Os segredos das garotas-propaganda

Além da beleza, elas precisavam decorar os textos e interpretar pequenas cenas criadas pelas agências.

As garotas-propaganda faziam muito sucesso e eram mais conhecidas que as artistas dos teleteatros ou apresentadoras dos musicais. Eram referência para muitas donas de casa, que copiavam suas roupas e cortes de cabelo e queriam saber seus segredos de maquiagem. Na Record, durante muitos anos, Alfredinho de Carvalho foi o responsável pela contratação das moças e pela escala de trabalho para que todo o elenco fosse aproveitado durante a semana nos intervalos dos musicais, teleteatros, humorísticos e telejornais.

Garota-propaganda na Record, em anúncio da Brastemp

Garota-propaganda na Record, em anúncio da Brastemp

Arquivo Record

Elas vestiam roupas criadas por estilistas famosos, que queriam aparecer na televisão, e usavam joias valiosas, como colares de pérolas e anéis de brilhante. "Não podíamos fazer a propaganda de qualquer jeito ou de calça comprida. Só de vestido. Então, às vezes, colocava-se uma saia por cima da calça e fechava-se a imagem no plano médio. No estúdio havia um cantinho com espelho para a gente trocar a roupa ou só a camisa, correndo, porque quase sempre tínhamos que fazer dois comerciais no mesmo intervalo. A televisão também trazia notoriedade e influenciava as pessoas. Eu usava um cabelo que se chamava gatinho, com as pontas viradas. Era um sucesso a ponto de as pessoas copiarem. Da mesma forma com as roupas. Um dia, no salão de beleza, a minha cabeleireira virou para mim e disse: 'Está vendo aquela mulher ali? Ela está copiando a sua roupa'".

Idalina de Oliveira

Idalina de Oliveira

Arquivo Record

Um segredo das meninas que se desdobravam para que tudo desse certo e nenhum anunciante reclamasse de uma propaganda errada. "No vídeo, elas sempre tinham um braço atrás da cintura, porque seguravam um papelzinho com o texto off. E, quando botavam a mão para a frente, todo mundo sabia que era para a cobertura do produto", explica Nilton Travesso no livro Biografia da Televisão Brasileira (Flávio Ricco e José Armando Vanucci, ed. Matrix, 2017).

A TV Record teve toda a importância do mundo para mim. Foi lá que eu nasci e cresci profissionalmente. Entrei muito jovenzinha e passei toda a minha juventude na emissora. Tudo começou quando fui visitar os estúdios com uns amigos e acabei sendo convidada para gravar um comercial. Evidentemente, ficou ruim. Desisti. Tempos depois dirigi-me diretamente a Alfredo Amaral de Carvalho, diretor comercial, e lá fiquei por 25 anos. Antes disso, eu só estudava. Queria ser professora. Mas dizem que nada é por acaso. Fui lá por pura curiosidade e acabei virando garota-propaganda, depois apresentadora de musicais, tive um programa feminino, o 'Jornal da Mulher', fiz uma novelinha, gravei discos, ganhei prêmios, fui atriz, enfim, um pouco de tudo diante das câmeras. E tudo ao vivo. Só tínhamos hora para entrar, não tínhamos hora para sair. Eu me lembro de um comercial que ia ao ar dentro do programa 'Astros do Disco'. Nessa época, o videoteipe ainda estava surgindo. O comercial era do fogão Wallig, cuja direção, se não me engano, era do Nilton Travesso. O comercial era eu conversando comigo mesma. Uma novidade e tanto aquele recurso para a época. Eu tirava uma roupa, gravava; colocava outra, gravava; e depois montavam. Saí do estúdio às 6 da manhã. Minha mãe não acreditava que eu trabalhava tanto. Apesar do preconceito que havia por trabalhar em TV, meus pais me davam todo o apoio. Uma vez, uma senhora foi com o filho, um garotinho, à minha casa. Minha mãe abriu, e ela lhe disse que ele queria me ver. Minha mãe explicou-lhe que eu ainda estava dormindo, mas ela insistiu e disse que ele só queria me dar um beijinho. Como eu aparecia na televisão sempre produzida, maquiada, não poderia deixá-lo me ver logo após ter acordado e por isso fingi continuar dormindo. Ele foi até o meu quarto, me deu um beijinho no rosto e foi embora, feliz. A Record era uma família para mim. Hoje eu considero a televisão uma indústria, mas naquela época era diferente. O doutor Paulo Machado de Carvalho, fundador da Record, e seus filhos — Alfredo, Paulinho Machado de Carvalho e Antonio Augusto, o Tuta — mantinham o clima de família na Record, sempre muito próximos de todos nós. A Record foi a melhor emissora na época. Era o máximo! Todo mundo queria trabalhar lá, tanto pela sua programação quanto pelas estrelas da emissora. Era um local com um ambiente muito bom. Fui muito feliz lá dentro.

Idalina de Oliveira, garota-propaganda, para o livro Record 50 Anos.

No próximo post: A chegada dos anunciantes

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