L’arc~en~Ciel - do Japão para o Mundo
Uma banda formada no começo dos anos 90, L’arc~en~Ciel quebrou recordes na Ásia e conquistou os ouvidos do mundo inteiro
Toque Toque|LEO VON, do R7
É Rock, é Pop, é Punk, é Dance? Difícil descrever o som de L’arc~en~Ciel, uma banda que surgiu na cena Visual Kei no início da década de ‘90 em Osaka no Japão. Visual Kei é um movimento estético japonês em que os músicos geralmente usam roupas bem chamativas e excêntricas, maquiagem pesada, cabelos extravagantes muitas vezes de forma andrógina. Seria o equivalente do Glam como Gary Glitter, New York Dolls, até o atualmente chamado Hair Metal como Mötley Crüe e Twisted Sister. Mas o Visual Kei é mais um grupo estético do que sonoro, usado por artistas de Música Eletrônica até Heavy Metal. Quem popularizou o estilo internacionalmente foi a X-Japan, uma banda de Metal japonesa dos anos 80. Mas estamos aqui para falar de L’arc~en~Ciel, um grupo tão difícil de definir musicalmente quanto o movimento em si, do qual eles mesmo se desassociaram desde seu primeiro lançamento com uma gravadora grande.
Conheci o L’arc~en~Ciel na faculdade. Quem me apresentou à eles foi o Ong, um fenômeno tipicamente brasileiro, e um dos meus melhores amigos desde o primeiro semestre da faculdade. Digo um fenômeno brasileiro porque ele é neto de chineses que imigraram para a Indonésia, e depois vieram para o Brasil. Seu pai, nascido na Indonésia, casou com sua mãe que é descendente de italianos, e ele, nascido e criado em São Paulo, era completamente apaixonado pela cultura do Japão. Nossa relação sempre foi algo incondicional, uma amizade verdadeira, e nós dois, apaixonados por música, tokusatsus, vídeo games e Hermes e Renato, sempre trocamos muitas figurinhas. Apresentei à ele o Wings do Paul McCartney, ele me apresentou Styx. Numa dessas ele me mostrou uma música chamada “Lies and Truth” do L'arc.
Imediatamente me apaixonei por aquele som. Era como uma música Disco dos anos 70 com direito à naipe de metais e cordas típicas do estilo, mas com um contrabaixo bem Punk Rock e uma guitarra meio “videogame”. Era diferente de tudo o que eu já tinha escutado. O cantor era muito interessante, claro que eu não entendia uma palavra do que dizia, e a linha melódica era claramente nipônica mas com um leve toque de pop ocidental. Muito bom! Naquela época ainda gravávamos CDs em casa com as músicas que baixávamos da internet e ele ficou feliz que eu curti o som que gravou um CD pra mim com o melhor do L’arc~en~Ciel.
A banda, formada por quatro integrantes, Hyde, Ken, Tetsu, e Sakura, composta por vocal, guitarra, baixo e bateria respectivamente, gravaram seu primeiro álbum, “Dune”, com uma gravadora independente em 1993. O sucesso foi tão grande que no ano seguinte assinaram contrato com a gravadora major, a Sony. Em 94 e 95 lançaram os discos “Tierra” e “Heavenly”. Mas em 1996 foi o ano em que lançaram possivelmente seu disco mais icônico, “True”. Esse álbum foi o primeiro a chegar a marca de 1 milhão de cópias vendidas.
O CD que o Ong gravou, ficou “morando” no meu carro durante muito tempo. Era muito interessante ouvir o alcance e variedade de estilos misturados a cada faixa. A influência Punk era nítida, principalmente no baixo e bateria, mas as guitarras eram etéreas, assim como os teclados com timbres da época e aquela melodia japonesa na voz de Hyde. Percebia referências desde U2, passando por The Clash, David Bowie, Donna Summers, até Beatles e The Who. Talvez pela minha falta de conhecimento sobre músicas do Japão, tentava buscar os equivalentes que me eram familiares, mas o som deles era uma outra evolução. Eu viajava no som de “DIVE TO BLUE”, e balançava a cabeça com “Inner Core”.
Em 97 o baterista Sakura saiu da banda após ser preso por posse de heroína e por isso as lojas terem tirado todo os discos deles das prateleiras. Yukihiro entrou em seu lugar. Mas pouco tempo depois emplacaram seu primeiro single na 1ª posição das charts japonesonas com Winter Fall do disco HEART. Depois, o lançamento dos álbuns “ark” e “ray” simultaneamente foram ao topo das paradas com o primeiro ocupando a primeira e o segundo a segunda posição ao mesmo tempo. Esses dois discos juntos com a turnê “1999 Grand Cross Tour” foi o auge do sucesso da banda com 650.000 pessoas em apenas 12 shows. O sucesso foi crescendo e batendo recordes como a venda de todos os ingressos para um show em menos de 4 minutos e a primeira banda japonesa a tocar no Madison Square Garden em Nova Iorque como evento principal.
Uma coisa que percebi foi que os Animes são o equivalente das nossas novelas. Emplacar uma música como tema em algum Anime era quase que garantia de sucesso, e é por isso que essas bandas e artistas do Japão são tão famosos em tantos países. Aqui em São Paulo, temos a maior comunidade japonesa do mundo, e muito da nossa cultura Pop são influências diretas do que acontece no Japão. O Ong e eu, saíamos da faculdade e íamos de metrô até a Liberdade, o nosso bairro japonês, comíamos doces, refrigerantes e salgadinhos importados do Japão, passeávamos pelas lojas atrás de discos, jogos e tudo mais. L’arc~en~Ciel foi, sem dúvida, nossa trilha sonora dessas época tão saudosa.
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