Diante de tantas tragédias, afinal, a vida humana vale alguma coisa?
Os episódios de Vila Cruzeiro, Texas e do brasileiro e seu cão demonstram como o ser humano é complexo diante da morte
Viva a Vida|Marco Antonio Araujo, do R7
O ser humano fracassou miseravelmente. Basta vermos o que ocorreu no dia de ontem (25). Duas tragédias de proporções terríveis, ocorridas em dois extremos das Américas, que envolvem dezenas de mortos e uma violência sem nenhum fundamento. Texas (EUA) e Vila Cruzeiro (RJ, Brasil) foram palco de mortandades inexplicáveis para o senso comum. Enquanto isso...
...a humanidade se manifestou de forma instantânea e sincera diante da morte de um brasileiro e seu cachorro, que faziam uma viagem ao redor do mundo em um Fusca. Um acidente rodoviário no também americano estado do Oregon encerrou a meiga e simpática peregrinação.
Ao saberem do trágico desfecho, os seguidores de Jesse Koz e seu cão, Shurastey, imediatamente organizaram uma bem-sucedida vaquinha para trasladar os corpos de volta para o Brasil. Rara e vitoriosa demonstração de congraçamento e compaixão, episódio incomum nos dias em que vivemos.
Já as mortes decorrentes da fúria do jovem atirador psicopata estadunidense e do suposto confronto entre policiais e traficantes fluminenses não foram merecedoras de tamanha empatia: sufocadas pelas avalanches de argumentos ideológicos sobre armamentismo e combate ao crime, essas vítimas serão enterradas em meio a polêmicas e discursos de ódio e paixão.
Há algo de realmente equivocado nas reações humanas diante das várias possibilidades que temos de morrer de forma abrupta e feroz. Ou, tomara, somos apenas criaturas complexas à espera de algum salve geral (ou salvo-conduto) para nossos momentos de frieza e indiferença. A vida, afinal, vale alguma coisa? Ou não valemos mais absolutamente nada.