'Thriller', novo disco de Michael Jackson, é revolução em sua carreira e traz o som da década
Álbum tem produção de Quincy Jones e participações de Paul McCartney e Eddie Van Halen
Odair Braz Jr|Do Jornal R7*

1982 está sendo um ano divertido na música, com artistas consagrados lançando álbuns de primeira, como Nebraska (Bruce Springsteen), The Number of the Beast (Iron Maiden), 1999 (Prince), Combat Rock (The Clash). Agora chega a vez de Michael Jackson mostrar ao mundo Thriller, um projeto ambicioso que promete mudar completamente sua carreira e que tem tudo para ser um dos melhores discos do ano.
Aos 24 anos, Jackson coloca no mercado um LP (também disponível em K7) vibrante, cheio de participações especiais estelares e com um som bem moderno. O álbum é o sucessor de Off the Wall, que saiu em 1979 e que a gente pode considerar o primeiro disco “adulto” de Jackson. Foi com este trabalho que ele meio que se livrou da marca do Jackson Five e se tornou um artista solo de verdade.
O responsável por esta modernização da imagem de Michael é Quincy Jones, músico e produtor experiente que já trabalhou com gente como Frank Sinatra, Miles Davis e Ella Fitzgerald, além de criar trilhas sonoras para vários filmes famosos. Jones foi justamente o produtor de Off the Wall, que já trouxe uma grande mudança para Jackson, e também é quem ajuda o cantor neste seu novo trabalho.
Graças a esta parceria, Thriller chega com algumas músicas muito fortes, misturando soul music, funk, rock e pop. As canções prometem levar a música negra a um novo patamar e tem chances de atingir um público gigantesco através das rádios FM e MTV. Na MTV, claro, isso vai acontecer se o novo canal deixar de privilegiar artistas brancos e roqueiros, como vem fazendo. Recentemente, a emissora se recusou a veicular Super Freak, megahit radiofônico de Rick James. O cantor até acusou a TV de discriminação em relação à música negra.
Mas voltando ao LP de Jackson: de cara já dá para notar que há, pelo menos, três candidatas potenciais a hit: Beat It, Billie Jean e a própria Thriller. Estas três têm uma pegada diferente de tudo o que Michael já fez até hoje e chegam com muitos sons eletrônicos, guitarras e levadas bem próximas do rock. Beat It, inclusive, conta com a participação de Eddie Van Halen, que faz um solo sensacional e totalmente inesperado no meio da canção.
Thriller, por sua vez, tem letra de Rod Temperton, e é um pouco longa para as rádios: 5min57. As FMs estão acostumadas a tocar faixas de três minutos, três minutos e meio e colocar Thriller no ar pode ser um desafio grande. Apesar de ser uma ótima canção, sua duração pode inviabilizá-la no dial. Cheia de referências ao cinema, especialmente o de terror — do qual Jackson é fã —, a música tem a voz do ator Vincent Price, e é uma ótima pedida para um videoclipe caprichado. Se isso acontecer, a faixa pode se transformar num imenso sucesso, até porque a MTV tem mostrado grande capacidade de fazer canções virarem hits. Claro que, antes, o canal tem de parar com esta bobagem de não dar destaque para a música negra. Extremamente visuais, Billie Jean e Beat It também poderiam ganhar videoclipes para ajudar na divulgação.
Além de Van Halen e Vincent Price, Thriller tem também a participação de Paul McCartney em The Girl Is Mine, primeiro single do álbum. Esta é a segunda colaboração entre os dois músicos, sendo que a primeira é ainda inédita, gravada em 1981, e que deve ser lançada no futuro próximo por McCartney. Embora bonita, a música é uma baladinha tranquila que não chama muito a atenção em meio as outras de Thriller. É um pouco estranho ela ter sido a escolhida como single inicial, já que fica longe de mostrar as novidades de Michael neste disco. Mas, tudo bem, tem um Beatle cantando e isso faz diferença.
A faixa que abre Thriller é Wanna Be Startin’ Something, escrita em 1978 e que deveria ter saído em Off the Wall. Até por isso, tem ainda um som pendendo para a disco music, mas com uns barulhinhos eletrônicos que já dão a cara para o disco novo.

Outro destaque é Human Nature, já do lado B do disco (ou a sétima faixa, se estiver com uma fita K7 no walkman). A canção tem letra original do tecladista Steve Porcaro, da banda Toto e a ideia de inclui-la no disco de Jackson foi de Quincy Jones, que pediu para John Bettis refazer alguns versos. Inclusive, há membros do Toto tocando nesta e em várias outras faixas do LP. Todo mundo sabe que os músicos da banda são alguns dos melhores da música americana e, por isso, gravam com vários músicos famosos.
Com um investimento pesado da CBS — ainda não se sabe se o disco sairá no formato de CD —, Thriller, com suas nove faixas, é uma revolução na carreira de Michael Jackson. Traz vários novos elementos à sua música, tira de cima do artista aquele arzinho dos anos 70 e aponta para o futuro. A produção caprichadíssima de Jones mira tanto o público negro quanto o branco, inclusive aqueles que curtem o rock tão celebrado pela MTV. Pode dar errado? Pode. Mas também pode dar muito certo e, se isso acontecer, Thriller será um trabalho que as pessoas continuarão falando sobre daqui a 20, 30, 40 anos.
* O álbum Thriller, de Michael Jackson, completou 40 anos de lançamento neste dia 30 de novembro.