Screaming Trees lança música póstuma após 14 anos! Peraí... é um golpe feito por IA?
Artistas estão sendo alvos de um novo tipo de fraude: músicas falsas, criadas por inteligência artificial, sendo inseridas em seus catálogos sem autorização

Na noite de 10 de outubro de 2025, recebi uma notificação do Spotify que me fez parar tudo. “Novo lançamento de Screaming Trees”. Como fã convicto do grunge e do rock alternativo dos anos 90, especialmente das camadas mais densas e introspectivas do som do Mark Lanegan, meus olhos se arregalaram. Pensei que fosse algum material póstumo, uma homenagem à memória de Lanegan e Van Conner. Quem sabe algo resgatado do fundo do baú?
Mas não. Bastaram os primeiros segundos da faixa Our Hearts Beat As One para eu entender que tinha algo errado. A voz? Feminina, genérica. O arranjo? Um folk aguado que não tem nada a ver com o peso existencial dos Trees. A capa do single? Uma arte digital genérica e sem alma, com cara de IA.
Não demorou muito para cair a ficha: aquilo não era Screaming Trees. Era uma obra intrusa, artificial, inserida sorrateiramente num catálogo que não merecia esse tipo de invasão.
Esse episódio, porém, está longe de ser um caso isolado. Diversas bandas dos anos 90, especialmente aquelas que estão inativas ou com formações reduzidas, têm sofrido o mesmo golpe. Mad Season, Gruntruck, Machines of Loving Grace...
Todas foram vítimas de músicas falsas, em sua maioria geradas por inteligência artificial, que aparecem do nada como “novos lançamentos” em seus perfis oficiais nas plataformas digitais. E o mais grave: essas faixas ficam lá por dias, gerando royalties para o fraudador, enganando fãs, e manchando legados que foram construídos com suor, distorção e honestidade criativa.
A raiz do problema está numa falha estrutural das plataformas de streaming. Hoje, é possível que qualquer pessoa, usando um distribuidor freemium como a Ditto (a distribuidora desses casos recentes), envie uma música para o perfil de qualquer artista. Literalmente.
Eu poderia subir uma faixa no perfil do Michael Jackson agora e ainda colocar como gravadora a “Universal Music”. Nada impede. Nenhuma validação é feita. Nenhum aviso é enviado para o artista original, seu selo, seus representantes.
É como se o perfil do artista estivesse com a porta da frente escancarada, e qualquer um pudesse entrar, sentar no sofá, mudar o quadro da parede e roubar alguns pertences.
A justificativa das plataformas costuma ser a mesma: "não temos como verificar todos os envios". Mas essa omissão já está custando caro. Não apenas financeiramente, pelos royalties desviados, mas também em credibilidade. Está se tornando comum o fã ser notificado sobre um “novo lançamento” e dar de cara com uma faixa genérica, com vocais falsificados, assinada por um artista que não teve qualquer envolvimento com aquilo.
Em casos mais graves, como o que acompanhamos recentemente no Brasil, o esquema foi ainda mais longe: artistas falsos criaram centenas de perfis, roubaram guias vocais de compositores e direcionaram os pagamentos para si. Resultado? Investigação policial, prisões e um prejuízo estimado em milhões.
As plataformas precisam assumir a responsabilidade de proteger os catálogos de seus artistas. É preciso haver validação de titularidade, controle de metadados, algum tipo de verificação com o artista original antes de aceitar um novo lançamento em seu perfil, ainda mais quando se trata de uma nova distribuidora que nunca havia trabalhado conteúdos daquele artista aparecer entregando o tal conteúdo.
Atualmente, o que temos é uma situação em que o artista só descobre a invasão depois que ela acontece. Ele precisa correr atrás, notificar a plataforma, e esperar por tempo indeterminado para que algo seja feito. Tudo isso enquanto a obra falsa segue no ar, acumulando reproduções e capitalizando em cima do nome de quem não tem nada a ver com aquilo.
A questão que fica é: isso é um erro do sistema das plataformas ou mera omissão? Pois esse problema, já conhecido, é o que abre espaço para oportunistas armarem esse novo tipo de golpe digital. O da IA com rosto de artista consagrado. O da faixa genérica travestida de clássico perdido. O do você não pediu, mas te colocaram lá.
Protejam seus artistas. Protejam sua própria integridade. E, por favor, não deixem que a história de bandas como a Screaming Trees seja reescrita por um algoritmo faminto por monetização.

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