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A música que Elvis fez tem muita importância e impacta qualquer um que a ouvir, diz biógrafo do cantor

Peter Guralnick revela segredos sobre Presley e conta que está escrevendo um livro sobre o empresário Coronel Parker

Odair Braz Jr|Do R7

Para biógrafo, obra de Elvis Presley continua altamente relevante
Para biógrafo, obra de Elvis Presley continua altamente relevante Para biógrafo, obra de Elvis Presley continua altamente relevante

Elvis é aquele cara que revolucionou a música e o comportamento jovem na metade do século 20 e se transformou num superastro do rock e do cinema, certo? Certo, mas muita gente nem sabe mais disso, enquanto outras pessoas estão num movimento de negar toda essa relevância e talento. Afinal, em agosto completam-se 45 anos da morte do cantor e manter seu legado vivo e saudável não é tarefa fácil.

Assim, de tempos em tempos parece acontecer um certo resgate da imagem de Elvis. É o que estamos vendo agora com o lançamento de uma cinebiografia — estreia em 14 de julho no Brasil — dirigida por Baz Luhrmann (o mesmo de Moulin Rouge) e que é um dos filmes mais aguardados do verão americano. Vem por aí também a trilha sonora desse longa com artistas do momento, como Maneskin e Doja Cat, recriando hits presleyanos, entre outras surpresas. Uma delas, aliás, é o lançamento no Brasil de Último Trem para Memphis, biografia definitiva do cantor americano que acaba de chegar às livrarias aproveitando o embalo do filme.

O ator Austin Butler é Elvis Presley no filme, que estreia em julho no Brasil
O ator Austin Butler é Elvis Presley no filme, que estreia em julho no Brasil O ator Austin Butler é Elvis Presley no filme, que estreia em julho no Brasil

O livro, o primeiro de dois volumes, mostra Elvis desde seu nascimento até o ano de 1958, quando vai servir o Exército dos Estados Unidos. Escrito por Peter Guralnick e lançado originalmente em 1994, é a primeira vez que sai no país e tem uma riqueza de detalhes inacreditável. Guralnick fez o que ninguém nunca havia feito e, após centenas de entrevistas, conseguiu mostrar o Elvis ser humano, e não a figura lendária retratada em tantas outras obras sobre sua vida. Com seu livro, lá na metade dos anos 1990, o escritor — um dos mais notáveis dos Estados Unidos quando o assunto é música — ousou lançar essa bio sobre Elvis quando não era muito cool falar dele. De certo modo, Guralnick resgatou a imagem de Presley quando ela não estava muito bem das pernas, por assim dizer, mais ou menos como acontece agora, 45 anos depois de sua morte.

Ele sempre foi um artista totalmente autodeterminado%2C criativo cujo trabalho surgiu de sua própria paixão pela música

Guralnick conversou com absolutamente todas as pessoas que conviveram com Elvis — ex-mulher, empresário, músicos, amigos, ex-namoradas, funcionários, parentes etc. — e recriou passo a passo a vida do cantor. Então, não é exagero nenhum afirmar que o escritor é uma das pessoas que mais conhecem a história de Presley no planeta. “Levei 11 anos para escrever os dois livros. Comecei em janeiro de 1988 e terminei o segundo em 1999. Fiz centenas de entrevistas, não consigo dar um número exato, e com algumas pessoas, como Sam Phillips [dono da Sun Records, a primeira gravadora de Elvis] e Scotty Moore [guitarrista do cantor], conversei várias vezes”, diz Guralnick em entrevista à coluna.

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Peter, como ele pediu para ser chamado durante nosso bate-papo, é apaixonado por blues desde os 15 anos e desde muito jovem escreve sobre música em publicações importantes, como a revista Rolling Stone, por exemplo. Além de escrever grandes artigos, lançou a biografia de cantores como Sam Cooke e Robert Johnson, do empresário Sam Phillips e prepara agora uma biografia sobre o Coronel Parker, o polêmico empresário de Elvis Presley. “Vou começar a escrever agora, e o livro deve ser lançado dentro de dois anos”, revela o escritor.

Peter se interessou por Elvis a partir do blues e escreveu sobre o astro quando ninguém estava lhe dando muita bola. “Eu comecei escrevendo sobre música em jornais alternativos semanais, por volta de 1967, 1968. Fazia textos sobre blues, mas, acima de tudo, escrevia sobre aquilo de que eu gostava. Aí, escrevi sobre Elvis em 1967, quando não era muito legal falar sobre ele [que estava um tanto quanto desacreditado por conta de filmes ruins e trilhas sonoras medíocres]. Escrevi sobre os três singles que ele lançou naquela época: Guitar Man, U.S. Male e Big Boss Man, que, basicamente, são blues. Mostrei a empolgação que havia ao vê-lo voltar às suas raízes. Em 1968, escrevi sobre o especial de TV, que me nocauteou. Em 1969, fiz um texto sobre o álbum Elvis in Memphis para a Rolling Stone e outro para a Rolling Stone Illustrated History of Rock and Roll”, conta o autor.

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Peter Guralnick durante entrevista ao R7
Peter Guralnick durante entrevista ao R7 Peter Guralnick durante entrevista ao R7

A partir desses primeiros textos sobre Elvis, Peter teve um interesse cada vez maior e começou a ter acesso a materiais importantes sobre o cantor. Em 1987, dez anos após a morte do ídolo americano, o escritor diz que tomou conhecimento de entrevistas de Elvis feitas em 1955, 1956, 1960 e 1962. Era uma época em que não havia internet e esse tipo de material não estava acessível para todo mundo. “Ouvindo essas entrevistas, pensei ‘bom, Elvis pode falar por si mesmo’. Nesse material, ele falava — de maneira muito eloquente — sobre sua música, suas inspirações, dava várias outras declarações, inclusive sobre Big Boy Crudup [bluesman que Presley regravou]”. Peter Guralnick percebeu então que poderia dar um tratamento diferente à vida e à obra de Elvis: “Eu não queria escrever sobre o mito, sobre o que todos escreviam. Eu queria trazer a pessoa real e também o que havia inspirado sua música. Foi o que me propus a fazer”.

O resultado do trabalho de Peter é o que se vê em Último Trem para Memphis — lançamento da editora Belas Letras — e na sua continuação, Careless Love: The Unmaking of Elvis Presley, que está em negociação pela editora e deve ser publicado por aqui em 2023.

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Na entrevista, que durou cerca de uma hora, Peter falou muito sobre Elvis Presley e o mundo que o cercava. Durante a conversa, o autor citou dezenas de nomes, datas, pessoas e lugares sempre com muita precisão, tudo de cabeça. Falou sobre a importância da obra do cantor, revelou histórias curiosas e deu detalhes sobre a feitura de seus livros. Acompanhe:

Por que decidiu escrever um livro sobre Elvis?

Bem, minha paixão original é o blues. Com 15, 16 anos eu entrei no blues — não posso lhe dar nenhuma razão para isso —, mas isso vale também para outros tipos de música sobre os quais vim a escrever, como country, soul, gospel... E também aconteceu com Elvis. Eu certamente tinha conhecimento de seus discos mais populares, mas foi só depois de me apaixonar por blues que fui conhecer seus discos A Date with Elvis e For LPs Fans Only, que tinham faixas da época da Sun Records, como Mystery Train, That’s All Right... Eu nunca tinha ouvido essas antes. E aí eu ouvi Elvis cantando-as e aquilo me pegou e me fez entender a arte em sua música.

Por que não era legal escrever sobre Elvis ali pelo meio dos anos 60?

Acho que por causa dos filmes e trilhas sonoras ruins, mas eu não me importava com o que era cool ou não. O ponto é que, quando eu escrevia sobre Muddy Waters, Howlin’ Wolf, Bo Didley e até mesmo sobre Jerry Lee Lewis, eles tinham mais popularidade, mas com Elvis as pessoas o viam em filmes como Canções e Confusões, Feriado no Harém... Ele, nessa época, não era mais alguém de quem as pessoas iam atrás.

Quais entrevistados seus considera os mais interessantes?

Bom, eu nunca entrevistei Elvis, mas eu diria Sam Phillips, Solomon Burke [cantor]... Eu diria também Jerry Lee Lewis, não muito pelas entrevistas, mas é que ele é uma pessoa brilhante e sua música é tão expressiva, tão explosiva... A primeira vez que o entrevistei foi em 1970 e a mais recente foi dois anos atrás. Howlin' Wolf também foi ótimo. Mas [posso citar] Sam Phillips e Solomon Burke, em termos de entrevistas brilhantes.

Você gostava de Elvis quando era garoto?

Inicialmente não foram os hits populares de Elvis [que me pegaram]. Eu conhecia todas as canções que viraram hits, elas estavam ao meu redor. Eu tinha 12 anos quando Heartbreak Hotel saiu e quando os primeiros hits foram lançados. Quando Hound Dog saiu. Mas eu tinha 15 ou 16 anos quando me apaixonei pelo blues. E isso [o amor pelo blues] me fez perceber quão profundas eram as raízes de Elvis. John Lennon tem aquela frase famosa de que Elvis morreu quando foi para o Exército, mas para mim as melhores sessões de gravação dele aconteceram justamente quando saiu do Exército [1960]. Eu jamais tiraria dessa conta as Sun Sessions [1954, 1955], porque aquilo é simplesmente mágico. Mas as grandes sessões foram as do disco Elvis Is Back!.

Livro de Guralnick é editado pela primeira vez no Brasil
Livro de Guralnick é editado pela primeira vez no Brasil Livro de Guralnick é editado pela primeira vez no Brasil

Por que acha isso?

Ele voltou [do Exército] com muita ambição, queria abarcar um espectro muito grande de músicas. Além disso, ele estava com um grande controle sobre sua voz, que tratou de expandir enquanto estava no Exército, na Alemanha. Então, quando conheci Elvis, com Don’t Be Cruel, Too Much etc..., eu não tinha conhecimento desse outro lado dele. Mas, mais e mais, as baladas que ele fez com Don Robertson, ou Doc Pomus... Uma música como I Need Somebody to Lean On, do filme Viva Las Vegas [Amor a Toda Velocidade, no Brasil], para mim, é uma música cantada lindamente. É uma música extremamente bem interpretada. E se você o vir também cantando If I Can Dream, do especial de 1968, e vir a paixão e dedicação que ele coloca na música, a emoção com que canta... Então, desde o começo, e isso é a parte central de Último Trem para Memphis, ele sempre foi um artista totalmente autodeterminado, criativo, cujo trabalho surgiu de sua paixão pela música... Ele era alguém que queria se expressar com música e conseguiu isso.

O Coronel nota que Elvis é um tipo de talento que não dá para ser contido

Você chegou a ver algum show de Elvis?

Sim, eu o vi em Boston, em 1971. Ele havia voltado a fazer turnês longas e estava muito entusiasmado... Quer dizer, eu aprendi escrevendo o livro quão entusiasmado ele estava naquele momento. Anos mais tarde, ele não estava mais assim, mas nessa época ele estava totalmente envolvido [com os shows]. E, para mim, foi um evento empolgante: ele fazia os golpes de caratê, e não era nada falso ou fingido. E cada pessoa que estava indo ao show... Você se sentia como se fosse parte de uma família. Eu nunca tinha me sentido daquele jeito antes. Era como se eu fosse parte dessa família que tinha um interesse em comum. E era muito empolgante vê-lo, era arrepiante ouvi-lo cantar How Time Slips Away, ver James Burton [guitarrista] tocando. E depois ele soltava um "got go now" e as pessoas gritavam "nããããooo".

De qual fase de Elvis você mais gosta?

Pra mim há várias fases diferentes. Tem os anos da Sun Records [começo da carreira], que são quase sem paralelo. E quanto à música que ele estava fazendo... Eu desafio qualquer um a dizer que era esse ou aquele tipo de música. Não é nenhum tipo de música, é a música do Elvis. Não é só rock'n'roll. É folk music, é rock'n'roll, rhythm and blues. Alguns dizem que [essa fase] é o nascimento do rock'n'roll, outros dizem que é apropriação cultural. Só que é totalmente original, é o que é. É o que você ouve. É como eu disse: nos dois ou três anos depois que ele voltou do Exército, quando fez seu primeiro álbum gospel, quando fez Elvis Is Back!, quando se tornou muito mais um intérprete como nunca havia sido antes... Esse é o meu período favorito. E, então, há o período de 1967 a 1969, quando ele soltou aqueles singles U.S. Male, Guitar Man, Big Boss Man, e também teve o especial de TV, as gravações feitas em Memphis... Para mim, esse é um período incrível. É como uma renascença. Então, esses são períodos-chave para mim.

Você conheceu e entrevistou o Coronel Parker — empresário de Elvis — várias vezes. Que tipo de pessoa ele era? Divertido, engraçado, mal-humorado?

Ele nasceu na Holanda e veio para este país [Estados Unidos] três vezes, na verdade. E ele viveu aqui sem ninguém saber que era holandês, todos pensavam que fosse americano. Aliás, estou escrevendo um livro sobre o Coronel Parker. 75% do livro é em suas próprias palavras, porque é feito através das cartas que ele escreveu. Não são cartas para mim, as cartas para mim são incríveis. As cartas que ele escreveu são muito eloquentes, inteligentes, divertidas e, ocasionalmente, vulneráveis. Mas as cartas que ele escreveu para Elvis são absolutamente fantásticas em termos de sua identificação e amor que tinha por Elvis. Era um amor compartilhado [por ambos]. E uma imagem que todos tinham dele, até 1961, 1962, ele era quase que universalmente admirado na indústria [do entretenimento]. Escreviam sobre como era um personagem importante, além de inteligente, habilidoso e cheio de recursos. Obviamente, essa não foi a reputação que ele teve anos mais tarde. Essa reputação mudou — e essa é uma teoria minha, pode ou não ser verdade — porque Elvis mudou. Elvis se tornou mais e mais descontente, não só com o Coronel, mas a vida de Elvis havia mudado consideravelmente. O que eu quero fazer, nesse livro, é revelar o que estava acontecendo nos bastidores por meio das cartas do Coronel. E eu não estou tentando ser um defensor do Coronel, mas acho que as pessoas vão ficar maravilhadas ao descobrir quão diferente ele era de sua imagem.

O Coronel é uma pessoa muito vilanizada ao longo da história. Você não acredita que ele era um vilão, não é?

Não, não acho. E uma coisa que eu quero dizer, se você se lembra de Último Trem para Memphis, quando o Coronel conhece Elvis... O Coronel ouve sobre Elvis no começo de 1955. Acho que em 20 de janeiro de 1955 ele vai vê-lo no Hayride [Louisiana Hayride, programa de rádio de música country], e uma semana depois ele [Coronel] desenvolve uma turnê para Elvis, e em seis meses nota que Elvis é um tipo de talento que não dá para ser contido. Mas o ponto ao qual quero chegar é que o Coronel viu em Elvis um potencial sem paralelo, e não apenas para ganhar dinheiro. O Coronel o viu como um talento sem paralelo. E foi assim que ele começou a falar às pessoas sobre Elvis. E a vendê-lo, e as pessoas não queriam comprá-lo. Mas, nessa relação dos dois, o Coronel é que era a superestrela. O Coronel, antes de Elvis, era o empresário de Eddy Arnold, que foi a maior estrela da country music até o surgimento de Garth Brooks. Ele foi também o empresário de Hank Snow, que era o cantor número 1 da country music quando o Coronel conheceu Elvis.

Elvis estava completamente perdido em 77 e acho que ele não conseguia fazer o que pretendia

Você acha que Elvis buscou ser empresariado por Parker?

Elvis queria mais do que tudo encontrar uma plataforma nacional e não queria continuar na Sun Records, não importa o que eu ou você pensemos sobre isso. Ele viu que a Sun não tinha distribuição nacional e o Coronel estava lhe oferecendo uma passagem para um público maior, um público nacional. Então, ele viu, a partir de seu ponto de vista, que o interesse do Coronel nele era a grande sorte que ele poderia ter. Você vai se lembrar de que, quando ele assina o contrato com a RCA, ele escreve ao Coronel "Eu te amo como um pai. Você tem sido o melhor para mim". E eu estou com todas as cartas que eles trocaram. Eles compartilhavam muitas piadas [nessas cartas], como quando Elvis chama o Coronel de Almirante, e não de Coronel. Era esse tipo de piada que eles faziam entre eles.

Elvis estava prestes a demitir o Coronel em 1977, como muita gente diz?

Não. Acho que Elvis estava completamente perdido em 1977 e acho que ele não conseguia fazer o que pretendia. Ele estava sofrendo de uma depressão profunda já havia anos, e não quero posar de psiquiatra ou psicólogo aqui, mas você pode olhar o seu tipo de comportamento. As pessoas vêm me falar das drogas, pílulas etc., e essas coisas são apenas os sintomas, não são a causa. Mas o fato é que ele demitiu o Coronel em agosto de 1973, no fim da temporada em Las Vegas. E eles foram e voltaram, foram e voltaram. E quando Elvis o demitiu o Coronel disse "Você não pode me demitir, eu é que me demito". E eu tenho cartas sobre isso também, cartas que iam e voltavam várias vezes. E, no final, se você perguntar minha opinião, se Elvis fosse mais direto na época, se ele tivesse um senso maior sobre o que queria fazer, ele poderia muito bem estabelecer seu caminho dali em diante. A parceria dos dois, como muitos casamentos, já havia ido muito longe naquele ponto. E, já com dez anos de relacionamento, Elvis deveria ter dito "Eu e você estamos em lugares diferentes agora. Eu admiro tudo o que você fez por mim, admiro você, mas vou fazer uma coisa diferente". Mas Elvis não era esse tipo de pessoa. Acho que em 1977 é impossível dizer o que Elvis teria feito. Não acho que ele tivesse algum plano para demitir o Coronel. O Coronel, sim, poderia ter pensado em vender o contrato de Elvis, mas os dois tinham um grande comprometimento um com o outro. E o Coronel tinha um grande amor por Elvis. Ele era esse tipo de pessoa. Ele mostrava um lado de fora cascudo, mas sempre expressava seu amor por Elvis várias e várias vezes. Acho que nenhum dos dois seria capaz de dizer adeus.

Elvis nunca fez shows internacionais por causa do Coronel? [Parker era imigrante ilegal e não podia deixar os EUA sob risco de não poder entrar novamente]

Acho que o Coronel reconheceu, em certo momento, que não poderia viajar para o exterior [porque era um imigrante ilegal]. Mas nos anos iniciais ele tinha um amigo chamado Lee Gordon, um promotor de shows. O Coronel o conheceu em 1957, e eles conversaram seriamente sobre Elvis ir para a Austrália, mas ocorreu ao Coronel que eles não iam conseguir isso. O mundo, em 1957, não era como hoje em dia. Eu não acho que o Coronel tinha alguma intenção de mandar Elvis em turnê para a Europa ou para o Japão. O Coronel tinha algumas preocupações ligadas à segurança de Elvis, e as pessoas ficavam dizendo que eram todas desculpas dadas pelo Coronel. E também acho que Elvis não tinha vontade de fazer isso, e foi Priscilla [Presley, sua ex-mulher] quem me contou isso. Outras pessoas também diziam que ele não queria. Mas, mais do que tudo, ele não podia ir para o exterior, ele não poderia viajar para a Europa ou o Japão sem suas medicações, sem seus médicos, e, para muitos, sem suas armas. E Tom Hewlett [promotor de shows] reconheceu — esqueça a questão das armas, isso é irrelevante — que seria um grande problema não apenas em termos da segurança convencional de Elvis, mas também seria uma questão de prevenir que Elvis fosse preso, da maneira que Paul McCartney e Frank Sinatra foram presos. Eu acredito que essa foi a razão verdadeira. Foi isso o que Tom Hewlett disse muito francamente.

Elvis em um estúdio de cinema nos anos 60
Elvis em um estúdio de cinema nos anos 60 Elvis em um estúdio de cinema nos anos 60

Novas gerações ainda ouvem Elvis?

Acho que a música de Elvis, desde que fez sua primeira gravação, chegava às pessoas através do poder de sua voz. E você não encontra alguém que se coloca mais dentro de uma canção do que Elvis, fosse numa gravação ou ao vivo. E isso era o que chegava ao seu público desde o começo. Elvis se colocava dentro da música, e era isso o que aparecia. E isso continuará aparecendo se as pessoas o escutarem com atenção. Então, acho que a música que Elvis fez é muito significativa, tem muita importância e impacta qualquer um que a ouve.

Você acha que Elvis tinha noção de seu legado e de sua importância?

Acredito que sim. Acho que ele se sentia bem com o que fazia. Todos temos dias bons e ruins. Acho que ele encarava sua música com muita seriedade e fazia de tudo para dar o máximo. Mais para o final ele não conseguia mais fazer isso, já por volta de 1973. Foi ficando mais e mais difícil para ele até entrar em um estúdio de gravação já antes de 1973, e é terrível ver alguém com um dom tão incrível não conseguir desfrutar desse dom. Mas ele gostava de fazer shows e de ver a resposta do público... Enfim, ele deu tudo o que tinha à música, e acho que ele tinha, sim, o conhecimento de sua importância. Ele sentia muito fortemente sua música.

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