Estudantes desenvolvem aparelho para mulheres em transição capilar
O Ecocachos é uma mistura de escova modeladora e babyliss, pensado para modelar os cabelos sem prejudicar a saúde dos fios
Virtz|Júlia Putini, do R7*
A carioca Thamyris Costa, de 28 anos, divide seu tempo entre estudar para a faculdade de engenharia e administrar, com ajuda do marido, a lanchonete da qual é dona na cidade onde mora, em Macaé (RJ). Além de conciliar as duas atividades, ela teve tempo para mais uma: inventar um aparelho que auxiliasse mulheres que passam pela transição capilar, ou seja, que decidiram assumir os cachos e não usar mais químicas para deixar os fios lisos artificialmente.
Thamyris, que cursa o sexto período de engenharia civil, conta que a ideia surgiu por conta de uma necessidade pessoal durante esse processo, que até a deixou careca por conta dos danos capilares sofridos.
"Durante a quarentena, com mais atenção na minha transição, cheguei a uma conclusão: por que não inventam um equipamento que ajude a mulher a passar por isso sem ter a necessidade de cortar o cabelo?", questionou-se.
Eureca! Assim nascia a ideia do Ecocachos, que proporciona uma mudança gradativa, eliminando a necessidade do big chop, o grande corte feito para eliminar as partes do cabelo que ficam sem forma por conta da química que se pretende eliminar.
Depois de fazer alguns testes por conta própria em casa, ela idealizou como o protótipo deveria ser e passou a buscar empresas que pudessem desenvolver o aparelho. Em julho de 2020, ela entrou em contato com a Fluxo, uma empresa júnior da Coordenação de Engenharia Mecânica da UFRJ e, durante 116 dias, o estudo foi desenvolvido com reuniões online para acertar todos os detalhes do processo.
Para isso ser possível, três estudantes de engenharia foram convocadas para a tarefa, constituindo a primeira equipe 100% feminina: Carolina Chacon, 21 anos, que cursa engenharia mecânica; Raquel Cavalcanti, 21 anos, engenharia nuclear; e Amanda Santoro, 22 anos, engenharia naval.
"A gente só vê número no quadro e sabe como resolver, então essa é uma oportunidade muito importante de aplicar o que vemos no dia a dia. Na parte de simulação, a maior preocupação foi não exceder a temperatura de 80°C, que é justamente o que danifica o cabelo e estraga a estrutura do fio", explicou Carolina.
"Essa é uma das diferenças do Ecocachos, que não agride o cabelo e dá a liberdade de fazer os cachos do jeito que se espera mesmo durante a transição, sem ter medo do dia seguinte", completa Thamyris.
Duas etapas
O projeto é dividido em duas etapas, sendo a primeira de engenharia reversa para ver se de fato é possível tirar a ideia do papel; e a segunda, o pós-projeto, é a prototipagem com base no modelo que foi criado em 3D, onde são feitos os testes do aparelho, cujo término está previsto para o próximo mês.
No entanto, a empreitada ainda tem chão pela frente, pois é necessário obter certificação do INMETRO, além de buscar fornecedores e investidores para fazer a comercialização em grande escala.
"A minha intenção é colocar no mercado um produto que mulheres de todas as classes sociais consigam ter acesso. Não é só uma questão financeira, é muito mais social", frisa Thamyris, consciente da necessidade e do desafio que sua missão representa.
*Estagiária do R7, sob supervisão de Luciana Mastrorosa