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Odair Braz Jr - Blogs

O Titanic, James Cameron, a tragédia do submarino e a obsessão pela morte

Navio que afundou há mais de cem anos habita o imaginário popular e exerce atração irresistível

Odair Braz Jr|Do R7

Imagem do Titanic repousando no fundo do mar divulgada recentemente
Imagem do Titanic repousando no fundo do mar divulgada recentemente

Não dá nem para acreditar no tamanho do fascínio que o Titanic — ou seu trágico naufrágio — exerce até hoje em grande parte da população mundial, especialmente no Ocidente. A atenção recebida pelas buscas ao submarino Titan, que acabou vitimando cinco pessoas nesta semana, é um reflexo direto do magnetismo, da atração causada pelo navio que afundou em 1912 nas águas geladas do oceano Atlântico.

O Titanic ganhou o status de lenda já durante seu lançamento. A White Star Line, empresa inglesa responsável pela construção da embarcação, não cansou de enaltecer todas as qualidades de seu novo veículo. O Titanic era o maior navio já feito e foi concebido para ser o melhor em tudo: o mais seguro, o mais veloz e o mais luxuoso.

E isso tudo foi feito numa época, década de 1910, quando navios eram muito importantes, porque não havia ainda a aviação comercial. Assim, quando as pessoas queriam ou precisavam ir da Europa para outro continente, como o americano, por exemplo, o transporte tinha de ser pelo mar.

O lançamento do Titanic foi feito com toda a pompa possível. Durante sua construção, surgiu a ideia de que o navio era inafundável, que não poderia naufragar sob nenhuma hipótese. Embora não houvesse propagandas nem anúncios comerciais que afirmassem isso, os líderes da White Star realmente pensavam assim. Eles acreditavam de fato que a embarcação não poderia afundar. E a divulgação de sua estrutura era um comprovante disso. Havia até a afirmação de que o Titanic poderia seguir navegando mesmo com quatro de seus compartimentos cheios de água.


Tem também a lendária frase de que “nem Deus poderia afundar o Titanic”, mas que não foi dita pela White Star nem por seu presidente. Essas palavras são atribuídas a um marinheiro do navio, que as teria dito a uma senhora que perguntou se o navio era mesmo seguro. Mas nem se sabe se a frase foi proferida desse jeito nem quem a teria dito.

Kate Winslet e Leonardo DiCaprio no filme de James Cameron
Kate Winslet e Leonardo DiCaprio no filme de James Cameron

O que realmente se escreveu num fôlder publicitário sobre o navio é que tanto o Titanic como seu “irmão”, o Olympic, “foram construídos para serem insubmersíveis”. Ou seja, a publicidade afirma que ele foi feito para não afundar nunca, e não que era impossível de naufragar. O vice-presidente da Star Line, quando soube que seu navio estava com problemas para chegar a Nova York, disse que “temos absoluta confiança no Titanic. Acreditamos que ele não pode naufragar". Ou seja, a frase saiu da boca de alguém da empresa apenas após o lançamento do navio.


Seja como for, o fato é que, no imaginário das pessoas na época, a embarcação passava uma ideia de segurança total, um status realmente lendário.

Junte a isso tudo o fato de o Titanic ter sido criado para a porção mais rica da sociedade. É certo que ele levava também pessoas mais pobres em seus compartimentos mais simples, mas foi criado basicamente para o transporte dos mais abastados. Quando falamos em mortes de milionários (na época), tudo chama muito mais a atenção da mídia. É mais ou menos a mesma discussão que está havendo agora, com muita gente questionando o grande alarde feito em relação ao Titan, que levava bilionários. Para muitos, a imprensa e a sociedade em geral não dão a mesma importância aos vários naufrágios e mortes de refugiados que acontecem no mar.


INSUPERÁVEL

Todos esses elementos juntos transformam a história do Titanic e outras ligadas a ele em algo absolutamente irresistível. Então, nada poderia superar a atração exercida pela tragédia do Titan. Estivesse ali quem fosse — bilionários, cientistas, pessoas comuns, celebridades, jogadores de futebol —, a repercussão da mídia seria instantânea justamente por envolver o Titanic, que insiste em continuar onipresente 111 anos após seu naufrágio.

O Titanic, em 1912
O Titanic, em 1912

Só para se ter uma ideia do fascínio do Titanic no mundo, 31 dias após o naufrágio estreava nos cinemas um filme sobre o navio. Era um filme mudo chamado Saved from the Titanic. Vieram outras produções cinematográficas ao longo das décadas que mantiveram a tragédia na mente das pessoas. Em 1985, os destroços foram finalmente localizados e, em 1986, aconteceu a primeira expedição ao fundo do Atlântico para visitar o que sobrou da embarcação. O interesse mundial sobre o assunto só aumentava.

A ideia de aventura, de “mundo desconhecido” (as profundezas do oceano), a morbidez, a exploração de uma fronteira praticamente desconhecida, alimentavam a imaginação das pessoas. E as expedições do cineasta James Cameron — já famoso na época por filmes como Exterminador do Futuro 1 e 2 e Aliens: O Resgate — impulsionaram de maneira decisiva a “titanicmania” a partir de 1995. Ele fez 33 viagens ao local em que está o navio e captou todas as imagens possíveis que foram usadas no megablockbuster lançado em 1998.

Titanic, o filme, não fez sucesso à toa. As pessoas realmente tinham — e ainda têm — um interesse quase inexplicável pelo navio. E Cameron explorou isso de maneira genial, criando imagens altamente detalhadas da embarcação ao mesmo tempo em que contava uma história de amor clichê juntamente com uma luta de classes totalmente simplória.

A história de amor e a luta de classes do longa-metragem de Cameron, na verdade, não importavam muito. Afinal, todo mundo queria saber do navio, como ele era, suas dimensões, como afundou e como as pessoas — ricos e pobres — morreram. Nada poderia superar esses elementos, tanto é que Titanic é um dos filmes mais bem-sucedidos de todos os tempos, com 2,2 bilhões de dólares em bilheteria e nove estatuetas do Oscar.

Visionário, Cameron mostrou em 1997 que o Titanic era, sim, afundável, e, mais do que isso, que a tragédia da embarcação inglesa é uma das histórias mais incríveis do século 20. Tão incrível que faz com que pessoas arrisquem até hoje a própria vida para ter um gostinho do que foi tudo aquilo.

Tragédias acontecem, mas a do Titanic continua acontecendo. E não vão parar nunca.

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Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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