Titãs faz show intimista com o auxílio luxuoso de Ney Matogrosso, Roberto de Carvalho e Luiza Possi
Banda mostra, em São Paulo, hits dos anos 80, 90 e 2000, e também canções mais recentes, como ‘Apocalipse Só’
Em 2023 aconteceu a megaturnê que reuniu a formação clássica do Titãs pela primeira vez em décadas e o resultado foi incrível: estádios lotados por todo o Brasil. Mas a banda, antes do retorno da turma toda, estava reduzida a apenas três integrantes. E todo mundo tinha na cabeça a pergunta se o trio continuaria em atividade após os shows da reunião.
Aparentemente, a dúvida estava só com os fãs mesmo. É que Tony Bellotto, Sérgio Britto e Branco Mello, os três que hoje formam o grupo, gravaram o projeto rapidamente o álbum Microfonado, com releituras de clássicos da banda com a participação de convidados, e agora já estão numa nova turnê pelo país.
O show, que aconteceu nesta terça-feira (22), no Teatro Bradesco, na zona oeste de São Paulo, é praticamente o oposto das apresentações do ano passado. Enquanto aquele era grandioso e barulhento em vários momentos, o de agora é intimista, com os músicos sentados em cadeiras no palco e com iluminação bonita e sóbria. O repertório também é diferente, mas não se trata de um show acústico. Continua tudo elétrico por ali. Os três titânicos têm como músicos de apoio o baterista Mario Fabre e o guitarrista Beto Lee, filho de Rita Lee e Roberto de Carvalho.
Para mostrar que não estamos frente a uma apresentação mais calminha, o show começa com Lugar Nenhum, cantada por Branco Mello, o que já causa uma certa comoção, por conta de sua voz. Ele passou por cirurgias para tratar um câncer na garganta, o que alterou totalmente seu modo de cantar. A certa altura da apresentação, Branco diz “esta é a minha nova voz”. Claro que o titânico foi totalmente ovacionado pelo público e é mesmo sensacional vê-lo ali no palco, tocando o contrabaixo e cantando. Superação total novamente, uma vez que ele participou da turnê de 2023 nas mesmas condições.
Britto assume os vocais na sequência, com Aluga-se, de Raul Seixas. O vocalista e tecladista se levanta da cadeira, vai até a frente do palco, dança, pula e dá uma agitada na plateia. Os hits clássicos vão aparecendo com Tô Cansado, Polícia e Cabeça Dinossauro. Todas estas canções famosas e pesadas — não dá para mentir — ficam um pouco estranhas nesse formato com menos integrantes e com a banda sentada. Há um certo estranhamento inicial, especialmente para quem os viu em 2023, mas logo você se acostuma. Ainda mais prestando atenção às guitarras de Bellotto e de Beto Lee, que interagem bem.
A primeira participação especial da noite é de Luiza Possi, que sobe ao palco para cantar Pra Dizer Adeus e Televisão.
Nesta formação de trio, Britto canta muitas músicas e, depois da saída de Luiza, manda ver com Epitáfio, Como É Bom Ser Simples (uma das mais recentes do grupo), Enquanto Houver Sol e Go Back.
Victor Kley é chamado para cantar Isso e Marvin. Esta última ele também canta com o Titãs no Microfonado. Apesar de simpática, a participação de Kley não chegou a mover montanhas. Inofensiva.
Tony Bellotto ficou com os vocais de Sonífera Ilha, que deu uma sacudida no público. Branco cantou outra, A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana e foi novamente muito celebrado pelos fãs.
E aí é chamado ao palco um convidado pra lá de especial: Roberto de Carvalho. Ele tocou sua guitarra na música Caos, inédita gravada pelo Titãs no álbum Olho Furta-Cor, lançado em 2022. O legal aqui é que esta canção é uma composição em conjunto de Roberto e Rita, junto com o filho dos dois, Beto. E como já estava por ali mesmo, o guitarrista ficou no palco, ao lado de Beto, até o fim do show.
Outro grande momento foi a participação de Ney Matogrosso em Apocalipse Só — “adoro essa música”, disse ele — e Comida. A última música antes do bis é Flores, com Branco.
O Titãs voltou para encerrar a noite com dois clássicos: Homem Primata e Bichos Escrotos. Foi o fim de uma apresentação que não é tão poderosa quanto as da turnê do ano passado, e nem tinha como ser. O trio remanescente fez o que tinha de fazer, que era se reinventar para seguir em frente da maneira que é possível. E acertaram.
A gente pode até questionar se o álbum Microfonado, que gerou esta nova turnê, foi mesmo o melhor caminho a ser seguido, afinal é mais uma revisão da obra da banda. Mas, vendo o show, não dá para negar que Branco, Britto e Tony conseguem honrar o legado do Titãs mesmo com vários integrantes a menos. Não estão ali fazendo cover de si mesmos.
O trio mantém a essência camaleônica do grupo, o que é ótimo.
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