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Ana Castela e duplas sertanejas dominam lista de músicas mais tocadas de 2023. E isso é péssimo

Falta de diversidade musical é prejudicial para toda a indústria do entretenimento, inclusive para os próprios sertanejos

Odair Braz Jr|Do R7 e Odair Braz Jr


Ana Castela foi um destaques do ano e tocou muito nas plataformas musicais em 2023
Ana Castela foi um destaques do ano e tocou muito nas plataformas musicais em 2023 Reprodução/Instagram

As duplas e cantores sertanejos são os artistas que mais fazem sucesso no Brasil há anos e continuaram assim, dominantes, em 2023. A entidade Pro-Música divulgou nesta segunda-feira (22) a lista das 50 músicas mais executadas nas plataformas de streaming e, deste número, nada menos do que 32 canções vêm de músicos sertanejos. Quer dizer, eles têm bem mais da metade da lista. E isso não é nada bom para ninguém. Não é bom nem para os próprios sertanejos.

Veja: nada contra este tipo de artista ficar em alta durante tanto tempo e dominar as execuções no streaming, rádios e TVs. Certamente algum mérito eles têm. Só para se ter uma ideia, o primeiro lugar na lista é de Marília Mendonça, que morreu em 2021. Ou seja, as pessoas realmente gostam dela e de sua música mesmo após dois anos do acidente aéreo que a matou.

Mas um domínio tão amplo e durante tanto tempo é ruim tanto para o mercado musical, como também para os próprios artistas sertanejos. A falta de diversidade é prejudicial para todo mundo.

Explico: as gravadoras, pequenas e grandes, apostam fortemente em artistas sertanejos e em suas músicas, discos, DVDs. Quase todos os músicos deste segmento são contratados destas grandes empresas. Gusttavo Lima, Luan Santana, Leonardo, Fernando & Sorocaba etc. Quem não tem uma gravadora conhecida por trás, como Ana Castela — que é contratada da AgroPlay —, tem empresários experientes e com um grande poder financeiro.

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Assim, os artistas sertanejos garantem para si uma enorme capacidade de investimento, o que os ajuda a chegar muito rapidamente às rádios, TVs e a ter shows superproduzidos que vendem muitos ingressos.

Enquanto isso, dezenas, talvez centenas, de outros artistas consagrados e que já fizeram muito sucesso no passado, não têm mais gravadora e nem investidores. Simplesmente porque não sobra espaço, uma vez que as atenções estão todas canalizadas para o universo sertanejo, que dá retorno gigantesco e rápido. É a lei do mercado e é mesmo difícil lutar contra isso.

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E por que todo este sucesso é prejudicial para os próprios sertanejos? Porque acaba com a diversidade, vicia o público num único gênero musical, segrega centenas de outros artistas do mercado e — pior de tudo — uniformiza a produção musical dos sertanejos.

E a uniformização das duplas e cantores deste gênero é claríssima. O som de suas músicas é parecido, assim como os temas e assuntos. Os shows também são semelhantes, tudo superbem produzido, mas sempre com uma estética muito igual. A impressão que se tem é de estar sempre vendo o mesmo espetáculo com luzes, telões, bailarinos e coisas do tipo.

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É uma fórmula mesmo. Uma fórmula de sucesso que é repetida sem parar, porque vem dando certo há vários anos. Então não há a necessidade de mudar nada, o que apenas contribui para o empobrecimento da música sertaneja, que não precisa ousar e nem se obrigar a apresentar algo novo, diferente.

Este "sistema" seria igualmente prejudicial se acontecesse com qualquer outro gênero musical. A massificação, nos mesmos moldes, do rock, axé, funk, MPB, Bossa Nova etc. causaria um estrago igual. Só que os esforços, atualmente, estão todos concentrados no sertanejo, que vem se mostrando extremamente rentável.

Existe alguma perspectiva de isso mudar? Não, não há. Os artistas mais tocados de 2022, 2021, 2020 também já eram os sertanejos. Há alguma intromissão de funkeiros e quase nada de música internacional — nesta lista de 2023 há apenas Miley Cyrus e sua Flowers.

Isso tudo significa dizer que os artistas mais ouvidos de 2024 também serão os sertanejos, o que, obviamente, é ótima para eles. A questão é que você continuará acessando o mesmo tipo de música, os mesmos temas, a mesma falta de diversidade que já existe há anos.

Se está bom para você assim, tudo certo. Mas é muito ruim para todo o ecossistema musical brasileiro, que acaba escondendo — e quase apagando — tudo o que há de interessante na música do país.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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