Solte esse cacho! Como abandonar a química e amar seu cabelo natural
Especialistas e influencers mostram melhor maneira de passar pela transição
Beleza|Isadora Tega, do R7
Levantamento divulgado recentemente pelo Google revelou que as buscas na ferramenta por informações sobre cabelos cacheados aumentaram 232% no último ano, o que reflete uma realidade iminente: a cada dia, mais e mais mulheres, entre famosas, como a cantora Ludmilla, e anônimas, abandonam processos químicos, como escova progressiva e relaxamento, que danificam e mudam a estrutura fisiológica dos fios, para assumir o cabelo natural.
O hairstylist Jotha Cunha, especialista em cachos do Salão 1838, de São Paulo, revela que, realmente, o número de mulheres que busca voltar aos fios naturais aumentou, o que para ele tem relação com o poder das redes sociais.
A carioca Nina Gabriella, de 26 anos e mais de 326 mil seguidores no Instagram, é uma dessas digital influencers que usam a web para propagar a ideia do amor pelo cabelo cacheado. Mas nem sempre foi assim.
"Já tive problemas com o meu cabelo. Na verdade, eu não gostava dele, mas nunca quis ele liso; eu só achava que o meu tipo de cacho não era bonito. Então, comecei a usar uma química para abrir os cachos. Mas não adianta. Conforme você vai retocando, vai escorrendo para o restante do cabelo. Acabei ficando com o cabelo superliso. Foi então que passei pela transição, mas sem saber o que era a transição"
Mas, afinal, o que é a transição?
"É aquela fase em que a mulher decide interromper os procedimentos químicos de alisamento para assumir os fios naturais. Não é simples, leva tempo e precisa ter paciência, mas é uma saga de aceitação do próprio cabelo, de revisitar sua personalidade e como você quer projetar sua beleza para o mundo", explica Jotha Cunha.
Qual é a melhor maneira de passar por essa fase?
Há mulheres que preferem radicalizar e cortar toda a parte com química, independentemente do comprimento do cabelo — o chamado corte “big chop”. Mas, se faltar coragem, o hair stylist orienta como passar pela fase com sucesso.
Como elas assumiram seus cachos e hoje influenciam milhares de mulheres a fazerem o mesmo
Além de Nina Gabriella, conheça as histórias das digital influencers Mathira Menezes e Luany Cristina, que usam as redes sociais para mostrar todo o orgulho que sentem de seus cabelos crespos e cacheados.
A relação com o próprio cabelo até conseguir assumi-lo
“Não aceitava o meu cabelo de jeito nenhum. Para a gente, que é negra e nasce com o cabelo crespo, desde muito cedo as mães já começam a alisar nossos fios. É uma coisa cultural, porque a gente sempre escuta que o cabelo crespo é feio, e as mães, para não verem os filhos sofrerem, não serem oprimidos pela sociedade, acabam fazendo isso. Eu não sabia como o meu cabelo era, mas já detestava ele. Aprendi a odiá-lo, mesmo sem saber como ele era”
“Eu alisei o cabelo durante dois anos. Eu era a única na minha família, no meu círculo social, que tinha o cabelo encaracolado. Eu me sentia estranha, me perguntava por que eu tinha os cabelos cacheados, e as minhas amigas não. Então alisei. A primeira vez gostei, já a segunda, não: acabou com o meu cabelo. Então, comecei a me olhar no espelho e pensar: ‘por que eu estou fazendo isso?’. Eu passei a não me reconhecer, me olhava e não me via. Foi então que passei pela transição capilar”
A experiência com a transição
“Eu fui a um salão para alisar o meu cabelo, como de costume, mas, nesse dia, fui muito maltratada. O cabeleireiro falou que meu cabelo era muito ruim, me humilhou na frente de todos os clientes. Durante o processo, ele me queimava, puxava meu cabelo. Eu saí do salão chorando muito. Quando eu cheguei em casa, meu noivo viu que eu estava muito mal e falou: ‘Por que você não deixa seu cabelo natural?’. E eu falei: ‘Não! Está doido? Meu cabelo é muito feio’. Foi então que fui pesquisar na internet como fazer para o cabelo cachear, e acabei encontrando também vídeos de autoestima. Vendo os vídeos, eu comecei a entender que, primeiro, eu tinha de me aceitar do jeito que eu era, aceitar meu cabelo, independentemente da maneira que ele fosse, para aí sim conseguir passar pela transição. Fiz tranças, fiquei três meses com elas, e quando minha raiz cresceu dois dedos eu cortei o cabelo. Eu pensei: ‘chega de ficar me importando com a opinião dos outros, de fazer as coisas de acordo com a vontade alheia. Eu quero tentar ser feliz, me conhecer’”
“No início, esse termo não era muito usado. Eu passei pela transição sem saber que era a transição. Pesquisei na internet referências de meninas de cachos, e na época não existia. Então, eu simplesmente fui na vontade e na sorte. Quando você tem uma referência, isso te dá muito mais força. No meu caso, não tinha, eu não sabia que era possível passar pela transição capilar, fazer o big chop, não sabia nem se os cachos iam voltar. Hoje, as meninas que não têm coragem encontram forças nas referências, seja na internet, televisão etc. Porque quando você vê uma pessoa que cortou, que passou pela transição e hoje tem um cabelo lindo e hidratado, você ganha força, e isso é extremamente importante”
“Eu levei dois anos, porque não tive coragem de cortar meu cabelo. Você só sai da transição quando tira toda a química, então às vezes só a tesoura resolve. No meu caso, como era uma química muito forte, eu fui cortando aos pouquinhos até ter o tamanho que eu achava legal”
Dica nº 1 para quem faz química e pensa em voltar ao cabelo natural: tenha certeza!
“A primeira coisa que eu digo é que tem de ter segurança, ter certeza do que você quer. Se você for viver sempre pensando no que os outros vão achar, não vive nada. Porque as pessoas reclamam o tempo todo. A gente nunca vai agradar a todo mundo. Então pense em você, no que você quer, e, se a resposta for sim, passe pela transição”
“Ter certeza de que quer passar pela transição é o primeiro passo. O cabelo influencia diretamente a nossa autoestima, por isso tem de ter certeza. Passar pela transição não é fácil, seu cabelo não vai estar bonito, porque a progressiva tem validade. A pessoa que tem de se decidir, para, quando voltar aos cachos, se aceitar. Hoje, eu paro para pensar e vejo quantas portas se abriram para mim depois que eu passei por isso. Agora, olho o mundo de uma maneira diferente. A vida se tornou mais bonita. Antes eu me prendia a padrões, e hoje, não”
“Primeira coisa: você tem esse cabelo liso porque quer, porque não se sente bonita, ou porque não se vê na sociedade? Se a sua resposta for 'queria voltar ao meu cabelo natural, mas não tenho coragem', se inspire. Tenha paciência, porque não é uma fase fácil, mas vai passar, vai valer a pena. Eu não conheço uma pessoa que tenha passado pela transição e tenha voltado atrás, que tenha se arrependido. Ouse, porque é uma fase que você está se descobrindo”
Passada a transição... como cuidar do cabelo natural e destacar os fios?
O hairstylist Jotha Cunha ressalta a importância de focar no tratamento dos fios e realizar protocolos de nutrição e hidratação, já que, geralmente, cabelos crespos e cacheados tendem a ser mais ressecados. Para destacar as ondas, o profissional indica os procedimentos ideais, que podem incluir um corte específico.
“Usar produtos para cacheadas durante o banho é o primeiro passo. Também pode apostar em cosméticos de finalização que valorizam o cacho ao longo do dia. O corte em camadas é uma boa opção para as cacheadas de cabelo longo, por exemplo. É um dos preferidos porque não tira o comprimento, oferece um balanço mais natural nos fios e combina com qualquer tipo de cacho”
Joe Rocha, diretor técnico da academia Inoar, marca dona da linha vencedora do prêmio Best of Beauty, da revista americana Allure, como a melhor para cabelos cacheados, indica quais componentes as mulheres devem buscar na hora de adquirir produtos capilares.