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Patricia Lages

Análise: Um peso, duas medidas e silêncio absoluto

Bolsonaro recebe motorista preso na Rússia, mas ignora a deportação de 17 missionários brasileiros de Angola

Patricia Lages|Do R7

Chegada a São Paulo de missionários deportados de Angola
Chegada a São Paulo de missionários deportados de Angola

No dia 5 de maio, Robson Nascimento de Oliveira chegou ao Brasil depois de dois anos preso em Moscou por posse de medicamento proibido. Oliveira levava consigo cloridrato de metadona que, apesar de legalizado no Brasil, é proibido na Rússia. Recebido por Bolsonaro no aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, além do perdão da condenação, o motorista recebeu uma oferta de emprego.

Na ocasião, o mandatário agradeceu o presidente russo, Vladimir Putin, pelo indulto e elogiou os esforços do Itamaraty para trazer Oliveira de volta ao Brasil. Em uma declaração no saguão do aeroporto, Bolsonaro afirmou: “Faríamos isso com qualquer brasileiro em situação semelhante”.

Entretanto, resta saber por que os mesmos esforços não têm sido feitos para cobrar explicações do governo de Angola sobre a deportação de 17 missionários brasileiros que viviam no país legalmente. Por que o Itamaraty não criou um comitê para impedir que a situação chegasse a esse ponto? Por que, apesar de procurado, o Palácio do Planalto se mantém em silêncio absoluto? Por que um brasileiro importa, mas esses 17 não?

Todo tipo de arbitrariedade tem sido imposta a bispos e pastores da Igreja Universal do Reino de Deus em uma clara demonstração de perseguição religiosa apoiada pela polícia, pelo governo e pela imprensa angolana. Apesar de a igreja realizar trabalhos sociais no país há décadas, os missionários tiveram passaportes apreendidos, receberam carteiras de vacinação falsa e foram sumariamente expulsos do país, viajando sem a companhia da família. Esposas e filhos permanecem no país africano sem que o governo brasileiro se pronuncie.


Renato Cardoso, bispo responsável pelo trabalho da Universal no Brasil, ao receber o segundo grupo de missionários expulsos, declarou que, apesar do tratamento dado pelas autoridades angolanas, “o que mais nos indigna é a ausência de autoridades brasileiras para interceder pelos brasileiros em um país estrangeiro” e questiona: “Até quando o governo vai ficar calado diante dessa situação?”

Para Eduardo Bravo, bispo e presidente da Unigrejas (União Nacional das Igrejas e Pastores Evangélicos), tratados bilaterais têm sido ignorados desde que o governo atual assumiu o poder. “A Universal está em Angola há quase 30 anos, tempo em que o governo do país sempre reconheceu o trabalho social, humanitário, educacional e de fé que a igreja realiza. É um absurdo a Angola passar por cima da própria constituição, ignorar os direitos humanos e deportar os pastores com requintes de crueldade. Enquanto o silêncio e a omissão do governo brasileiro nos deixam perplexos.”


Enquanto tivermos um governo omisso, que escolhe os brasileiros a quem proteger enquanto simplesmente ignora outros, seremos um país desunido, dividido e fraco. O mínimo que se espera é que haja o mesmo peso para a mesma medida.

Autora

Patricia Lages é autora de 5 best-sellers sobre finanças pessoais e empreendedorismo e do blog Bolsa Blindada. É palestrante internacional e comentarista do JR Dinheiro, no Jornal da Record.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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