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Se eu fosse eu

Só Clarice me entende?

Se eu fosse eu|Renata ChiarantanoOpens in new window


Quem nunca leu um texto de Clarice Lispector que imagine a primeira palavra. Nos anos finais de vida, a escritora precisou encarar o pior dela mesma. Solidão, ansiedade... vontade de se entender e de entender os outros.

De infância difícil com o exílio – Ucrânia/Brasil, e a perda da mãe aos 10 anos, a escritora carregou na tinta as tristezas, aflições e medos. “Recuso-me a ser vencida”, vociferou. Em muitos momentos, tentou “ser mais forte do que ela”. “Não teve medo de não ser compreendida”.

Não ter Medo de não ser Compreendido

Clarice lutou contra Clarice em vários momentos da vida. Sem trabalho e perspectiva, quantas vezes o consolo foi Ulisses, o vira-lata companheiro?

Clarice e Ulisses

Não havia streaming, redes sociais, internet. Era ela com ela mesma. A máquina de escrever no colo a todo vapor ajudou a traduzir o que as mulheres sentiam. Na coluna do jornal Correio da Manhã, era Helen Palmer. Mas era ela mesma. Sob pseudônimo, Clarice escreveu o fácil, o agradável, o sonho. Deu conselhos de etiqueta, moda, dieta e criação dos filhos.


“Quem é que você deve imitar?”, pergunta num texto. “A questão está toda aí: você deve imitar você mesma”. Clarice imitou Clarice em vários momentos da vida. Judia, estrangeira, mulher de língua presa, separada no fim da vida, filho com esquizofrenia... Se ela conseguiu superar a solidão, ansiedade... a tristeza? Ela conseguiu colocar tudo pra fora o que só ela sabia que tinha por dentro. A tecla A da máquina de escrever calejada bateu o A de agora. “Se há de se escrever, que ao menos não se esmaguem com as palavras as entrelinhas.”

“Se há de se escrever, que ao menos não se esmaguem com as palavras as entrelinhas.”

Entre atos e desatos, cinquenta e sete anos de uma breve vida buscando a luz. Só Clarice entendia a ela mesma. Dizem que Ulisses também. Ela disse. Dizem que muitos leitores também. Ela disse. Ela, que era tímida arrojada. Ela, que só conseguiu a simplicidade através de muito trabalho. Ela, que hoje ajuda muitas Helens Palmers a se superar. A se entender. A se encontrar. Ela... onde está ela?


Não sei, mas só Clarice me entende.






Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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