Atrasos na programação eram comuns e um show especial de Dorival Caymmi no Canal 7 ficou para o fim do dia. Quando finalmente recebeu a ordem para colocar o programa no ar, Nilton Travesso lançou a vinheta de abertura: "Com patrocínio das tintas Facit, a Record tem o prazer de apresentar o grande cantor e compositor Dorival Caymmi". Um silêncio tomou conta do principal estúdio da emissora. Ninguém ouvia a voz do cantor de Maracangalha. Sua morosidade já era famosa, mas nada justificava aqueles minutos de atraso, uma eternidade para a televisão.
Dorival Caymmi
Biografia Dorival CaymmiSegundo conta o livro Marechal da Vitória – Uma História de Rádio, TV e Futebol (de Tom Cardoso e Roberto Rockmann, ed. A Girafa, 2005), Nilton Travesso foi procurá-lo no camarim, mas ele já estava longe dali. Pegou o último trem para o Rio de Janeiro. Caymmi era grato a Paulo Machado de Carvalho, mas não o suficiente para esperar o longo atraso, tomar coragem e entrar num avião àquela hora da noite.
O compositor baiano era grato a Paulo Machado por contratá-lo num momento difícil de sua carreira, como relatou na biografia O Mar e o Tempo, publicada pela neta, Stella Caymmi:
Caymmi voltou muitas outras vezes a São Paulo. Ele chegou a ter um programa as terças-feiras na emissora. Como convidado especial ou como vencedor do mais badalado prêmio da TV Record e da televisão brasileira, o Roquete Pinto. Criado em 1950 por Blota Jr. para homenagear os melhores profissionais do rádio, a cerimônia foi adaptada para a televisão com grande sucesso, em 1953. Premiava-se desde o cantor do ano ao melhor contrarregra. Ganhar um Roquete Pinto era sinônimo de status e de projeção profissional. Por muito tempo correu a lenda de que quando um funcionário da Record reclamava aumento salarial, recebia um Roquete Pinto para ficar quietinho.
No próximo post: Festival da Velha Guarda.
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