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Brasileiras contam como é ter alopecia, a mesma doença de Jada Smith, que faz perder os cabelos

Problema de saúde, como a da atriz norte-americana, pode começar na infância e causa a perda total dos cabelos e pelos

Beleza|Luciana Mastrorosa, do R7

Fernanda de Freitas foi diagnosticada com alopecia areata aos 3 anos
Fernanda de Freitas foi diagnosticada com alopecia areata aos 3 anos

Fernanda de Freitas, de 30 anos, é uma brasileira como muitas outras. Trabalha, é casada, cuida da família e, também, de sua beleza. Mas tem uma particularidade: ela tem a cabeça totalmente lisa, sem cabelos, por conta da alopecia areata, a mesma doença que colocou a atriz Jada Pinkett-Smith sob os holofotes no Oscar 2022.

No caso de Fernanda, ela foi diagnosticada com esse tipo de alopecia aos 3 anos, quando sua mãe notou uma pequena falha em seus cabelos e a levou ao médico, que constatou a condição.

A partir daí, Fernanda, que é nutricionista e terapeuta especializada em emagrecimento, passou a maior parte da vida submetendo-se a diversos tipos de tratamento para manter os fios. E só encontrou a paz aos 25 anos, depois que decidiu raspar os cabelos que lhe restavam e assumir a nova aparência.

Jada e Will Smith, na premiação do Oscar 2022
Jada e Will Smith, na premiação do Oscar 2022

"Isso foi uma libertação para mim", conta Fernanda. Assim como ela, Jada também assumiu a cabeça raspada há poucos meses e foi alvo de uma piada do comediante Chris Rock durante a cerimônia do Oscar 2022 — o que fez com que o marido dela, o ator Will Smith, desse uma bofetada nele. Outras brasileiras também já disseram sofrer com a doença, como as cantoras Maraisa e Juliette. No caso delas, a alopecia é do tipo androgenética. 


A alopecia areata é uma doença autoimune, ou seja, é causada por uma autoagressão do sistema imunológico aos pelos e folículos pilosos, como explica o dermatologista Luann Lôbo, especialista em dermatologia clínica, em entrevista ao R7. Isso acaba ocasionando a queda dos fios de qualquer região do corpo, desde a cabeça até as axilas, sobrancelhas e região pubiana.

É diferente da alopecia androgenética, mais ligada a fatores genéticos e hormonais, e que não necessariamente causa a perda total dos cabelos, mas uma redução no volume e afinamento dos fios ao longo da vida.


Bullying e o julgamento dos outros

Assim como o mundo inteiro presenciou durante o Oscar deste ano, um dos pontos mais difíceis de lidar, para quem sofre com a perda pronunciada dos cabelos ou mesmo a calvície total, é o olhar crítico dos outros.

Fernanda conta que viu a cena do Oscar e, claro, não poderia deixar de se identificar. "Imagino que ele [Smith] já viu a sua mulher sofrer tanto que agiu como um leão para defendê-la", diz ela.


Embora hoje sua aparência e estilo de vida lhe agradem, Fernanda também já sofreu muito com os comentários das pessoas, especialmente quando era mais nova.

"Era muito triste porque eu vivia escondendo as falhas nos cabelos, ficava com medo. Eu sofri muito bullying na infância. Faz cinco anos que eu assumi a cabeça totalmente lisa. Até os 25, fiquei fazendo diversos tratamentos, teve um período em que usei peruca, e achava horrível porque suava, coçava", conta Fernanda.

"Meu maior medo era o da opinião alheia, era 100% sobre o outro. Que foi a mesma coisa que aconteceu com a Jada", opina ela.

Ana Moreira descobriu que sofria de alopecia areata aos 11 anos
Ana Moreira descobriu que sofria de alopecia areata aos 11 anos

A publicitária Ana Moreira, de 31 anos, também descobriu a alopecia quando era criança, aos 11 anos. Assim como Fernanda, submeteu-se por anos a tratamentos variados, com medicamentos e procedimentos invasivos no couro cabeludo. E, igualmente, se vê obrigada a lidar com as questões da aparência, especialmente no que diz respeito ao julgamento alheio.

Diferentementemente de Fernanda, Ana adaptou-se ao uso de peruca e ainda não se sente confortável em sair à rua com a cabeça quase sem fios.

"Recebo muitos comentários nas redes sociais falando que sou linda e realmente não tenho problema com minha imagem no espelho. Mas eu prefiro sair com peruca, ainda, porque não quero que eu seja apontada apenas como 'uma mulher que tem alopecia', mas como uma mulher normal, com trabalho, com família, com outras questões e, por acaso, que também tem alopecia", diz Ana.

A dificuldade dos tratamentos

Tanto Fernanda quanto Ana contam que a alopecia areata ainda é uma incógnita, manifestando-se de forma diferente para cada pessoa. E que, quando descobriram a doença, não havia tantos tratamentos disponíveis, o que vem mudando ao longo do tempo.

Ainda assim, são procedimentos muitas vezes dolorosos, tanto do ponto de vista físico quanto emocional.

"A alopecia não tem um prognóstico certo, o que se sabe é que pode evoluir. Tenho amigas que perderam todos os cabelos e pelos e depois os recuperaram. Quando descobri a primeira falha, fiz milhões de exames, vários tratamentos, acompanhamento psicológico. Porém, aos 16, meu cabelo voltou a crescer e, até uns 21 anos, eu recuperei uns 90% dos fios", relata Ana.

O problema voltou em torno dos 21 anos, quando Ana passava por uma fase mais estressante, com mudança de casa, faculdade, trabalho, tudo junto.

"Dessa segunda vez que a alopecia apareceu, eu até tentei dar uma chance e resolvi não tratar porque toda a experiência da primeira vez foi muito traumática, eu tomei hormônios, sentia muita dor nos procedimentos no couro cabeludo, não conseguia ter uma vida normal", conta a publicitária.

"Eu não quis um tratamento de cara e me apeguei às perucas. Só que a queda foi muito mais agressiva do que antes, a ponto de perder quase todo o meu cabelo", diz Ana.

"Nunca sofri com relacionamento, meu marido ama que eu sou careca", diz Fernanda
"Nunca sofri com relacionamento, meu marido ama que eu sou careca", diz Fernanda

Para Fernanda, o adeus aos remédios ocorreu quando ela descobriu, na faculdade de nutrição, como aqueles medicamentos todos poderiam afetar negativamente outras partes de seu organismo.

"Com meus 24, 25 anos, eu tomava doses cavalares de corticoides. Nesse um ano em que eu tomei [esses remédios], fiquei sem falhas, achei que estava curada. Mas, quando estudei farmacologia, aprendi sobre os efeitos colaterais dos corticoides e parei totalmente o tratamento", diz Fernanda.

"Comprei uma peruca lace na China, feita com cabelo natural, mas demorava 3 meses para chegar. Meu cabelo não durou esse tempo."

Liberdade e aceitação

Vendo que a situação tinha se agravado muito, a nutricionista, que na época já tinha começado a fazer vídeos no YouTube, começou a refletir sobre seu estilo de vida.

"Já estava numa pegada totalmente natural, fazia exercícios, me alimentava superbem e não fazia sentido continuar me entupindo de remédio. Eu era perita em esconder as falhas nos cabelos, mas não dava mais para esconder. Eu precisava sair à rua, precisava gravar vídeo... Foi um momento muito solitário para enfrentar meus leões", relata a nutricionista.

"Olhei pro espelho e pensei: o que eu faço? Saio com as falhas totalmente aparentes, ponho um lenço ou raspo a cabeça?" Foi aí que tomou a decisão que, segundo ela, a libertou — assumir a ausência de cabelos de uma vez por todas, abrindo mão até das perucas.

Hoje ela vive uma vida com muito mais confiança e autoestima: está casada há dois anos com Thomaz de Freitas Ayub, e à espera de Cleo, que chega em julho. 

"Se a Cleo nascer sem cabelo, minha filha já vai achar normal, porque a mãe dela já é careca. Quando raspei os poucos fios, não foi fácil, mas fui me acostumando. As crianças adoram, eu falo que sou do futuro, elas dão risada. No meu caso, os preconceitos e os medos eram meus. Pra mim foi uma libertação mesmo", finaliza Fernanda.

Ana concorda com a nutricionista. "A gente se preocupa muito com algo que a outra pessoa vai achar. Eu entendi que convivo com isso e vou conviver com isso a vida toda. Atualmente, decidi dar uma nova chance para os tratamentos mais modernos, mas sendo sincera comigo e com minhas vontades", revela a publicitária.

Por enquanto, Ana prefere usar as perucas, acessórios que a deixam mais confortável. "Não estou em fase de queda de cabelo, então preciso dar uma força pros fios nascerem, e aí avaliar se, de fato, vou seguir com os tratamentos ou assumir a cabeça sem fios", diz Ana.

"O que mudou é que agora eu consigo falar sobre isso. Eu antes escondia, não gostava de contar que tinha alopecia. Foi uma fase de muita solidão", afirma.

"Mas hoje falo abertamente e posso ajudar outras pessoas, sou casada com uma pessoa que me dá muito apoio. Um dia ele chegou pra mim e falou 'você tem como resolver isso agora? Não? Então tem que viver com isso'. E aí eu consegui voltar a trabalhar e a me enxergar de outra forma."

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