O reinado das garotas-propaganda
Ao vivo, com o bordão 'amiga telespectadora', elas sempre começavam a descrever as qualidades do produto que anunciavam
Testemunha da História|por Gilson Silveira
![Garota-propaganda na Record](https://newr7-r7-prod.web.arc-cdn.net/resizer/v2/P55J3IJU45NK5DOD5CE3M2NANQ.jpg?auth=df817fc4ceee95c6ed8a19ee4715a52ee2328ac209411e797f5884bc7c17910b&width=1500&height=1201)
Ironicamente, a precariedade na produção e veiculação de comerciais acabou tornando as garotas-propaganda o primeiro fenômeno popular criado pela TV. Vindas do rádio, em que interpretavam personagens nas radionovelas, elas sempre começavam a descrever as qualidades do produto que anunciavam com o bordão: "Amiga telespectadora". Tinham excelente capacidade de decorar o texto, acompanhado o tempo todo por um simpático sorriso.
Eram talentosas também na arte do improviso e das armadilhas de um comercial ao vivo. Eram rigorosamente selecionadas para levar credibilidade e um ar moderno para a publicidade da época. Em certa ocasião, uma das garotas-propaganda teve de usar rapidamente sua criatividade para esconder um erro do assistente de produção ao anunciar um spray que evitaria que as meias-calças de nylon se desfiassem. O assistente se esquecera de passar o spray na meia, cuja resistência seria testada na lâmina de uma faca. Na primeira facada, no ar e ao vivo, a meia se esgarçou toda. Com raciocínio rápido, calma e serenamente a garota falou: "É isso, minha amiga telespectadora, que acontece quando você não usa o spray...".
![Idalina de Oliveira](https://newr7-r7-prod.web.arc-cdn.net/resizer/v2/ROD42M6BR5OPTKQHOCTX4AGRFA.jpg?auth=050f22096b593d0c9065e8b0d7033d146f6ac041a2eaa9a6be853aaa863ced08&width=1500&height=1569)
O cast de garotas-propaganda da Record incluía Idalina de Oliveira — a mais famosa de todas —, Luci Reis, Meire Nogueira, Neide Alexandre e Wilma Chandler. Elas se tornaram tão populares que, a partir de 1957, foi criado um concorrido concurso entre todas as emissoras para eleger a Miss Propaganda do Ano. O reinado delas, porém, foi curto: durou só até o início dos anos 60, quando a chegada do videoteipe acabou com os comerciais ao vivo.
Idalina sofria com as brincadeiras de Antonio Augusto Amaral de Carvalho, o Tuta, diretor técnico. Toda vez que ela entrava para fazer um comercial ao vivo, era obrigada a passar por um teste de fogo. Enquanto mantinha o sorriso intacto e narrava as vantagens do produto anunciado, assistia de canto de olho, sem poder reagir, ao Tuta esvaziar sua bolsa inteira, item por item, só para deixá-la nervosa. No comercial, ao ver batons, perfumes e escovas esparramados pelo chão do estúdio, Idalina não podia fazer mais nada. Logo depois, Tuta já estava jogando xadrez com Raul Duarte em algum outro canto da emissora.
Como garota-propaganda%2C anunciava de tudo%2C desde sabonete até eletrodomésticos e imóveis. Era uma época de muito improviso e algumas gafes. Uma vez%2C fiz um comercial para um anunciante que patrocinava o ‘Grande Teatro Record’. Era uma casa de toldos. Eu tinha de dizer%3A 'A Moreno Companhia Ltda'. Só que eu disse%3A 'A Monteiro Companhia Ltda'. Saiu sem querer%2C do nada. Quando terminei o comercial%2C fiquei extremamente aborrecida%2C chorei muito%2C pensei que perderia o anunciante. Mas ele me deu credibilidade%2C e eu continuei fazendo.
A mais famosa garota-propaganda seguiu carreira em outras atrações. Vamos falar de Idalina de Oliveira no post sobre o seriado Capitão 7 e nos programas Grande Ginkana Kibon eAstros do Disco.
Próximo post:Os bastidores e curiosidades das garotas-propaganda e um depoimento de Idalina de Oliveira.
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