Infantilização e falta de cérebro fazem de 'Barbie' o filme mais perfeito da história. Será que é?
Para críticos e influenciadores americanos, estamos diante do longa mais perfeito da história do cinema
Odair Braz Jr|Odair Braz Jr.
Veja: escrevo este texto sem ainda ter visto o filme da Barbie, mas, lendo a reação efusivamente exagerada e positiva dos críticos norte-americanos, já tenho a certeza de que o longa da boneca não tem como sustentar toda essa expectativa. E digo mais: não será surpresa nenhuma se a produção for incluída em listas de piores do ano, embora já tenha gente aí pedindo o Oscar para o filme.
E a gente fala “crítico” por ser o termo que melhor se encaixa, porque, na verdade, teve aí nesse bando de gente que já viu o filme lá nos EUA um monte de influenciadores daqueles bem sem noção dizendo que “amaram” Barbie, que é “o filme do ano”, que é “perfeito” e que Ryan Gosling e Margot Robbie merecem ser indicados ao Oscar.
Não tenho dúvidas de que os dois atores são ótimos e já mostraram isso em trabalhos anteriores, mas esse hype todo criado em torno do filme da boneca parece ser algo bem artificial, para dizer o mínimo. Não estou falando que o povo que está elogiando a produção foi pago para falar bem, nem nada disso. Apenas que há uma espécie de dever moral de achar que Barbie será o filme do ano e que é mais uma obra perfeita lançada por Hollywood.
Parte dessa obrigação de “achar Barbie sensacional” vem pela presença da diretora Greta Gerwig, que virou uma queridinha da mídia americana após filmes como Adoráveis Mulheres (2019) e Lady Bird: A Hora de Voar (2017). Estes dois longas foram muito bem recebidos, e Greta teve sua direção elogiadíssima, então é meio difícil de se colocar contra um trabalho seu. É complicado mesmo nadar contra a corrente.
Infelizmente não dá nem para dizer que essa reação da imprensa especializada ao longa Barbie seja algo inédito ou novo. Os críticos/influenciadores estão hoje cada vez mais permissivos, e qualquer bobajada, quase sempre, é “sensacionalmente incrível” ou “a experiência da minha vida”.
Para fazer este texto, li várias opiniões de quem assistiu ao filme e simplesmente não achei nenhuma crítica, ninguém levantou um mínimo defeito que fosse, tudo é perfeito e “feito para agradar quem é fã da Barbie”. Puxa vida! Estamos diante da maior obra-prima do cinema moderno mundial. Greta Gerwing conseguiu (até que enfim!) fazer o que Kubrick, Spielberg, Hitchcock, Kathryn Bigelow e outros gênios das telas jamais conseguiram. Barbie está para 2023 como O Poderoso Chefão esteve para 1972.
Sinceramente? É isso aí que a gente entende que é o filme da boneca a partir da reação dos críticos americanos. Não há nenhum pensamento crítico, nenhuma ponderação, nenhum tipo de questionamento. Nada! Acredite: esse longa NÃO vai mudar sua vida e o mundo NÃO vai ficar melhor depois dele, como tem muita gente falando. O filme pode ser legalzinho? Pode. Pode ser divertido? Pode. Mas, aposte, estará bem longe de figurar no pódio dos melhores de todos os tempos. Mas bem longe mesmo.
É só uma pena que esse movimento acéfalo da imprensa especializada — não só a dos EUA, aliás; vai acontecer o mesmo no Brasil — tenha se tornado algo absolutamente comum. As pessoas não querem mais informar, pensar ou problematizar um filme, um disco, um show. O que fazem é só embarcar no hype bizarro da adoração desenfreada e fazer parte de toda a festa que são esses lançamentos. É a infantilização generalizada da cultura pop. Um "vem nimim que tô facinho".
Agora, o negócio é esperar Barbie estrear no Brasil, o que acontecerá no dia 20 de julho. Depois que todo mundo assistir, nos veremos de novo em 2024 no Framboesa de Ouro, premiação que será dominada pela boneca e seu parceiro, o Ken. Pode me cobrar.
Veja o trailer de Barbie:
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