Melhor disco do Duran Duran sem o Duran Duran faz 35 anos
So Red The Rose foi lançado quando o supergrupo inglês resolveu dar um tempo das gravações e das turnês; Surgiu ali um álbum sensacional
Odair Braz Jr|Do R7

Quando uma banda é boa, ela é boa de qualquer jeito. E isso vale para o Duran Duran, grupo inglês que está na ativa há 42 anos lançando — bons — discos e fazendo turnês (não neste momento, obviamente). E um disco em especial, um dos melhores, chamado So Red the Rose, faz 35 anos agora em 2020. Acontece que este não é um álbum do Duran Duran, mas sim do grupo Arcadia. Explicando.
O Duran Duran surgiu em 1978 e lançou seu primeiro disco em 1981. Rapidamente o grupo se transformou num imenso sucesso em toda a Inglaterra e logo também estava bombando forte nas paradas de outros países como Estados Unidos, Japão, França, Alemanha, Austrália, Brasil, enfim, praticamente em todo o planeta. Era hit atrás de hit. Até 1983 a banda havia lançado mais dois álbuns e não parava mais de fazer turnês. Os músicos entraram num ciclo maluco de escrever canções, gravá-las, lançá-las e excursionar de um país para outro, de um continente para outro. Isso tudo foi cansando os integrantes do Duran Duran. Chegou um momento em que eles já não conseguiam se dar muito bem, o relacionamento interno ficou péssimo e a exaustão tomou conta dos cinco moços. Ali pelo fim de 1984, eles todos resolveram dar um tempo do DD. Se casaram, descansaram etc e tal. Mas ainda havia a vontade de gravar novas músicas, só que não exatamente sob o nome de Duran Duran. E aí é que entra o melhor disco do DD que nunca foi lançado pelo DD.
ARCADIA
Em 1985, o vocalista Simon Le Bon, o tecladista Nick Rhodes e o baterista Roger Taylor formaram o Arcadia, um novo grupo. E enquanto o Duran Duran descansava, eles produziram e lançaram o álbum So Red The Rose. Os outros dois membros do DD, John Taylor e Andy Taylor (nenhum dos Taylor da banda são parentes) criaram outro grupo, o Power Station, mas isso é uma outra história.
O fato é que o Arcadia manteve intactas praticamente todas as características da banda original: as canções e comportamento pop, a voz conhecida de Simon e o teclado marcante de Nick. Além, claro, de continuar também com o visual caprichado dos músicos, que já eram galãs para os adolescentes da época. Por falar em visual, os três membros fizeram uma leve mudança: fotos promocionais usando smoking e com seus cabelos tingidos de preto, o que deu um ar mais sombrio e gótico ao grupo. Mas todos os outros elementos mantidos do DD permitiram que o jeitão da banda original estivesse totalmente presente nas canções do único álbum lançado pelo Arcadia.

So Red the Rose é um álbum que poderia muito bem ser incluído dentro da discografia do Duran Duran e ainda seria considerado um dos grandes clássicos do grupo. As músicas, praticamente todas naquele estilão synthpop do meio dos anos 80, com a tecladeira nervosa de Nick, nasceram cheias de clima, pegadas clássicas do Duran, refrões ganchudos e elementos que os fãs já conheciam e adoravam. Começa com a ótima Election Day, que foi a primeira a ser trabalhada nas rádios. Ganhou clipe caprichado nos moldes do Duran Duran, com cara de superprodução, e virou um hit. Não havia diferença entre ouvir o Arcadia e o Duran e claro que os fãs gostaram.
O álbum tem ainda uma lista de outras boas canções, como Goodbye Is Forever, Missing, Lady Ice, Rose Arcana, The Promise. Na época do lançamento, o disco foi bem recebido pela crítica e chegou a ir bem nas paradas da Inglaterra e Estados Unidos, embora tenha tido um impacto menor do que os álbuns anteriores do DD, que foram grandes fenômenos. Uma crítica chegou a dizer que So Red The Rose “é o disco mais pretensioso já feito”. Outra análise cravou que é o “melhor álbum que o Duran Duran nunca lançou”.
PINK FLOYD?
O primeiro trabalho do Arcadia também chama a atenção pela presença de outros músicos que estiveram nas gravações — e talvez venha daí a ideia de ser “o mais pretensiso”. A faixa The Promise, por exemplo, tem participação de gente como David Gilmour (guitarrista do Pink Floyd), do pianista Herbie Hacock e de Sting (do The Police). Essa junção de new romantic com a psicodelia do Pink Floyd foi mesmo algo inimaginável e a guitarra de Gilmour faz diferença na faixa citada. Grace Jones — modelo, cantora e atriz bem famosinha nos anos 80 — fala frases em The Flame e Election Day. E ainda teve outras presenças como Mark Egan, Carlos Alomar e David Van Tieghem.
Apesar do seu ótimo disco, a aventura musical do Arcadia durou pouco tempo. A banda fez algumas apresentações na TV para promover So Red The Rose e não houve nenhum show ao vivo. Para colocar fim à brincadeira, em 1986, Simon Le Bon e Nick Rhodes se juntaram ao baixista John Taylor para trazer o Duran Duran de volta, dessa vez sem os outros dois integrantes originais, que preferiram não retornar. Nesse mesmo ano lançaram Notorious, quarto disco de estúdio do DD.
Ainda que tenha tido vida curta, o Arcadia, que era mesmo um projeto temporário, fez de So Red The Rose um grande trabalho e que agora, aos 35 anos, permanece sendo o ótimo álbum perdido do DD. O que não quer dizer que seja esquecido. Em várias turnês ao longo das últimas décadas, a banda volta e meia lembra do disco tocando Election Day, como fez aqui no Brasil em 1988, quando a colocou em seu show no Hollywood Rock. Provando que So Red The Rose é Duran Duran até o último fio de cabelo com laquê.