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Patricia Lages

Análise: Pediatras defendem volta às aulas presenciais

Se as medidas de suspensão das aulas presenciais e a insistência em manter escolas fechadas é em nome da ciência, médicos não deveriam ser ouvidos?

Patricia Lages|Do R7

Aulas presenciais já não ocorrem há 9 meses
Aulas presenciais já não ocorrem há 9 meses

Chegamos aos nove meses sem aulas presenciais em grande parte do país e, segundo estados e municípios à frente das decisões, a medida visa conter a propagação do novo coronavírus.

Claudio Fonseca, presidente do Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São Paulo (Sinpeem/SP), diz que os profissionais da área são os maiores defensores da educação básica presencial, mas acrescenta que “não há prejuízo maior do que perder a vida.” Enquanto isso, o secretário de educação do município de São Paulo, Bruno Caetano, afirmou em coletiva de imprensa, em novembro, que não vai avançar no plano de reabertura das escolas.

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Estariam essas medidas de acordo com o que a classe médica tem aconselhado? Segundo um manifesto assinado por mais de mil médicos de diversas especialidades, incluindo infectologistas e pediatras, não. A petição A ciência pela reabertura das escolas é promovida por um grupo de pediatras independentes, sem vínculo com qualquer instituição médica ou de ensino, e fundamenta sua posição com os seguintes dados:

• As crianças se infectam menos do que os adultos, 2 a 5 vezes menos. O risco de se infectar é menor quanto mais jovem a criança;


• São muito raras as complicações nessa faixa etária, representando apenas 0,6% dos óbitos (sendo as crianças 25% da população nacional);

• Para as crianças, a exposição à Covid-19 as coloca em risco muito menor do que a exposição ao vírus Influenza. E as escolas não fecham nos surtos de gripe;


• Apesar do que se supôs no início da pandemia, as crianças não são “super-spreaders” (disseminadores) da Covid-19;

• A grande maioria das crianças é assintomática ou apresenta sintomas leves, principalmente os mais novos. E, desta forma, transmitem menos;


• As escolas, seguindo os cuidados indicados, não são locais de maior infecção. A experiência europeia provou enfaticamente isso;

• Com as medidas de prevenção, a escola é segura para os professores e funcionários.

• No Brasil e no mundo, as crianças se infectaram mais em casa por meio dos próprios familiares expostos do que na escola;

• Os impactos do isolamento social prolongado no desenvolvimento infantil e saúde mental são imensos e duradouros. Obesidade, transtornos de ansiedade, transtornos do sono, danos pela exposição excessiva a telas são alguns dos muitos prejuízos.

A petição termina com a frase: “Sejamos justos com a infância e comprometidos com o futuro de todos.” Além deste documento, há outro manifesto intitulado Lugar de Criança é na Escola, que conta com mais de 10 mil assinaturas e corrobora que a falta de ensino presencial acarreta riscos de curto, médio e longo prazo no desenvolvimento de crianças e adolescentes. Entre várias informações, dados e fatos, o documento declara que “países que seguem uma cultura de gestão por evidência científica foram atualizando suas condutas e tendendo a reabrir”, diferentemente do que se vê em grande parte do Brasil.

Sendo assim, com base em que tipo de “ciência” estados e municípios preferem manter as escolas fechadas? Por que essa insistência em justificar que a medida visa “salvar vidas” quando a própria classe médica indica que o fechamento é mais prejudicial que o próprio vírus? A quem interessa que a qualidade do ensino brasileiro decaia ainda mais e que as crianças – que não fazem parte dos grupos de risco – tenham de arcar com todo esse ônus?

É revoltante estarmos vivendo em uma sociedade que tem a capacidade de promover uma fala que acusa crianças de serem as possíveis culpadas pela morte dos próprios avós. Mesmo para mim que não tenho filhos, é simplesmente revoltante.

Para ler a íntegra da petição “A ciência pela reabertura das escolas”, acesse o link aqui.

Autora

Patricia Lages é autora de 5 best-sellers sobre finanças pessoais e empreendedorismo e do blog Bolsa Blindada. É palestrante internacional e comentarista do JR Dinheiro, no Jornal da Record.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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