Logo R7.com
RecordPlus

Spotify Wrapped 2025 quebra recordes e a Riyadh Music Week mostra o futuro da indústria da música

Com 200 milhões de usuários em 24 horas e a construção de um polo musical em Riad, a disputa agora é por dados, atenção e poder de decisão na indústria da música

Musikorama|Rodrigo d’SalesOpens in new window

  • Google News
Bad Bunny domina o streaming: pela quarta vez, é o artista mais ouvido do mundo no Spotify, ultrapassando 19,8 bilhões de plays em 2025 Reprodução/Instagram/@spotify

Quando o Spotify divulgou o Wrapped 2025, não foi só mais uma “brincadeira de fim de ano”. Em 24 horas, mais de 200 milhões de pessoas interagiram com a experiência, um crescimento de 19% em relação ao ano anterior.

Os compartilhamentos explodiram: cerca de 500 milhões de posts, prints e stories tomaram conta das redes, impulsionando ainda mais o tráfego para a plataforma.


Por trás dessa festa de dados personalizados, há um recado claro: o consumo de música migrou de um ato pontual para um fluxo contínuo e íntimo. O usuário sente que está no comando, mas quem organiza o tabuleiro são as plataformas, os algoritmos e os grandes players da cadeia musical.

Wrapped: ritual de afeto ou máquina de retenção?

O Wrapped virou um ritual anual de validação. O fã descobre que está no “top 0,5%” de um artista, celebra sua “idade de escuta”, compara playlists com amigos e transforma seu gosto musical em identidade social.


Mas há um outro lado:

  • Cada tela “fofa” do Wrapped é resultado de um ano inteiro de coleta e organização de dados extremamente detalhados sobre o comportamento de escuta.

  • A plataforma transforma essa informação em engajamento, assinatura e tempo de uso, o que se converte em vantagem competitiva e maior poder de barganha na indústria.

O resumo é desconfortável para quem vive de música: o Wrapped mostra o quanto a escuta virou hábito permanente, emocional e personalizado, mas também reforça o quanto o valor desse hábito está concentrado em poucas empresas globais. A pergunta que começa a incomodar artistas, selos e gestores é simples: essa captura de valor está sendo distribuída de forma justa?


Enquanto isso, em Riyadh, discute-se a 'infraestrutura' da música

Durante a Riyadh Music Week, artistas, executivos e criadores do mundo todo se reuniram para discutir como cultura, comunidade e o futuro da música estão sendo desenhados, ideia por ideia. Reprodução/Instagram/@riyadhmusicweek

Longe dos holofotes das redes sociais, outro movimento ajuda a entender para onde o mercado está indo. As conferências Riyadh Music Week e XP Music Futures, na Arábia Saudita, foram desenhadas justamente para discutir a “infraestrutura” da indústria musical.

Estamos falando de escritório de direitos autorais funcionando, acordos de licenciamento claros, políticas públicas que incentivam exportação e conferências que conectam artistas locais com players globais.

O recado é pragmático:

  • A música está sendo tratada como uma economia de consumo em larga escala, não só como expressão cultural.
  • Governos e comissões de música na região MENA (Oriente Médio e Norte da África) estão investindo pesado em eventos, conferências e políticas públicas para estruturar um ecossistema competitivo, com foco em exportação e fortalecimento de empresas locais.
  • Painéis discutem temas como “direitos, receitas e representação”, IA aplicada à música e modelos de remuneração capazes de sustentar artistas e empresas independentes no longo prazo.

Enquanto boa parte da discussão pública se concentra em “quem foi meu artista número 1 no Wrapped”, há uma elite de decisores negociando marcos regulatórios, regras de licenciamento e governança de dados que vão definir quanto dinheiro realmente chega na ponta criativa.

O que isso sinaliza para artistas e selos da América Latina

Sem as plataformas de streaming, milhões de artistas jamais teriam saído do gueto regional ou do círculo de amigos. O problema não é o modelo digital em si, que abriu portas reais, mas o desequilíbrio de poder entre quem controla os dados, quem define as regras de pagamento e quem cria a música.

Se você é artista, produtor ou gestor de carreira, ignorar esse cenário é caro. Alguns pontos incômodos:

  1. Dados viraram ativo estratégico

O Wrapped é só a parte visível. O que importa mesmo é a inteligência que essas plataformas constroem em cima do comportamento de escuta. Quem não entende minimamente de dados, métricas e funil de atenção tende a virar refém do algoritmo.

  1. A disputa não é mais só por plays, é por governança

Riad está se apresentando como um hub emergente da música global, oferecendo conferências, políticas públicas e infraestrutura para atrair empresas e profissionais.

Quem chega primeiro ajuda a definir regras, convênios e formatos de remuneração. Quem chega tarde apenas se adapta.

  1. Modelo “sempre ligado” exige estratégia de longo prazo

Se o consumo virou contínuo e íntimo, o artista que pensa apenas em “empurrar single” sem construir comunidade, narrativa e marca própria tende a se perder na rotação infinita de novidades. A plataforma ganha com qualquer conteúdo; o artista só ganha quando há vínculo real com seu público.

  1. Justiça na distribuição de valor não vai cair do céu

Conferências sobre “direitos, receitas e representação” existem porque há conflito de interesses real entre plataformas, majors, agregadoras, editoras e artistas.

Sem organização coletiva, pressão pública e negociação bem informada, a lógica natural é de concentração de renda em catálogos gigantes e em poucos intermediários, enquanto a maioria dos artistas disputa as sobras do pro-rata.

A pergunta que fica

O Wrapped faz você se sentir protagonista da própria trilha sonora. A Riyadh Music Week tenta redesenhar a arquitetura de poder por trás dessa trilha. Entre uma coisa e outra, está o ponto cego de grande parte da classe artística: quem controla os dados, as regras de remuneração e a narrativa sobre o “futuro da música”.

Se artistas, selos independentes e gestores da América Latina não entrarem nesse debate com informação, estratégia e postura crítica, vão participar do espetáculo apenas como número bonito nas telas do Wrapped.

Para ficar por dentro de críticas e artigos sobre o mercado da música, nos siga nas redes sociais: @musikoramamusic|@digaomusik

Para saber tudo do mundo dos famosos, siga o canal de entretenimento do R7, o portal de notícias da Record, no WhatsApp

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

Últimas


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com oAviso de Privacidade.