Análise: Aglomerar em festa de famoso é “genocídio do bem”
Adeptos do “fique em casa” acusam aglomeração como prática genocida, mas saem de casa para... aglomerar
Patricia Lages|Do R7
Depois de uma enxurrada de críticas, a atriz Marina Ruy Barbosa tentou se desculpar – não se desculpando – pela festa que, segundo vários veículos de comunicação, reuniu 50 pessoas em uma fazenda no interior de São Paulo. Entre as diversas manifestações negativas, teve até postagem da cantora Zélia Duncan: “Nem uma vergonhazinha?” A resposta da atriz se deu por meio de declarações óbvias, como “não sou perfeita” e “confesso que foi um ano difícil da minha vida”.
A atriz Monica Martelli, uma das convidadas e militante ferrenha do “fique em casa”, também foi bastante criticada justamente por seu posicionamento durante toda a pandemia. Após a morte do ator Paulo Gustavo, a atriz participou de uma manifestação contra o governo, na Avenida Paulista, e apontou como causa de todas as mortes no Brasil o descompromisso da política com a saúde. Em suas redes, aproveitou para criticar o presidente: “Desde o primeiro dia desse período tenebroso que estamos vivendo, Bolsonaro circula livremente por aí, aglomerando”.
Depois das críticas por ter feito exatamente o que tanto recriminou, Martelli postou: “Errei” e “Estamos na luta e luto diários, então, o que qualquer um de nós faz impacta na vida de todos”. Aparentemente ser chamada de hipócrita não causou nenhum impacto na vida da global, pois, na mesma postagem, ela aproveita para reiterar sua regra (para os outros) “não é momento de reuniões”.
Ou essas pessoas acham que o resto do mundo não raciocina ou elas, de alguma forma, têm certeza, afinal de contas, a decisão de ir a uma festa não é algo que acontece em segundos, sem condições de analisar se é conveniente ou não. Quem esteve presente teve tempo suficiente para avaliar se era o momento ou não, se seria um erro ou não, se o que fazem impacta na vida dos outros ou não. O que talvez não tenham analisado é que entre as dezenas de pessoas presentes, algumas não se lembrariam que não era para tornar a aglomeração pública...
A questão é que pessoas que acreditam que têm mais direitos que os outros e que são seres “especiais”, acima do bem e do mal, não têm capacidade para entender que são iguais a todo mundo e que devem cumprir as mesmas regras que todo mundo. Principalmente as regras que impõem a todo mundo.
Os pedidos de desculpas de ambas as atrizes não passam de tentativas de sinalização de virtudes e de aproveitar mais uma oportunidade para desviar as críticas. Apesar de o Brasil ser o terceiro país que mais vacina por dia em doses totais, Marina Ruy Barbosa citou em sua postagem que a vacinação “segue em passos lentos”, enquanto Monica Martelli diz que sua dor e revolta por vacinas “seguem inabaláveis”, como se não estivéssemos em plena campanha de vacinação.
Diante de tudo disso, o que se pode concluir é que foi apenas mais uma demonstração da hipocrisia militante, aquela que a gente vê por aí...
Autora
Patricia Lages é autora de 5 best-sellers sobre finanças pessoais e empreendedorismo e do blog https://bolsablindada.com.br/. É palestrante internacional e comentarista do JR Dinheiro, no Jornal da Record
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