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Clássicos: Iron Maiden - "Somewhere in Time"

Depois de me apaixonar pelo som da banda Iron Maiden, foi após ouvir "Somewhere in Time" pela primeira vez que me tornei um verdadeiro Trooper. Up the Irons!

Toque Toque|LEO VON, do R7

Semana passada contei como foi a experiência de quando me tornei fã de Iron Maiden. LEIA AQUI. O artigo de hoje continua essa jornada de descoberta musical. 

Capa do álbum Somewhere in Time
Capa do álbum Somewhere in Time

6:30 da tarde. Desliguei o computador do escritório, apaguei as luzes e a máquina de café, me despedi de quem ficava e desci as escadas do prédio. A passos largos, literalmente, fui até o estacionamento onde parava o carro, uns 5 minutos andando. Sinal vermelho para pedestres na esquina e eu já estava com as pernas tremendo de ansiedade. Fazia tempo que não ficava tão empolgado assim para ouvir algo novo. Era como esperar a manhã de Natal com 7 anos de idade. Sinal verde e eu já não estava mais andando. Fui correndo até o estacionamento. Peguei a chave, agradeci o manobrista e parti para a faculdade. Claro, esqueci de colocar o CD no porta-malas mais uma vez. Cara burro, afobado! A pressa é inimiga da perfeição, fato! Primeiro semáforo coloquei a marcha no “parking”, desci e coloquei o recém comprado “Somewhere in Time” no magazine de CDs. Ufa, agora vai!

World Slavery Tour '84/85

Em 1984, o Iron Maiden já era um dos grupos mais bem sucedidos no Heavy Metal. Em Agosto daquele ano, saíram para a turnê do álbum “Powerslave” chamada “World Slavery Tour”. Essa foi a excursão mais longa e árdua da banda até hoje, começando na Polônia e terminando na Califórnia em Julho de 1985. Foram 331 dias, 189 shows, incluindo a estréia do Rock in Rio aqui no Brasil, onde tocaram para o maior público da história de sua carreira, 350.000 pessoas aproximadamente, na mesma noite que o Queen. Foi nesse show que Bruce Dickinson acidentalmente se cortou no supercílio com a guitarra e cantou o resto do show sangrando absurdos. No final da turnê, estavam exaustos, completamente drenados de energia e saúde mental. Bruce, principalmente dizia que se sentia como um objeto, uma parte do equipamento do show, e que parecia que aquilo não teria fim.


Ligo o som do carro e sou surpreendido com um sintetizador, como um timbre de teclado. Acompanhando, as guitarras na clássica harmonia Maiden de Dave Murray e Adrian Smith. Um som etéreo, meio futurista, misterioso, bem anos 80. O riff era lindo, a textura dos instrumentos celestial. O tema repete mais uma vez e então, o baixo de Steve Harris e a bateria do Nico McBrain “rasgam” a música bem no meio e deixam bem claro: isso é Iron Maiden. A energia da música muda de repente e fica bem mais intensa, pouco antes de Bruce nos abençoar com sua voz. “Caught Somewhere in Time” era um começo brilhante para algo extremamente promissor. Foram 7 minutos do que havia sido minha melhor experiência com Iron Maiden até então.

De volta aos estúdios


Depois da tour de ‘84/85, a banda teve 4 meses para se recuperar da exaustão até entrar novamente no estúdio. Bruce começou a escrever músicas com uma direção mais acústica, provavelmente por seu cansaço causado por 11 meses de trabalho incessante, e por divergências de direcionamento musical, suas músicas acabaram ficando fora do disco. Murray, Harris e Smith, aproveitaram o tempo para experimentar com novos timbres e instrumentos como a guitarra sintetizador (aquilo que pensei ser um teclado), e chegaram ao que redefiniu sua sonoridade além de terem escrito todas as músicas, juntos e sozinhos. De volta aos estúdios, gravaram as baterias e baixos em Nassau, as guitarras e vocais na Holanda e a mixagem em Nova Iorque, mais uma vez com o gênio Martin Birch, que assinava as produções desde o primeiro álbum da banda.

“Wasted Years” foi a próxima faixa e seguia a mesma direção sonora da anterior, mas a composição era ainda melhor. Um clima pop, um refrão forte e “pegajoso” (no bom sentido), puro delírio oitentista.


“Sea of Madness” volta mais para o direcionamento de “Powerslave”, apesar dos reverbs e “atmosferas aéreas” característicos de “Somewhere in Time”. Olhava para a capa do CD sempre que parava no trânsito ou no sinal vermelho e ficava viajando até levar uma buzinada do carro de trás. Não conseguia ver os detalhes, mas a arte gráfica era tão linda quanto o som. Eu ainda estava longe da faculdade e mais perto de casa, o trânsito não andava, a música estava boa e queria ficar olhando a capa. Resolvi não ir e fui embora pra casa. Cheguei rapidinho e no caminho escutei pela primeira vez minha música preferida do disco, “Heaven Can Wait”.

Música para "ver e ouvir"

Estacionei em casa e não desci do carro. Reclinei o assento, tirei o encarte do CD e degustei cada segundo daquele momento. “The Loneliness of the Long Distance Runner” linda, “Stranger In a Strange Land” mais linda ainda, “Deja-Vu” com um dos riffs mais legais da banda, até a aula de história com “Alexander The Great (356 - 323 BC)” que encerrava o álbum. Fechava os olhos e viajava, olhava o encarte e encontrava alguns “easter eggs”, fechava os olhos de novo e entrava num mundo futurista distópico, às vezes utópico, completamente imerso naquele universo. Foi aí que me tornei um verdadeiro fã de Iron Maiden. Ele mudou muito minha forma de “ver e ouvir” música. O disco seguinte, "Seventh Son of a Seventh Son" de 1988 segue essa mesma linha e dá continuidade ao que conquistaram em 86. “Somewhere in Time” é meu disco favorito do Maiden, com certeza, mas também um dos meus preferidos de todas os tempos. Valeu Fernando Giovannetti!

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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