Carnaval suspenso, mas folia com dinheiro público continua
Em São Paulo falta dinheiro para saúde, educação, saneamento etc., mas para o Carnaval não falta nunca, nem mesmo quando o evento não acontece
Patricia Lages|Do R7
A administração da maior metrópole do país parece mais uma piada de mau gosto. Por aqui temos prefeito que aumenta o próprio salário em 46%, que classifica como “defasados” salários de R$ 24 mil – quando a média salarial na capital é de R$ 7.507 – que tranca a cidade enquanto viaja para curtir jogo de futebol e chama de hipócrita quem faz o que ele faz.
Mas como não há nada tão ruim que não possa ser piorado, eis que Bruno Covas (PSDB) autoriza o repasse de R$ 33 milhões de reais para pagar uma festa que não aconteceu e nem acontecerá. Qualquer pessoa dotada de uma dose mínima de bom senso seria capaz de concluir facilmente que, em plena pandemia e com todos os gastos que seus efeitos geraram aos cofres públicos, o Carnaval 2021 jamais existiria.
Porém, o prefeito que reforça estoque de caixão e manda abrir sepulturas para produzir imagens aéreas impactantes, acha perfeitamente justificável torrar dezenas de milhões de reais do dinheiro do contribuinte com algo que, antes de tudo, nem deveria ser pago com verba pública.
Se o Carnaval gera empregos, aquece a economia e é um evento lucrativo, que fique a cargo da iniciativa privada, afinal de contas, a administração pública existe para garantir aos munícipes transporte, saúde, educação, saneamento, segurança e tudo mais que os políticos só se lembram de mencionar em época de eleição. Ninguém se elege prometendo aumentar gastos com Carnaval, Natal, com os próprios salários ou dizendo que usará suas redes sociais para ofender os cidadãos que o questionarem, mas é exatamente isso que fazem quando têm a caneta na mão.
Agora, como se os paulistanos fossem deficientes mentais, a prefeitura vem a público dizer que “neste momento estão sendo estudadas alternativas para aplicação [do dinheiro] nos desfiles de 2022”. Oi? É sério isso? Esta é a melhor declaração que essa administração consegue formular para justificar mais um desrespeito ao contribuinte? Quem em sã consciência não sabe que esse dinheiro jamais será empregado em algo futuro? E, ainda que fosse, quem teria a empáfia de pensar em festa em uma época como a que estamos vivendo?
A verdade é que a prefeitura de São Paulo não está ligando a mínima para quem carrega esta cidade nas costas. É a administração que solda porta de comércio para “evitar aglomerações”, mas que faz vista grossa para o transporte público lotado. E, enquanto falta de tudo na cidade mais rica do país, nosso prefeito samba à vontade na cara da sociedade.
Autora
Patricia Lages é autora de 5 best-sellers sobre finanças pessoais e empreendedorismo e do blog Bolsa Blindada. É palestrante internacional e comentarista do JR Dinheiro, no Jornal da Record.
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