Hoje todo mundo vai dizer que Jô Soares era gênio. Mas é porque ele era mesmo
Um dos maiores apresentadores e humoristas do Brasil nos deixou na madrugada desta sexta-feira (5)
Odair Braz Jr|Do R7
Tem poucos artistas por aí que a gente pode dizer que são ou foram fundamentais para um país, e Jô Soares é, certamente, um deles. Bem-nascido, Jô foi muito cedo estudar na Europa, numa escola de elite, e ali mesmo descobriu que queria ser ator.
Embora fosse de família rica, Jô tinha um apelo popular e uma pegada de humor que conseguiam atingir todas as classes. Mostrou essa sua verve desde muito cedo na TV, ainda nos anos 1950 e 1960, na Record TV (Record, na época) em programas como Praça da Alegria e Família Trapo.
Na Globo, para onde foi nos anos 1970, pisou fundo no acelerador da comédia e era parte importante de programas humorísticos como Faça Humor, Não Faça Guerra, Satiricom e Planeta dos Homens. Em 1981, deu seu grande salto com Viva o Gordo. Nessa atração, o humorista mostrou toda a sua habilidade e fazia rir ao mesmo tempo que soltava críticas ácidas a políticos corruptos e também à ditadura militar, seus alvos favoritos. São dessa época personagens clássicos como Capitão Gay, Zé da Galera, Reizinho, Zé, Vovó Naná, Gandola, Sebá, General Gutierrez, Dom Casqueta, Capilé, Araponga etc.
Claro que as críticas e piadas contra a ditadura não passaram impunes. Jô sofreu censura do governo, que não gostava das brincadeiras politizadas do apresentador. Com isso, alguns de seus personagens chegaram a ficar mais de um ano fora do ar. A censura ao trabalho de Jô também era interna, com a Globo com medo de melindrar os militares.
Em 1988, Jô decidiu dar uma virada na carreira. Deixou a Globo e foi para o SBT, onde inicialmente fez um humorístico chamado Veja o Gordo, mais ou menos no mesmo esquema de Viva o Gordo. A atração teve vida curta e, no mesmo ano, estreou o Jô Soares Onze e Meia, programa de entrevistas nas madrugadas que trouxe para o Brasil a fórmula dos talk shows americanos ao estilo de David Letterman. Mas tudo, obviamente, com o jeitão do apresentador brasileiro.
No ano 2000, Jô voltou para a Globo, onde continuou fazendo suas entrevistas numa atração chamada simplesmente Programa do Jô.
Desde a época do SBT, todo mundo queria ser entrevistado pelo apresentador. O programa virou algo meio que obrigatório, e Jô conseguia falar com todo tipo de pessoa, desde vendedores anônimos de algum produto inusitado até presidentes, passando por artistas internacionais e o que mais aparecesse pela frente.
Com esses programas de entrevistas, Jô virou quase que uma unanimidade, praticamente sinônimo de inteligência e bom humor. Sempre destacavam sua grande inteligência e o vasto conhecimento sobre diversos assuntos e temas. Muitas vezes rolavam até alguns exageros nesse sentido, até porque ninguém sabe tudo sobre todas as coisas. Mas é verdade que ele era culto e inteligente, tanto que lançou livros bem interessantes como O Xangô de Baker Street e O Homem que Matou Getúlio Vargas, entre outros.
Olha, não é muito fácil elevar alguém à categoria de gênio da raça, mas é difícil não pôr Jô Soares nesse lugar. Ele foi realmente um artista acima da média, daqueles de que a gente pode se orgulhar de ter nascido no Brasil.
Dizer que fará falta é pouco, porque já estava fazendo falta desde que deixou a Globo e a TV. Jô era gênio. E é insubstituível.
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