Liga da Justiça com o vilão Darkseid ao fundo
DivulgaçãoBeleza! Joss Whedon, diretor que assumiu a Liga da Justiça quando Zack Snyder teve de se afastar, deu uma bela zoada no filme. Mas, assistindo à nova versão, esta sim toda feita por Snyder, dá para perceber que Whedon nem foi assim tão mal. O novo longa melhora um pouco a situação tosca em que os personagens se meteram com aquele filme ruim de 2017, ganharam alguma dignidade, mas vamos combinar que para este Snyder Cut ser bom mesmo precisaria de uma coisa que continuou não tendo: um diretor de verdade.
Já começa que este Liga da Justiça 2021 não é assim tão diferente de sua versão de 2017. Snyder e seus companheiros chegaram a dizer que 80% do que se viu no cinema não tinha nada do que o diretor havia imaginado. Agora sabemos que isso não é um fato. A história é basicamente a mesma e muitas cenas usadas em 2017 estão presentes agora.
O que mudou mesmo é que a Liga 2021 conseguiu muito mais tempo. São quatro horas de projeção e, com isso, Zack conseguiu dar uma coesão ao roteiro e explicar melhor a história que queria mostrar. Muitos momentos totalmente apressados e quase sem sentido no filme de Whedon finalmente passaram a ser compreendidos com o novo filme.
Há vários exemplos dessa melhoria no entendimento da história. As motivações do vilão Lobo da Estepe ficaram mais claras. Entendemos muito melhor a ligação dele com Darkseid, o ser mais maléfico do universo DC. Houve também mais tempo para explicar as origens de heróis como Flash e Ciborgue. No longa de 2017, tanto Lobo da Estepe como estes dois super-heróis apareceram de um jeito muito apressado, meio que jogados na trama de qualquer jeito, o que os deixou mais rasos do que um pires.
O vilão Darkseid
DivulgaçãoFlash continua piadista e meio bobinho, mas funciona bem melhor porque fica mais encaixado na história. Além de ter ganho uma importância maior na história. Ciborgue também melhorou bastante e não parece mais só um moleque emburrado. O Lobo da Estepe, além de ter uma ligação mais clara com Darkseid, ganhou um novo visual, com uma armadura bem ameaçadora, o que ajudou a disfarçar a computação gráfica que o deixava parecendo um boneco de borracha. Foi uma mudança cosmética apenas, mas que ajudou um tantinho.
Vários outros momentos também foram esmiuçados, como a decisão da Liga da Justiça de trazer Superman de volta à vida. Em 2017 ficou uma coisa meio “estamos precisando de uma força pra vencer Lobo da Estepe, que tal ressuscitar o Superman?”. Na nova versão, a decisão de reviver o Homem de Aço é menos absurda, embora ainda um tanto quanto estapafúrdia.
Snyder ainda cortou algumas bobajadas que Whedon fez. Ele tirou, por exemplo, a cena de abertura do longa de 2017 em que Batman luta contra um dos alienígenas que fazem parte do exército do Lobo da Estepe. Esse momento destoava completamente já daquela versão e não faria mesmo sentido agora. Zack apagou também aquela família russa que fica no meio da batalha entre a Liga e o vilão, correndo pra lá e pra cá, sumiu. O que é bom. E o diretor incluiu ainda Darkseid e é muito legal vê-lo no cinema, embora ele seja muito inferior visualmente do que o Thanos dos longas da Marvel. Fora que aparece por muito pouco tempo, o que é uma certa decepção para quem esperava vê-lo mais na tela.
Mas também é o seguinte, né? Whedon teve de manter sua versão em duas horas de duração e, com isso, muito material precisou ser cortado. Seria impossível contar toda a história imaginada em apenas duas horas e, provavelmente, esse tempo de exibição foi imposto pela Warner.
E, como dito ali em cima, Zack Snyder pôde fazer sua versão do jeito que desejou. Teve as quatro horas para conseguir esmiuçar tudo e, enfim, salvar sua reputação. Mas vai aqui uma pergunta necessária: será que Snyder teria feito exatamente este filme no cinema se não tivesse se afastado? É muito provável que não. No cinema, o que dá para fazer é um longa estourando ali nas três horas de duração. Algo como o que ele fez na versão 2021 só seria possível, na telona, em dois longas. É bem verdade que neste Snyder Cut há cenas que poderiam ser cortadas e passagens suprimidas para caber em, digamos, três horas. Tivesse Snyder permanecido na direção, seria exatamente este longa que veríamos? Difícil responder, mas caso fosse, não daria para ter ficado feliz. Apenas não sentiríamos o asco que Joss Whedon nos fez ter do filme, mas a sensação de que faltou coisa permaneceria.
FILME VAZIO
Liga da Justiça 2021 é um filme de super-herói qualquer. É verdade que ele conta com alguns dos maiores personagens da história dos quadrinhos, tem um orçamento gigantesco e seu diretor pôde atuar sabendo exatamente o que havia dado errado em 2017. Ainda assim, Zack Snyder não conseguiu entregar a aventura épica que todos os fãs desejavam e mereciam. Sua Liga da Justiça não tem nada de muito especial, não tem nada que faça com que a gente fique com uma ou mais imagens gravadas na mente, não causa aquele arrepio na espinha que vimos quando os Vingadores encararam Thanos. O novo longa do supergrupo da DC é comum, até rasteiro. Além de enfadonho e sem ritmo (afinal, são QUATRO HORAS, né?!). E essa ruindade ou fraqueza, chame como quiser, acontece ao analisarmos a produção isoladamente, como a filme que é. Mas não dá para vê-lo só assim, separado do mundo.
E é aí que o bicho pega ainda mais. Snyder tem um problemão à sua frente que atende pelo nome de Marvel Studios. Se tem uma coisa que os filmes deste estúdio mostraram é como fazer uma boa história de super-herói. E não tem como não comparar uma coisa com a outra, infelizmente. A Marvel estabeleceu um padrão, uma régua para podermos medir o que é um longa bom de verdade quando se fala em superseres dos quadrinhos.
Trailer do Snyder Cut:
O filme da Liga de Snyder – e os seus O Homem de Aço e Batman v Superman – é sombria e, parece que para o diretor, isso é o suficiente para termos uma produção “séria” com heróis. Infelizmente, não é. A Marvel nos mostra em seus lançamentos que um filme de super-heróis precisa ser divertido, engraçado, épico, ter sacadinhas divertidas, ter também um subtexto correndo em paralelo, carisma e um fan service usado no momento exato. Zack não sabe disso e, portanto, não faz isso. Volte sua mente nas diversas produções da Marvel e conte os momentos sensacionais que você guarda aí na lembrança. Num exercício rápido, é possível chegar a vários deles. Pegue o Snyder Cut e veja o que surge. O renascimento do Superman? Não. E olha que esse momento deveria ser algo verdadeiramente épico. Fico imaginando o que seria o retorno do Homem de Aço se ele fosse um personagem da Marvel.
Fora todas essas lições não aprendidas pela Warner e pelo diretor, ainda há o fato de Snyder ser extremamente cafona. As famosas cenas em câmera lenta já não enganam ninguém e as poses grandiosas dos heróis é algo que foi completamente enterrado pela Marvel. Os filmes do Homem de Ferro, Capitão, Vingadores sumiram com essa coisa pomposa dos super-heróis. O estúdio desconstruiu os personagens mantendo ainda seu heroísmo, mas de um jeito que o público pode se relacionar, pode se enxergar. Com Snyder é sempre aquela coisa mal-humorada, sombria e gente rangendo dentes. Isso, meu amigo, é passado.
Liga da Justiça 2021 - apesar de suas quatro horas de duração, mais seis capítulos e um epílogo – conseguiu ser apenas um filme medíocre, vazio e sem alma. É um monstrengo com vários tentáculos que não consegue atingir nada. E os fãs se vangloriam de sua campanha/pressão para que este Snyder Cut fosse lançado. Cantam vitória internet afora. Mas é aquela coisa: muitas vezes é preciso pensar bem no que se deseja. Nem sempre o que recebemos é exatamente o que queríamos.
Mas, você que é fã, pode ainda ter uma chance. É que logo mais vem aí a versão do Snyder Cut em preto e branco. Vai ver que sem cores a coisa melhore muito, né? Quem sabe?
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