Spotify Wrapped 2025 quebra recordes e a Riyadh Music Week mostra o futuro da indústria da música
Com 200 milhões de usuários em 24 horas e a construção de um polo musical em Riad, a disputa agora é por dados, atenção e poder de decisão na indústria da música

Quando o Spotify divulgou o Wrapped 2025, não foi só mais uma “brincadeira de fim de ano”. Em 24 horas, mais de 200 milhões de pessoas interagiram com a experiência, um crescimento de 19% em relação ao ano anterior.
Os compartilhamentos explodiram: cerca de 500 milhões de posts, prints e stories tomaram conta das redes, impulsionando ainda mais o tráfego para a plataforma.
Por trás dessa festa de dados personalizados, há um recado claro: o consumo de música migrou de um ato pontual para um fluxo contínuo e íntimo. O usuário sente que está no comando, mas quem organiza o tabuleiro são as plataformas, os algoritmos e os grandes players da cadeia musical.
Wrapped: ritual de afeto ou máquina de retenção?
O Wrapped virou um ritual anual de validação. O fã descobre que está no “top 0,5%” de um artista, celebra sua “idade de escuta”, compara playlists com amigos e transforma seu gosto musical em identidade social.
Mas há um outro lado:
- Cada tela “fofa” do Wrapped é resultado de um ano inteiro de coleta e organização de dados extremamente detalhados sobre o comportamento de escuta.
- A plataforma transforma essa informação em engajamento, assinatura e tempo de uso, o que se converte em vantagem competitiva e maior poder de barganha na indústria.
O resumo é desconfortável para quem vive de música: o Wrapped mostra o quanto a escuta virou hábito permanente, emocional e personalizado, mas também reforça o quanto o valor desse hábito está concentrado em poucas empresas globais. A pergunta que começa a incomodar artistas, selos e gestores é simples: essa captura de valor está sendo distribuída de forma justa?
Enquanto isso, em Riyadh, discute-se a 'infraestrutura' da música

Longe dos holofotes das redes sociais, outro movimento ajuda a entender para onde o mercado está indo. As conferências Riyadh Music Week e XP Music Futures, na Arábia Saudita, foram desenhadas justamente para discutir a “infraestrutura” da indústria musical.
Estamos falando de escritório de direitos autorais funcionando, acordos de licenciamento claros, políticas públicas que incentivam exportação e conferências que conectam artistas locais com players globais.
O recado é pragmático:
- A música está sendo tratada como uma economia de consumo em larga escala, não só como expressão cultural.
- Governos e comissões de música na região MENA (Oriente Médio e Norte da África) estão investindo pesado em eventos, conferências e políticas públicas para estruturar um ecossistema competitivo, com foco em exportação e fortalecimento de empresas locais.
- Painéis discutem temas como “direitos, receitas e representação”, IA aplicada à música e modelos de remuneração capazes de sustentar artistas e empresas independentes no longo prazo.
Enquanto boa parte da discussão pública se concentra em “quem foi meu artista número 1 no Wrapped”, há uma elite de decisores negociando marcos regulatórios, regras de licenciamento e governança de dados que vão definir quanto dinheiro realmente chega na ponta criativa.
O que isso sinaliza para artistas e selos da América Latina
Sem as plataformas de streaming, milhões de artistas jamais teriam saído do gueto regional ou do círculo de amigos. O problema não é o modelo digital em si, que abriu portas reais, mas o desequilíbrio de poder entre quem controla os dados, quem define as regras de pagamento e quem cria a música.
Se você é artista, produtor ou gestor de carreira, ignorar esse cenário é caro. Alguns pontos incômodos:
- Dados viraram ativo estratégico
O Wrapped é só a parte visível. O que importa mesmo é a inteligência que essas plataformas constroem em cima do comportamento de escuta. Quem não entende minimamente de dados, métricas e funil de atenção tende a virar refém do algoritmo.
- A disputa não é mais só por plays, é por governança
Riad está se apresentando como um hub emergente da música global, oferecendo conferências, políticas públicas e infraestrutura para atrair empresas e profissionais.
Quem chega primeiro ajuda a definir regras, convênios e formatos de remuneração. Quem chega tarde apenas se adapta.
- Modelo “sempre ligado” exige estratégia de longo prazo
Se o consumo virou contínuo e íntimo, o artista que pensa apenas em “empurrar single” sem construir comunidade, narrativa e marca própria tende a se perder na rotação infinita de novidades. A plataforma ganha com qualquer conteúdo; o artista só ganha quando há vínculo real com seu público.
- Justiça na distribuição de valor não vai cair do céu
Conferências sobre “direitos, receitas e representação” existem porque há conflito de interesses real entre plataformas, majors, agregadoras, editoras e artistas.
Sem organização coletiva, pressão pública e negociação bem informada, a lógica natural é de concentração de renda em catálogos gigantes e em poucos intermediários, enquanto a maioria dos artistas disputa as sobras do pro-rata.
A pergunta que fica
O Wrapped faz você se sentir protagonista da própria trilha sonora. A Riyadh Music Week tenta redesenhar a arquitetura de poder por trás dessa trilha. Entre uma coisa e outra, está o ponto cego de grande parte da classe artística: quem controla os dados, as regras de remuneração e a narrativa sobre o “futuro da música”.
Se artistas, selos independentes e gestores da América Latina não entrarem nesse debate com informação, estratégia e postura crítica, vão participar do espetáculo apenas como número bonito nas telas do Wrapped.
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