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Gravadora que brigou com IA nos tribunais agora quer lucrar com ela; entenda

Depois de contestar treinos sem licença, a empresa anuncia aliança com a Stability AI para lançar ferramentas de criação musical baseadas em catálogos autorizados

Musikorama|Rodrigo d’SalesOpens in new window

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Universal Music prefere negociar com a IA a repetir o erro de combater uma revolução tecnológica Inteligência artificial/ChatGPT

A Universal Music Group virou a chave. Recentemente a companhia anunciou uma aliança com a Stability AI para cocriar ferramentas profissionais de composição e produção musical, com modelos treinados apenas em catálogos autorizados e foco em uso profissional. A comunicação fala em participação direta de artistas e compositores no desenho e nos testes, com soluções desenhadas para reduzir risco jurídico no uso comercial.

Um dia antes, outra peça entrou no tabuleiro: a Universal encerrou a disputa com a Udio — litígio derivado das queixas da indústria contra treinos com obras protegidas — e firmou um arranjo que inclui compensação financeira, novos contratos de licenciamento e o desenvolvimento de um serviço que une criação musical e streaming numa mesma plataforma, com previsão de lançamento em 2026, além de medidas técnicas para manter as criações dentro de um ambiente licenciado.


O movimento por trás do discurso

Contexto econômico

Com o crescimento do streaming desacelerando, as majors precisam encontrar novas frentes de receita. Em vez de tratar a IA apenas como ameaça jurídica, a UMG passa a enxergar o treino de modelos e as ferramentas de geração como um novo produto: vender acesso ao catálogo, vender infraestrutura e capturar uma parte da renda criada por essas tecnologias.


Estratégia jurídica e de poder

A lógica é simples: em vez de brigar caso a caso com startups de IA, a gravadora puxa essas empresas para dentro do seu perímetro contratual. Os acordos transformam o uso do catálogo em algo formalizado, com licença, preço e condições definidos pela própria Universal. Na prática, ela troca a incerteza dos processos por contratos que reforçam seu lugar na mesa onde se decide como a IA musical vai operar e quem ganha quanto nesse arranjo.


O que muda, na prática, para artistas

  • Novo tipo de receita possível: O acordo pode abrir uma nova linha de remuneração, dependendo de como forem estruturados os contratos e os critérios de repasse, para artistas e compositores que tiveram parte de suas obras utilizadas na geração do conteúdo pela IA.
  • Convites para testes e pilotos: O anúncio com a Stability fala em desenvolver ferramentas ao lado de artistas e produtores. Na prática, isso significa que alguns nomes do elenco da gravadora devem ser chamados para testar versões beta e sugerir funções. É fácil imaginar isso virando uma função específica, como já aconteceu com compositores de trilhas sob encomenda ou de presets para VSTs: gente paga para testar, ajustar e dizer se a IA está soando bem para uso profissional.

Ainda resta a dúvida sobre como essas receitas serão tratadas nos contratos: se entrarão como novas fontes diretas de pagamento ao artista ou se servirão apenas para amortizar saldos de recoup existentes.

A contradição aparente e o risco de concentração

A situação incomoda: quem antes brigava contra o uso da IA sem autorização, agora ganha influência desproporcional sobre os parâmetros do que é considerado uso ‘autorizado’ em IA musical. É uma estratégia que faz sentido para o negócio, mas acaba concentrando poder em quem tem grandes catálogos e times jurídicos fortes. Se o acesso a esses dados mais valiosos ficar preso em acordos entre gigantes, artistas independentes e startups vão trabalhar com muito menos material e com custos altos para seguir todas as regras.


Sinais para monitorar

  • Regras claras de autorização: O público precisa entender quando uma música pode ou não entrar no “cardápio” da IA e se o artista pode dizer sim ou não para cada obra.
  • Como o dinheiro é dividido: É importante que existam critérios simples e auditáveis para mostrar quanto cada catálogo recebe quando a IA é usada.
  • O que a Udio vai entregar em 2026: Vale observar como a parte de criação com IA vai conversar com o streaming e que tipo de trava vai impedir cópias óbvias de músicas já conhecidas.
  • Ferramentas abertas ou fechadas: Quanto mais essas soluções conversarem com programas de estúdio e com outras plataformas, maior a chance de competição. Se tudo ficar trancado dentro do ambiente da Universal, o poder se concentra.

Conclusão

A Universal Music Group tenta converter contencioso em governança. Se as novas ferramentas vierem com base técnica confiável, consentimento explícito e critérios transparentes de divisão de valor, o setor pode ganhar previsibilidade e novas formas legítimas de monetização. Mas se essas soluções nascerem fechadas, com cláusulas genéricas e métricas opacas, o risco é apenas trocar o medo de processo por uma nova dependência de plataforma — e o artista continuará sem saber quanto, como e por que está, ou não, sendo pago.

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Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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