R$ 30 milhões de dinheiro público em um show: por que isso faz muito mais sentido do que você imagina
O caso Lady Gaga em Copacabana reacende uma dúvida que muita gente se faz: usar dinheiro público para shows é bom para a economia e o futuro do país?

Investir em cultura é uma forma essencial de promover desenvolvimento econômico e social. Um exemplo que ilustra magnificamente isso é a realização do megaespetáculo da Lady Gaga na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro.
Segundo a SECECRJ (Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro), o evento recebeu um investimento público de R$ 30 milhões — sendo R$ 15 milhões da Prefeitura do Rio e R$ 15 milhões do Governo do Estado — e gerou um retorno estimado em R$ 600 milhões para a economia local — movimentando setores como turismo, hotelaria, alimentação, transporte e comércio. Investir na música vai muito além da música.

A música está em todo lugar — e move tudo
Quer entender melhor o impacto da música no dia a dia de um país? Retire a música dos bares e restaurantes, dos supermercados e lojas de varejo, desligue as caixas de som das academias, proíba os apps de música, retire as trilhas sonoras dos filmes, comerciais, novelas e programas de TV, feche as casas de shows, não realize mais espetáculos musicais nos SESCs, retire a música de dentro das igrejas.
Agora tente imaginar a atratividade e permanência do público nesses lugares. Pense em quanto dinheiro deixará de circular e quanto de impostos deixará de ser recolhido para os cofres públicos.
Espetáculos gratuitos e o direito à cultura
Além do aspecto econômico, o investimento público em grandes espetáculos carrega uma carga de bem-estar social inestimável à população menos favorecida, ao proporcionar a essas pessoas o acesso gratuito a uma experiência riquíssima, de altíssimo nível, que apenas os megaespectáculos oferecem.
Lady Gaga em Copacabana trata-se de uma megaprodução com excelência técnica e artística, de enorme impacto emocional, trazendo identificação e pertencimento para milhões de pessoas. A cultura deve ser um direito universal, e não um bem de alto poder aquisitivo.

O discurso raso contra a cultura
As ruas estão cheias de pessoas que se beneficiam diariamente da música — com o que ela lhes provoca à alma ao ser ouvida em casa, no carro e no trabalho —, mas que esbravejam ataques vazios de propósito e conhecimento contra o investimento público em música/cultura.
Frases como “em vez de investir em show, deveriam investir esse dinheiro em saúde e educação” revelam uma visão rasa, como se esses investimentos fossem excludentes.
Não se trata de tirar de um setor para investir em outro. O orçamento público é elaborado de forma a atender adequadamente às necessidades de todos os setores.
É necessário compreender que todos esses pilares caminham juntos para garantir o desenvolvimento pleno de uma sociedade. E o show da Lady Gaga promovido pelo poder público é um exemplo macro de como isso funciona.
Seria ainda mais eficaz se se intensificasse o apoio estratégico — tanto do poder público quanto da iniciativa privada — em microeventos e festivais independentes, para expansão e desenvolvimento da base que movimenta a engrenagem da indústria cultural de amanhã.
O peso econômico da música
A Associação Brasileira da Música Independente (ABMI) apontou que, em 2022, o setor musical brasileiro movimentou cerca de R$ 2,5 bilhões e empregou diretamente mais de 300 mil pessoas. Esses números expõem o quanto a música impacta diretamente na economia do país.
É claro que todo investimento público deve ser fiscalizado, e a música não é isenta disso. Devemos cobrar transparência, responsabilidade e clareza nos processos — mas jamais questionar a importância e a necessidade de se investir nela.
Empregar recursos públicos na música não é gasto. É investimento no desenvolvimento saudável de nós enquanto sociedade.