Megashow do Kiss em São Paulo deixa claro que esta não pode ser a turnê de despedida da banda
Banda clássica tocou seus grandes hits para um estádio lotado de fãs sedentos por um show de rock pós-pandemia
Odair Braz Jr|Do R7
Uma multidão lotou o estádio do Palmeiras na noite deste sábado (30) para receber o Kiss e o show que se chama End of the Road World Tour, que a banda anuncia como sendo sua turnê de despedida. Mas, pelo que se viu no palco, o adeus do grupo já entra na categoria “me engana que eu gosto”, porque não dá para acreditar que os senhores septuagenários vão pendurar os instrumentos logo mais.
Tudo bem que não seja mais tão fácil quanto antes para os quatro integrantes serem tão saltitantes no palco, mas eles dão conta do recado com tranquilidade. Paul Stanley, o guitarrista e vocalista, continua arriscando suas dancinhas e reboladas, pendura-se numa tirolesa, conversa com grilo (apareceu um de verdade em seu microfone), fala um monte com o público, e por aí vai. Gene Simmons, o outro vocalista e baixista, já é mais paradão, mas mantém sua imensa presença de palco intocada. E ainda temos que levar em conta as roupas que os quatro usam no palco, que não devem ser exatamente leves.
Fora a energia dos senhores do Kiss, a banda sempre contou com uma parafernália imensa no palco, o que dá uma ajuda grande para impressionar os fãs durante as apresentações. Toda hora aparecem chamas, há vários monitores de vídeo e telão, tem explosão de glitter, plataformas que levantam os integrantes e a bateria, fumacê, show de luzes e tudo o mais que se pode esperar de uma apresentação do Kiss.
Fora toda essa ajuda tecnológica, esse tipo de banda de metal dos anos 70 não precisa fazer muito esforço para agradar ao público brasileiro. Todo mundo já vai a um show assim para gostar e ser feliz, então o Kiss sobe no palco com o jogo ganho. Tanto é que quem viu uma apresentação do grupo por aqui, digamos, nos últimos vinte anos sabe o que esperar. Porque os shows da banda não têm muita variação. Já se sabe que a bateria subirá numa plataforma, que Gene Simmons vai cuspir sangue de mentirinha, que o guitarrista Tommy Thayer disparará tiros de brincadeira com seu instrumento e que Paul Stanley cruzará o público numa tirolesa. E, como dizem por aí, tudo bem! Ninguém mais vai a um show do Kiss esperando inovação no som, um set acústico, músicas inéditas ou coisas do tipo. O povo quer ver mesmo aquele imenso parque de diversões, uma espécie de circo no palco, a parafernália em ação e ouvir os hits.
SUCESSOS
Após Rock and Roll, do Led Zeppelin, tocar nos alto-falantes, o Kiss entrou e já fez os fãs cantarem juntos Detroit Rock City, que foi seguida dos clássicos Shout It Out Loud, Deuce, War Machine, Heaven’s on Fire, I Love It Loud, entre outros. Stanley se incumbiu, como sempre, do populismo simpático de agradar ao público, dizer que São Paulo é demais, que ama o Brasil, entre outros gracejos. O vocalista também foi parar no meio do campo — com a tirolesa — para cantar o hit I Was Made for Lovin' You. Gene Simmons também deu sua contribuição e cantou sucessos como War Machine, I Love It Loud, God of Thunder, e tudo isso enquanto cuspia sangue e mostrava a língua. O baterista Eric Singer cantou, sozinho ao piano, a baladinha Beth. O final, como sempre acontece, foi com Rock and Roll All Nite, o megaclássico festeiro do Kiss, em meio a explosões e chuva de papel picado.
O show da banda no Palmeiras foi daquelas coisas para lavar a alma dos fãs de rock, que tiveram de esperar por essa apresentação durante dois anos. As datas foram adiadas por causa da pandemia, então era algo muito desejado. Fãs, aliás, de todas as idades. Os mais velhos, que curtem o grupo desde sempre, e uma impressionante turma de moleques adolescentes. Até criança com o rosto pintado tinha.
Esse carinho todo desta passagem pelo Brasil — e possivelmente em outros países — está mostrando aos integrantes do Kiss que eles ainda enchem e empolgam estádios inteiros. E todo mundo sabe que a banda é uma máquina de fazer dinheiro, então, tudo bem se eles voltarem por aqui daqui uns três anos numa nova turnê. Ninguém vai reclamar. Não será a primeira nem a última vez que uma banda de rock deu esse truquezinho de “show de despedida”. Lenha para queimar eles já mostraram que têm.
Setlist do show:
1. Detroit Rock City
2. Shout It Out Loud
3. Deuce
4. War Machine
5. Heaven's on Fire
6. I Love It Loud
7. Say Yeah
8. Cold Gin
9. Guitar Solo
10. Lick It Up
11. Calling Dr. Love
12. Tears Are Falling
13. Psycho Circus
14. Drum Solo
15. 100,000 Years
16. Bass Solo
17. God of Thunder
18. Love Gun
19. I Was Made for Lovin' You
20. Black Diamond
Bis:
21. Beth
22. Do You Love Me
23. Rock and Roll All Nite
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