Marília Mendonça e as mortes trágicas do mundo sertanejo
Cantora, de apenas 26 anos, entra para uma triste lista que só aumenta no Brasil
Odair Braz Jr|Do R7
A morte de Marília Mendonça, nesta sexta-feira (5), após a queda do avião em que estava, é a mais recente numa longa sucessão de mortes trágicas de artistas sertanejos brasileiros. Parece uma sina.
Marília estava no auge do sucesso, numa fase ótima de sua carreira, com shows próprios e ainda, em 2022, com a turnê As Patroas, ao lado de Maiara e Maraísa. Às vezes, dá a impressão de que algo persegue esse tipo de artista por aqui, e isso quase sempre acontece quando a pessoa está vivendo um período de grande sucesso. É assim que Marília nos deixa: com 26 anos e com um mundo inteiro pela frente. Logo agora em que estava retomando as apresentações ao vivo após a parada obrigatória devido à pandemia.
A importância de Marília para o universo sertanejo é mesmo inestimável. Ela, de um jeito próprio, colocou em evidência o chamado "feminejo" e conseguiu mostrar a força das mulheres num universo que é amplamente dominado por homens e que é, em última instância, bem machista. claro, há outras mulheres no sertanjo, mas Marília se tornou gigante e passou a liderar essa arrancada feminina no gênero. Era ela quem dava o rumo para todas as outras e também era quem traduzia em suas músicas o que tantas outras mulheres sentem. E vê-la partir assim, tão inesperadamente, é algo absolutamente chocante, assim como foi também com outros artistas da música sertaneja que se foram em situações bem parecidas com as de Marília.
Outros sertanejos — e artistas de outros gêneros — também chocaram o Brasil com seus súbitos desaparecimentos. O caso anterior ao de Marília foi o de Gabriel Diniz, que morreu aos 28 anos, em 2019, também num acidente de avião. Ele estava estourado em todo o Brasil com a música Jennifer, mas também tinha outros hits, como Teus Olhos e Paraquedas.
Aqui é até possível traçar um paralelo com a morte de outras estrelas pop que também perderam a vida num acidente de avião. É o caso dos americanos Buddy Holly e Ritchie Valens. Ambos eram estrelas do rock’n’roll, gênero que estava surgindo com força total nos anos 1950. Eles embarcaram juntos num voo que acabou caindo na madrugada do dia 3 de fevereiro de 1959, matando os dois artistas e o piloto. Este evento ficou conhecido como “O Dia em Que a Música Morreu”. Tanto Holly como Valens estavam também no auge do sucesso.
E, óbvio, não há como não citar a morte trágica dos Mamonas Assassinas. O grupo de rock engraçadinho brasileiro também estava estourado nas paradas de todo o Brasil e a banda morreu quando o avião em que eles estavam se chocou contra a Serra da Cantareira, em São Paulo.
Voltando ao mundo sertanejo. Cristiano Araújo foi mais um sertanejo que estava em grande ascensão profissional quando, aos 29 anos, morreu num acidente de carro em 2015. O caso de Cristiano é incrivelmente curioso, uma vez que ele não era conhecido ainda nas capitais do Sudeste, mas já era muitíssimo famoso no restante do país. Após o acidente, o Brasil todo, infelizmente, ficou sabendo quem ele era.
Mas o triste destino dos sertanejos não para apenas nesses nomes. O cantor João Paulo, que formava dupla com Daniel, morreu num acidente de carro no dia 12 de setembro de 1997, aos 37 anos. João Paulo e Daniel faziam parte do primeiro time de duplas sertanejas do Brasil que dominavam as rádios nos anos 90, como Chitãozinho e Xororó, Zezé Di Camargo e Luciano e Leandro e Leonardo. Aliás, essa última dupla também passou por um momento de perda. Em meio ao grande sucesso que atravessava, aconteceu a morte de Leandro. Ele foi vítima de um câncer raro, aos 38 anos.
Como se vê, não é fácil acompanhar a trajetória dos ídolos sertanejos. Ninguém nunca se prepara para receber esse tipo de notícia sobre seus ídolos. Não é algo que se aprende por aí, mesmo após tantas mortes em sequência. Não há quem fique de prontidão esperando a morte de um artista, assim como não se faz isso com um parente próximo. Mas é um fato que artistas sertanejos parecem sofrer mesmo uma dura sina de mortes inesperadas, e quase sempre muito cedo.
Isso tem que parar.
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