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Odair Braz Jr - Blogs

Titãs tira rock brasileiro das catacumbas e faz show histórico em São Paulo

Banda fez seu segundo show na capital paulista neste sábado (17) e tocou seus hits para um Allianz Parque totalmente cheio

Odair Braz Jr|Do R7

Nando Reis, Sérgio Britto e o guitarrista Tony Bellotto no show do Titãs no estádio do Palmeiras
Nando Reis, Sérgio Britto e o guitarrista Tony Bellotto no show do Titãs no estádio do Palmeiras

Dá para detonar esta turnê comemorativa do Titãs de muitas maneiras. É possível dizer que é uma ação entre amigos, que é caça-níquel, que é pura nostalgia (e é) e por aí afora. Mas é impossível ignorar o que de fato esses shows de reunião representam, que é o resgate do rock brasileiro para uma geração inteira de pessoas que não viram e não viveram tudo o que foi esse momento da música brasileira nos anos 80 e em parte dos 90.

A coisa toda já começa de um jeito inédito para 99% do público que estava lá. Certamente a maioria das pessoas que foram ao Allianz Parque na noite deste sábado (17) — e também na sexta e neste domingo (18) — nunca viu uma banda de rock bem-sucedida tocar para um estádio lotado, com cerca de 50 mil pessoas. Sim, com ingressos esgotados para os três dias. No Brasil, não há mais nenhum grupo de rock que consiga fazer isso, coisa que acontecia com certa frequência no passado com Legião Urbana, RPM, Paralamas, Kid Abelha, entre outros. Hoje, simplesmente isso não é mais possível.

Então, o retorno temporário do Titãs é algo absolutamente educativo, porque mostra para um monte de gente — inclusive empresários e gravadoras — que dá para apostar num outro gênero que não seja apenas o sertanejo, funk ou coisas assim. Tudo bem que o Titãs é uma banda consagrada e que se baseou apenas no passado para esta turnê, mas mostra que dá sim para atingir um público grande. Há mercado para isso ainda, mas tem de saber fazer, claro.

E os sete integrantes originais da banda — mais o guitarrista convidado Liminha, que produziu vários álbuns do grupo — conseguiram mostrar uma conexão com os fãs e uma integração entre si que simplesmente contagiou o estádio inteiro. Sobre um palco gigante, com telões enormes de alta definição, muito bem decorado e com ótimos vídeos, Paulo Miklos deu início à festa com Diversão. A música — e praticamente todas as outras — foi cantada pelos fãs do primeiro ao último verso. E aí era possível ver gente de todas as idades acompanhando um dos vocalistas do grupo. É verdade que a predominância era de gente que já passou dos 40 anos, mas tinha sim um pessoal mais novo.


Foram seguindo os hits — Desordem, Homem Primata, Cabeça Dinossauro, Comida, O Pulso —, e a empolgação dos fãs não diminuía. Dava para ver que as pessoas estavam realmente felizes de ver o Titãs completo (sem o guitarrista Marcelo Fromer, que morreu em 2001) e mandando ver no estádio do Palmeiras. E também era impossível não notar a alegria dos próprios músicos por estarem ali naquele momento e tendo a recepção que tiveram.

Titãs entrando no palco para dar início à apresentação
Titãs entrando no palco para dar início à apresentação

Outra forte emoção aconteceu quando Branco Mello — um dos três integrantes que ainda estão na banda atualmente — assumiu o microfone para cantar a terceira música da noite, Tô Cansado. Ele conversou com os fãs e mencionou o tratamento pelo qual passou nos últimos anos para enfrentar um câncer na garganta. Com a voz muito rouca, ele disse que estava feliz de estar sobre o palco e contente de poder cantar para todo mundo. E foi o que fez nessa e em outras canções.


Claro que a presença dos integrantes que saíram do Titãs faz toda a diferença. A banda, antes da reunião, formada apenas por Branco Mello, Sérgio Britto e Tony Bellotto tocava junto de outros músicos contratados, mas apenas os três formavam o grupo. E agora, com Nando Reis, Paulo Miklos, Arnaldo Antunes e Charles Gavin, a dinâmica do show é completamente outra. Sem dúvida, muito melhor, porque é a coisa completa e com todas as nuances possíveis.

Nando, Miklos, Arnaldo e Charles assumem o controle da apresentação várias vezes e dão tudo o que o público espera. Apareceram aí momentos catárticos como O Pulso, Marvin, entre outras.


Para um certo delírio geral do povo, o show tem até um momento acústico, com todos os integrantes sentados em cadeiras e com uma bateria menor de Charles Gavin bem à frente no palco. Foi nesse set sem guitarras que o Titãs relembrou músicas que foram hits dos álbuns acústicos que lançou no fim dos anos 90 até meados de 2000. Surgiram Epitáfio, Pra Dizer Adeus, Os Cegos do Castelo e com a participação de Alice Fromer, filha de Marcelo Fromer, rolaram Toda Cor, Não Vou me Adaptar e até uma homenagem a Rita Lee com Ovelha Negra.

Já próximo do fim do show, mais hits eternos como Flores, Televisão, Porrada, Polícia, AA UU. A noite terminou com o primeiro hit do Titãs, Sonífera Ilha.

Branco Mello, Arnaldo Antunes e Sérgio Britto
Branco Mello, Arnaldo Antunes e Sérgio Britto

Sim, esta turnê do Titãs — e este show — é lotada de saudosismo, não há músicas novas nem haverá. Acabando a excursão, a princípio, é cada um para seu lado novamente e aquele abraço. Mas tudo isso também é um registro histórico para a música e o rock brasileiro. No futuro, em algum livro sobre o assunto, esta turnê titânica será lembrada como um resgate, talvez um canto do cisne do rock nacional.

P.S.: Muita gente que estava em setores da pista reclamou do péssimo som no estádio. Tudo absolutamente abafado. Quem estava mais à frente, na pista Premium, por exemplo, não sentiu esse problema. Mas quem estava mais atrás, sim. Isso é algo que não pode acontecer em uma apresentação desse nível.

As músicas da noite:

Diversão, Lugar Nenhum, Desordem, Tô Cansado, Igreja, Homem Primata, Estado Violência, O Pulso, Comida, Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas, Nome aos Bois, Eu Não Sei Fazer Música, Cabeça Dinossauro. Set Acústico: Epitáfio, Os Cegos do Castelo, Pra Dizer Adeus, Toda Cor, Não Vou me Adaptar, Ovelha Negra (fim do set acústico). Família, Go Back, É Preciso Saber Viver, 32 Dentes, Flores, Televisão, Porrada, AA UU, Bichos Escrotos, (bis) Miséria, Marvin, Sonífera Ilha.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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