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Clássicos: Boston e seu álbum de estréia “Boston” 

Nos primórdios do “faça você mesmo”, uma banda rejeitada por quase todas as gravadoras se tornou um dos maiores sucessos comerciais da indústria musical 

Toque Toque|LEO VON, do R7

Arte por Darvin Akteson - LiquidMoonlight
Arte por Darvin Akteson - LiquidMoonlight

Hoje em dia qualquer pessoa com um computador ou um celular consegue produzir uma música. A tecnologia evoluiu de uma tal forma que com uma boa ideia, um computador e uma placa de som de duzentos dólares, conseguimos fazer um álbum inteiro no quarto de casa. Foi-se o tempo em que as gravadoras gastavam fortunas em estúdios, engenheiros e prensagem. Agora temos Billie Eilish, Avicii e tantos outros artistas que conquistaram recordes de vendas gravando em casa. Antigamente, os equipamentos eram enormes e muito caros, então para gravar assim precisavam de muito espaço e muito dinheiro, por isso somente tipos como Paul McCartney (“McCartney” de 1970) ou Neil Young (“Harvest” de 1972) tinham os recursos para isso. Mas nunca subestime o sonho e a vontade de alguém que acredita em si mesmo.

Boston
Boston

Boston é uma banda da cidade de (você adivinhou!) Boston, e seu álbum de estréia (isso mesmo!) “Boston” foi um dos raros fenômenos da história da música. Tom Scholz, um engenheiro formado e com mestrado na MIT (Massachusetts Institute of Technology), trabalhava na empresa Polaroid, estudou piano clássico quando criança e tinha o sonho de fazer a “banda de rock perfeita”. De noite fazia shows em bares e clubes na cena de Boston no começo dos anos 70 como tecladista, e guardava todo o dinheiro que podia de seu salário para investir em equipamentos de gravação. Morando de aluguel com sua esposa, transformou o porão de casa num estúdio de gravação completo, o que não deve ter sido nada barato.

Álbum "Boston"
Álbum "Boston"

Todas as músicas do álbum são boas. A genialidade de experimentação e o capricho da captação e sonoridade deu origem ao termo “Boston sound” (som de Boston). Algumas se tornaram clássicos instantâneos, tocando nas rádios internacionais à exaustão. O timbre das guitarras distorcidas com a voz limpa, brilhante e alcance impressionante era exatamente o som da “banda de rock perfeita” que buscavam desde o final dos anos 60. Uma mistura de Hard Rock e Pop, “Boston” foi essencial para a transição do Rock que usava o Blues como base para o Power Pop no mainstream americano. Um dos mais importantes da história, com certeza vale a pena ouvi-lo na íntegra. Mas a história dessa produção é até mais interessante do que importância comercial do album em si.

No começo dos anos 70, Tom Scholz e o baterista Jim Masdea, gravaram algumas demos e acabaram entrando para a banda Mother’s Milk do guitarrista Barry Goudreau. Após dezenas de vocalistas passarem por ali, finalmente encontraram um cantor com o nível que exigiam para integrar o grupo, Brad Delp. Com seis faixas compostas por Scholz, dentre elas versões embrionárias de More Than a Feeling, Peace of Mind e Rock’n Roll Band, Tom e sua esposa enviaram a demo para todas as gravadoras que conseguiram encontrar e foram rejeitados por absolutamente todas elas, incluindo uma carta extremamente ofensiva da Epic Records. Isso acabou levando ao fim do grupo. Mas Tom Scholz não iria desistir.


Tom Scholz no estúdio do porão de sua casa
Tom Scholz no estúdio do porão de sua casa

No porão da casa em que morava, fez um verdadeiro “Home Studio”, com todos os equipamentos e instrumentos, que descrevia como um "espaço minúsculo próximo à uma fornalha num porão horrível com painéis de pinho que inundava de vez em quando com sabe-se lá o quê”, e gastou todo o dinheiro que estava guardando para comprar uma casa num gravador Scully de 8-canais. Telefonou para o baterista da Mother’s Milk para regravar as baterias e depois para o vocalista Brad Delp dizendo: “Se você não quer mais fazer parte da banda, tudo bem, mas o mínimo que pode fazer é vir aqui no estúdio e cantar essas músicas pra mim”. Tom tocou todos os instrumentos com exceção da bateria e dos vocais, gravou e mixou sozinho em casa, e em 1975 a segunda demo estava pronta.

Por meio de um colega da Polaroid, a nova fita chegou às mãos de um representante da ABC Records, que telefonou para um promotor de discos independente, que telefonou para um executivo da Epic (aquela que escreveu a cartinha ofensiva), e que finalmente telefonou para Scholz oferecendo um contrato. A proposta vinha com uma condição, uma apresentação para os executivos da CBS já que estavam todos extremamente curiosos já que a “banda” na realidade era um “cientista louco que trabalhava no porão de casa”. A demo era tão boa que a gravadora queria que ela fosse praticamente replicada, só que dessa vez num estúdio profissional. Scholz se recusou, mas não disse para ninguém da gravadora. Ao invés disso, “contratou” um amigo de um amigo, o produtor John Boylan, cuja função era fingir que estava encarregado da produção e deixar a gravadora feliz. Todos os dias, Tom Scholz, que pediu afastamento da Polaroid por um tempo, gravou e regravou os instrumentos incessantemente, até atingir um som “perfeito”. Alguns dos efeitos de guitarra foram projetados por ele mesmo.

O disco foi lançado em Agosto de 1976 e se tornou o álbum de estreia de um grupo americano que mais vendeu até então. Em três semanas ganhou disco de ouro passando das 500,000 unidades vendidas, em três meses à disco de Platina (com mais de 1,000,000 em vendas), e em 2003 foi alcançou 17x Platina. Essa é a prova de que um sonho com talento e perseverança, pode te levar à lugares nunca imaginados. A lição que fica é: não desista... e se ninguém fizer por você, faça você mesmo!

Boston ao vivo nos anos 70
Boston ao vivo nos anos 70

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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