Promotores acusam donos de imóveis de usar IA para aumentar aluguéis ilegalmente
Departamento de Justiça dos EUA afirma que a atuação das seis empresas custou aos inquilinos US$ 3,8 bilhões só em 2023
Um software de IA está no centro de um processo movido pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos, que acusa proprietários de imóveis do país de usar o algoritmo para combinar preços e gerar prejuízos gigantes aos inquilinos.
Segundo o processo, movido na terça-feira (7), seis dos maiores proprietários de imóveis do país usaram o RealPage, um programa para gerenciar propriedades, para fixar preços e acabar com concorrentes. Em agosto, a própria RealPage foi processada por práticas ilegais.
A investigação das ilegalidades durou dois anos (PDF), e apontou que as empresas causaram prejuízos de mais de US$ 3,8 bilhões aos inquilinos, só em 2023. Juntos, os seis grandes proprietários administram 1,3 milhão de propriedades, em 43 estados dos EUA.
Em um resumo sobre o caso, a procuradora Doha Mekki, da Divisão Antitruste do Departamento de Justiça, afirmou:
“Enquanto os americanos em todo o país lutavam para pagar por moradia, os proprietários nomeados no processo de hoje compartilharam informações confidenciais sobre preços de aluguel e usaram algoritmos para coordenar a manutenção do preço do aluguel alto.”
A investigação foi iniciada após uma longa matéria do site de jornalismo investigativo ProPublica mostrar como o software YieldStar, da RealPage, “usa um algoritmo misterioso para ajudar proprietários a oferecer os aluguéis mais altos possíveis aos inquilinos”.
Senadores do país demonstraram preocupação após as revelações, e associações de inquilinos entraram com processos em diversas cidades do país. Cidades como São Francisco e Filadélfia proibiram o uso de programas do tipo.
A investigação também afirmou que as empresas revelaram os preços que cobram de aluguéis em ligações telefônicas ou em mensagens de fóruns da RealPage. Os dados coletados pelos algoritmos não são públicos, o que seria outra ilegalidade.
A IA da RealPage age para que os preços sejam os maiores possíveis, levando em conta os praticados por outros administradores de imóveis e garantindo maximização de lucros. De certa forma, as grandes empresas do tipo acabam por agir como um cartel, sem a necessidade de reuniões frequentes.
A investigação concluiu que a precificação por IA resulta numa alta de US$ 70 mensais para cada imóvel. Nas maiores áreas metropolitanas, que possuem alta demanda por moradias, a alta chega a US$ 100.
Acordo
Os promotores do caso ofereceram um acordo para as empresas, com valores ainda não divulgados. Ao menos uma das acusadas, uma empresa chamada Cortland, aceitou o acordo e afirmou que não usará mais dados que não são públicos em sua precificação.
A maior administradora de imóveis do país — Greystar, também implicada no caso — afirmou em comunicado que está “decepcionada” com a atuação do Departamento de Justiça, e disse nunca ter praticado ilegalidade de preços. “Em nenhum momento a Greystar se envolveu em quaisquer práticas anticompetitivas”, disse o comunicado.