a importância de não “queimar a largada”: agir no momento certo pode salvar um grande projeto. Em 2004, abri uma casa em São Paulo que recebia bandas nacionais e internacionais, criando um circuito de circulação — algo que ainda falta para o artista independente.

O Latinoamérica 360 nasceu dessa visão e da constatação de que havia pouca comunicação entre o Brasil e outros países da América Latina. Meu objetivo foi conectar esses mercados e, mais tarde, estender essa ponte para a Europa, aproveitando o excelente momento da música latina no mundo.

Ex-atleta profissional de karatê, Bono da Costa leva a disciplina e a estratégia das artes marciais para o mercado da música Jaime de Diego

MSKRM: Como está a música latina atualmente?

BN: A música latina vive seu melhor momento, com números expressivos de audiência e visibilidade. O interesse global abrange gêneros como cúmbia, reggaeton e jazz brasileiro. O mundo está curioso e receptivo à música latina, que se destaca pela qualidade, precisão, sabor e dinamismo.

Para aproveitar esse cenário, é essencial negociar bem e abrir agendas bilaterais entre países, fortalecendo a circulação de artistas — algo que o público europeu valoriza especialmente em épocas festivas como o verão.

MSKRM: Você mencionou um novo artista de música instrumental, um nicho que, à primeira vista, parece um dos mais desafiadores para circulação. No entanto, você demonstra que existe público e áreas ainda inexploradas. Como você identifica essas oportunidades e qual é a chave para enxergar e abrir essas portas?

BN: O artista pequeno deve tirar o mainstream do imaginário — festivais como Lollapalooza e Rock in Rio estão em outra liga, exigem grandes conexões e estrutura. O foco é mapear constantemente oportunidades reais: festivais regionais, eventos municipais, institutos culturais, espaços alternativos, criando um “vício” de pesquisa e contato com programadores.

Esse mapeamento pode render dezenas de shows por ano, enquanto insistir no circuito mainstream consome energia e traz pouca chance. Além disso, falta no rock uma rede de conexão como a da world music, com feiras, rodadas de negócio e foco na circulação internacional.

Não é preciso ter milhões de seguidores para fazer turnê internacional — o essencial é bater nas portas certas e saber vender.

(Bono da Costa)

MSKRM: Qual é a sua visão sobre o verdadeiro valor do engajamento nas redes sociais para viabilizar uma turnê internacional?

BN: Não é preciso ter milhões de seguidores para fazer turnê internacional — o essencial é bater nas portas certas e saber vender. Costumo vender primeiro o gênero e/ou marca, antes de citar o nome do artista.

Foi assim que aconteceu com Igor Gnomo: ao invés de vender “Igor Gnomo”, vendemos “Brazilian Jazz”, um rótulo que desperta curiosidade e abre portas no exterior. O resultado foi um teatro lotado em Madri, com 120 pessoas, sendo a grande maioria estrangeira, num ciclo gratuito e de alta circulação.

Esse tipo de estratégia também vale para entrar em eventos como o Rock al Parque na Colômbia, que recebe 200 mil pessoas, ou ciclos culturais como o Indierocks no México.

Muitos artistas grandes do Brasil não têm o mesmo reconhecimento fora e chegam com exigências desproporcionais. Isso inviabiliza a produção e raramente resulta em mais de 500 ou 600 ingressos vendidos. Já artistas menores, se mantiverem consistência, humildade e boas escolhas de circulação, podem construir público, entrar em festivais relevantes e até superar o alcance de nomes importantes. O mainstream tem que colocar a chinelinha da humildade e entender que fora do Brasil a lógica é outra: é preciso começar como qualquer artista pequeno, conquistando espaço passo a passo.

Como curador do Festival Hispanidad de Madri, Bono da Costa ressalta que a proposta artística é o principal critério em suas escolhas Jaime de Diego

MSKRM: Como curador do festival “Hispanidad” em Madri, o que você observa ao escolher as bandas?

BN: A curadoria de um projeto como esse precisa ter referência clara ao tema (no caso, a Hispanidad) e contar com material de venda impecável — boa apresentação, carta de apresentação e material audiovisual de qualidade. Uma estratégia recomendada é reunir 3 ou 4 bandas, alugar um teatro e gravar showcases curtos (20 a 25 minutos) ao vivo, para ter registros que valorizem palco e estrutura, algo muito observado na Europa.

O ao vivo precisa corresponder à imagem que o artista passa nas redes: não adianta ter milhões de seguidores e decepcionar no palco. Ocorreu um caso de um artista que, com 10 milhões de seguidores, atraiu apenas 200 pessoas para o show. Por isso, comunidade real e engajada vale mais que números inflados no Instagram.

Um organizador pode contratar um artista de poucos seguidores se ele sentir que tem bom engajamento e qualidade artística. O foco deve ser música boa e material de vendas profissional. Tenha um videoclipe e vídeo ao vivo bem feitos, isso é primordial. Cuide do seu “site”, que hoje é o Instagram, mantendo-o organizado e atraente — se precisar, use a inteligência artificial para ajudar nas criações. E tenha uma ação constante de prospecção, “bater na porta” todos os dias, aproveitando cada contato para gerar conexões e montar mini-circuitos de shows.

Em setembro, Bono da Costa desembarca no Brasil para palestrar na Conecta + Música & Mercado 2025 Reprodução/Instagram/@bonodacosta

MSKRM: Para finalizar, você tem um projeto premiado, o Rock for Family. Novidades à vista?

BN: O Rock for Family é meu sonho, um projeto voltado para crianças, inspirado por uma experiência difícil da infância, quando sonhei em ter uma guitarra e nunca consegui. Nasci em um sítio na Paraíba, e depois fui para São Paulo, de onde comecei a viajar pelo mundo.

O Rock for Family é um sonho que está se tornando realidade: um projeto que no próximo ano vai percorrer 20 cidades, dando às crianças sua primeira experiência com o rock and roll. O primeiro EP ganhou o Prêmio Profissionais da Música deste ano e o Prêmio Ibermúsicas. Essa circulação espero que ocorra a partir do mês de de março do próximo ano.

Rock For Family é um projeto infantil que apresenta o universo do rock de forma divertida e educativa para as crianças Reprodução/Instagram/@rockforfamilyoficial

Enquanto a Latinoamérica 360 amplia conexões e o Music Business 360 caminha para virar instituto, a visão de Bono da Costa desmonta a ilusão de que números sozinhos abrem portas no exterior. Para ele, a força de um artista se mede no palco, na reação do público certo e na capacidade de se manter relevante show após show. No fim, o algoritmo mais importante continua sendo o humano.

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