'Receita de bolo gera aberrações': os riscos da harmonização facial
Especialista afirma que exposição na mídia gerou banalização da técnica e alerta para riscos, que vão de assimetria a necrose
Beleza|Brenda Marques, do R7
A harmonização facial virou modinha entre os famosos. Muitos, inclusive, compartilham seu 'antes e depois' da intervenção nas redes sociais, prática que é proibida pelo Conselho Federal de Medicina e deixa fãs ainda mais alvoroçados na busca por um padrão de beleza inalcançável.
Essa divulgação sem moderação é apontada como um problema pela cirurgiã plástica Juliana Sales, especialista em cosmiatria, ramo da dermatologia focado em questões estéticas. A médica alerta para os riscos advindos da banalização da técnica que, de acordo com ela, corresponde a um conjunto de procedimentos estéticos já realizados há muito tempo.
"[Harmonização facial] nada mais é do que fazer um embelezamento através do uso da toxina botulínica e do ácido hialurônico, além de alguns outros elementos, como bioestimuladores de colágeno e fios de sustentação", explica ela.
"A grande questão é que, quando começa a cair na mídia, a coisa fica banalizada, no sentido de ser recorrente e não realizada por profissionais qualificados. Começou-se a criar algumas receitas de bolo: todo mundo com muita mandíbula, o nariz empinado. E disso resultam aberrações e complicações", pondera.
Assimetria, queda da pálpebra, necrose e cegueira
De acordo com ela, os riscos em decorrência da aplicação de toxina botulínica - conhecida popularmente como botox - não se restringem à aparência e podem incluir problemas funcionais ao organismo, dependendo da região do rosto em que o produto for aplicado.
"Pode dar um resultado estético ruim, como arquear demais ou provocar assimetrias nas sobrancelhas e ptose palpebral (queda ou fechamento da pálpebra superior]", exemplifica. "Dependendo da região da boca, pode gerar dificuldade para beber água e falar", acrescenta.
Juliana destaca que as complicações causadas pelo ácido hialurônico, que serve para fazer preenchimentos a fim de promover o rejuvenescimento da face, podem ser ainda mais graves, por isso, sua utilização exige um conhecimento aprofundado de anatomia e do sistema circulatório.
"Se você injetar o produto dentro de uma artéria, vai impedir que o sangue chegue àquela região e causar necrose [morte de células ou tecidos]. Isso pode ocorrer no nariz, no lábio, no bigode chinês [linha de expressão que se forma entre o nariz e o canto da boca]", explica.
A cirurgiã ainda chama a atenção para a realização de preenchimento na glabela, região que fica entre as sobrancelhas. "Ali é arriscado porque passa uma artéria que irriga o olho, então, se pegar ali [na artéria], a pessoa pode ficar cega", alerta.
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Juliana afirma que esses problemas têm se tornado cada vez mais frequentes, o que é uma consequência do aumento da realização do procedimento, daí a importância de procurar alguém devidamente qualificado na hora de fazer uma intervenção estética.
A SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica) enfatiza que os procedimentos estéticos envolvidos na harmonização facial variam conforme a análise do profissional e o objetivo do paciente, mas todos eles são considerados um ato médico, de acordo com a Lei 12842/13. Portanto, devem ser realizados somente por cirurgiões plásticos e dermatologistas.
'Cada face é única'
Juliana acrescenta que, além da escolha de um profissional adequado, para garantir que a harmonização facial seja segura e bem-sucedida, é preciso respeitar características peculiares.
"Cada face é única, então, quando a gente vai fazer harmonização facial, tem de preservar a naturalidade e respeitar as individualidades da pessoa. Você não pode querer enquadrar todo mundo em um padrão", conclui.
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