Troca de emails revela que criadores do ChatGPT temiam liderança autoritária de Elon Musk
Dono da Tesla processou a OpenAI, alegando que a organização abandonou seus princípios de criar uma IA sem intenção de lucros
Um processo judicial dos grandes coloca de um lado Elon Musk e do outro Sam Altman. Um é o homem mais rico do planeta, e agora oficialmente integrante do segundo governo de Donald Trump na presidência dos Estados Unidos. O outro é fundador e atual CEO da OpenAI, criadora do ChatGPT. O embate revelou de forma inédita uma troca turbulenta de mensagens internas da empresa.
O processo foi movido por Musk contra a OpenAI, e alega que a empresa abandonou sua missão original de não ter fins lucrativos. A contenda foi aberta em março, encerrada em julho e reaberta em agosto, e já envolve até mesmo a Microsoft, que injetou bilhões na criadora do ChatGPT.
Os trechos mais reveladores estão em emails de 2017 de Ilya Sutskever, cientista-chefe da OpenAI, dirigido a Elon Musk, que mostram as preocupações da equipe de desenvolvedores quanto a liderança do bilionário, que na época pretendia ser CEO da organização.
“A estrutura atual fornece a você um caminho onde você acaba com controle absoluto unilateral sobre a AGI [inteligência geral artificial]. Você declarou que não quer controlar a AGI final, mas durante essa negociação, você nos mostrou que o controle absoluto é extremamente importante para você.
“Por exemplo, você disse que precisava ser CEO da nova empresa para que todos soubessem que você é quem está no comando, embora também tenha dito que odeia ser CEO e preferiria não ser.
Portanto, estamos preocupados que, à medida que a empresa faz um progresso genuíno em direção à AGI, você opte por manter seu controle absoluto da empresa, apesar da intenção atual em contrário.”
Sutskever também expressou preocupações quanto ao próprio Sam Altman, dizendo que não era possível “confiar totalmente nele”.
“Não entendemos por que o título de CEO é tão importante para você. Seus motivos declarados mudaram, e é difícil realmente entender o que está motivando isso.”
A troca acalorada de mensagens parece um prelúdio da maior crise da empresa: em 17 de novembro de 2023, o conselho da OpenAI demitiu Sam Altman do posto de CEO, alegando que não tinha confiança em sua liderança e em como ele lidava com a segurança da IA desenvolvida pela empresa.
Cinco dias depois, ele voltou ao posto, após forte pressão da Microsoft, que investiu cerca de US$ 11 bilhões após encher os olhos com o sucesso meteórico do ChatGPT.
Batalha de egos
A disputa por vezes agressiva é complexa: Musk foi um dos fundadores da OpenAI, criada em dezembro 2015, e deixou o conselho da empresa em 2018, alegando conflito de interesses por também desenvolver uma IA na Tesla. Um ano depois, deixou de ser doador da empresa, após sérios desentendimentos com outros fundadores e diretores da organização. E parte dessa batalha está exposta nos emails, e revela que ele queria deter o controle total da OpenAI.
A missão original da OpenAI era criar uma inteligência artificial poderosa para o desenvolvimento e melhoria da humanidade — daí o fato dela não ter fins lucrativos. O conselho da organização sem fins lucrativos era detentor do controle da empresa com fins lucrativos, o que de forma resumida significa que investidores nunca poderiam controlar as principais decisões da empresa.
Mas, em parte, Musk está certo: em setembro, após os bilhões investidos da Microsoft, a empresa confirmou que está se reestruturando para ter fins lucrativos. A estimativa do mercado é que a OpenAI chegue a valer US$ 150 bilhões após a reestruturação.
Após a confirmação das mudanças, a chefe de tecnologia da OpenAI, Mira Murati, anunciou a saída da empresa após quase sete anos. O cofundador John Schulman também saiu na mesma época, mostrando que as mudanças dentro da criadora do ChatGPT podem ser mais intensas do que meras mudanças hierárquicas.