Tarifaço e sanções de Trump podem travar bilhões em royalties musicais no Brasil
Além das tarifas sobre produtos, a possível exclusão do Brasil do sistema SWIFT pode travar royalties, enfraquecer parcerias internacionais e frear a projeção global da música nacional
LEIA AQUI O RESUMO DA NOTÍCIA
Produzido pela Ri7a - a Inteligência Artificial do R7

O SWIFT (Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication) é o principal sistema global de mensagens bancárias para transações internacionais. Ele conecta mais de 11,5 mil bancos em cerca de 200 países, permitindo que distribuidoras de música repassem royalties de plataformas de streaming as gravadoras e artistas brasileiros via transferências internacionais.
Se a sanção de exclusão do Brasil do SWIFT se concretizar, os impactos seriam imediatos e graves. Além de interromper pagamentos internacionais, haveria desorganização do comércio exterior, fuga de capitais e pressão inflacionária. No setor musical, isso significa que os royalties de streaming não chegariam ao país. Só em 2024, artistas brasileiros receberam cerca de R$ 1,6 bilhão em royalties do Spotify. Sem o SWIFT, essas transferências ficariam bloqueadas ou severamente atrasadas.
A Merlin Network – agência global de direitos digitais de distribuidoras independentes – projetava dezenas de milhões de dólares vindos da América Latina, com o Brasil como 6º maior mercado. Sem acesso ao sistema, distribuidoras como Believe Music, The Orchard, ONErpm, Alta Fonte, CD Baby e outras da rede Merlin teriam dificuldade prática de enviar recursos para o Brasil. Isso comprometeria a liquidez de gravadoras, selos e editoras, atrasando pagamentos a artistas, produtores e equipes, podendo inclusive cancelar lançamentos por falta de verba. Em outras palavras, finanças bloqueadas significam menos produção, menos shows e menos música circulando.

Nesse cenário, o bloqueio de royalties travaria parte fundamental da engrenagem da indústria musical. Para manter compromissos locais, gravadoras poderiam ser obrigadas a buscar empréstimos em dólar ou renegociar contratos, com operações encarecidas pelo câmbio em alta. O resultado inevitável seria a redução de investimentos em novos projetos: distribuidoras internacionais postergariam lançamentos brasileiros e gravadoras nacionais cortariam orçamentos de produção, o que levaria a uma queda significativa no volume de álbuns.
Ainda que existam alternativas ao SWIFT, nenhuma delas oferece a mesma capilaridade. O Brasil poderia recorrer a acordos bilaterais em moedas locais, ao CIPS chinês, ao SPFS russo ou até ao futuro BRICS Pay, planejado como um “Pix internacional” entre países do bloco. A experiência russa mostra, no entanto, que esses sistemas tornam as transações mais caras e lentas. Há quem veja nas blockchains e nas stablecoins uma saída para o futuro, mas a substituição do SWIFT, pelo menos no curto prazo, é inviável.
As consequências também seriam sentidas no campo artístico e cultural. Gravadoras estrangeiras tenderiam a hesitar em fechar negócios com o Brasil diante da incerteza sobre a repatriação de lucros. Projetos colaborativos, como remixes e feats, provavelmente seriam adiados. Turnês internacionais de artistas brasileiros ficariam mais caras e complexas, com custos logísticos em dólar pressionados e possível retração de vistos e patrocínios em um cenário de instabilidade política. O intercâmbio cultural, que alimenta a projeção global da música brasileira, perderia força.

Além do risco financeiro, a indústria musical também enfrenta o impacto comercial do tarifaço anunciado por Donald Trump, com a imposição de até 50% sobre produtos brasileiros. A ANAFIMA (Associação Nacional da Indústria da Música) alerta que a medida pode inviabilizar até 70% das exportações de instrumentos nacionais, segundo o presidente da entidade, Daniel Neves. Um terço dessas exportações tem como destino os Estados Unidos e, com tarifas elevadas, esse mercado pode praticamente desaparecer, resultando em sobra de estoque e fechamento de fábricas. O setor de equipamentos de áudio seria ainda mais afetado: até 75% das exportações, incluindo alto-falantes e mesas de som, podem ser inviabilizadas, com corte estimado de 10% dos empregos.
Esse cenário teria efeito cascata. Embora o tarifaço não atinja diretamente o streaming digital, seu impacto macroeconômico – câmbio pressionado, inflação e incerteza – acabaria reduzindo investimentos em shows, estúdios, gravações e lançamentos.
Em síntese, o conjunto de sanções financeiras e comerciais ameaça royalties, investimentos, empregos e a projeção internacional da música brasileira. Apesar disso, o próprio SWIFT já afirmou não aceitar sanções arbitrárias de apenas um país, e especialistas do mercado consideram remota a possibilidade de o Brasil ser efetivamente excluído. Ainda assim, o debate evidencia a vulnerabilidade estrutural da indústria diante de choques externos e a necessidade urgente de diversificar suas rotas financeiras e comerciais.
✅Para saber tudo do mundo dos famosos, siga o canal de entretenimento do R7, o portal de notícias da Record, no WhatsApp