Verstappen, com a bandeira da Holanda, passa por trás de Hamilton no pódio de Abu Dhabi
Andrej Isakovic/AFPAtualização: Tem muita gente me perguntando nas redes sociais o motivo de eu não ter comentado no texto abaixo o toque de Hamilton em Verstappen na prova de Silverstone (Inglaterra), o que resultou numa batida forte do holandês e sua consequente saída da corrida. Vamos lá: Assim como diversos outros colunistas/comentaristas, minha análise sobre este episódio é que o toque de Hamilton foi totalmente involuntário e um lance normal de corrida. Verstappen arriscou a ultrapassagem naquele ponto — estava em seu direito de fazê-lo —, forçou acreditando que o inglês tiraria o pé, mas ele não tirou — estava em seu direito de não fazê-lo — e deu no que deu. Repito: não vi (e vários comentaristas também não viram) Hamilton agindo deliberadamente para tirar Verstappen da prova. Já o piloto da Red Bull, em diversas oportunidades ao longo do campeonato, pilotou perigosamente, buscando o toque para ver qual seria o resultado, afinal ele estava na frente em pontos e levaria vantagem caso Hamilton abandonasse. Basicamente é isso. Abaixo, está o texto publicado ontem.
2021 foi mesmo uma das melhores temporadas da Fórmula 1 de todos os tempos, com o campeonato sendo decidido na última volta da última corrida. Max Verstappen venceu na pista ao fazer a ultrapassagem em cima de Lewis Hamilton após a relargada. Mas tem alguns pontos importantes que merecem ser discutidos.
O primeiro, e mais rapidinho é que — vamos combinar — Verstappen, da Red Bull, venceu a corrida por um golpe de sorte. Faltando nove voltas para o final da prova, Hamilton, da Mercedes, estava onze segundos à frente de seu rival, que ainda tinha trânsito pela frente. Se o retardatário Nicholas Latifi não tivesse batido, o que provocou a entrada do carro de segurança, Hamilton conduziria seu carro — talvez — com algum aperto até a linha de chegada e seria campeão. Ok, o imprevisto de Latifi acontece, é coisa de corrida e é algo que pode mesmo mudar um resultado. Como mudou neste domingo. Mas ali, pau a pau, sem interrupções, dificilmente Hamilton perderia o título.
O segundo ponto é o seguinte: Verstappen leva para casa um título manchado. Em muitos momentos nesta temporada ele jogou sujo com Hamilton, extrapolou o limite do esporte. Em outros tempos, as manobras ilegais do holandês para cima do inglês seriam punidas com perda de pontos e/ou posições. E o piloto da Red Bull teria que ter sofrido penalidades pesadas em pelo menos três oportunidades neste ano.
Verstappen deveria ter sido punido em Interlagos, quando impediu de forma irregular uma ultrapassagem de Hamilton. É que o inglês acabou vencendo a prova aqui, então ninguém ligou muito.
Na prova da Arábia Saudita, no domingo passado, Verstappen repetiu a manobra de Interlagos. Pior do que isso, o piloto da Red Bull pisou no freio intencionalmente no momento em que deveria dar passagem a Hamilton por uma punição que recebeu. A freada aconteceu quando a Mercedes estava embutida na traseira do carro do holandês. Desta vez, a direção da prova decidiu penalizar Verstappen em 10 segundos após o final da prova. O que não mudou absolutamente nada, já que ele não perdeu a segunda colocação e nem pontos.
Isso para não falar, por exemplo, da corrida em Monza, na Itália. Verstappen viu que seria ultrapassado por Hamilton e simplesmente jogou o carro em cima da Mercedes, o que fez com que os dois saíssem da prova.
Muita gente pode dizer que são coisas de corrida mesmo, e que acontecem. É verdade que toques existem, que tentar impedir a ultrapassagem do rival é do esporte, mas sempre há um limite de até onde se pode ir. No futebol, por exemplo, um jogador não pode quebrar a perna do goleiro para fazer um gol. E o que Verstappen tentou fazer — fez em algumas vezes — foi isso, quis quebrar a perna do Hamilton. Apostou várias vezes e foi na base do “vamos ver no que dá”. Escapou de punições mais sérias e virou campeão mundial.
Me parece errado.
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