Enfraquecimento das famílias: casas que mais parecem hotéis, restaurantes, campos de guerra e caixas eletrônicos
Lares estão sendo reduzidos a locais para dormir, comer, brigar e compensar ausência com bens materiais
Patricia Lages|Do R7
O ambiente familiar composto por pai, mãe e filhos – criados educados por ambos – e que se fundamenta no conceito de certo e errado, em virtudes e valores morais tem sido não só desvalorizado, mas também ridicularizado. Chamada com muito desdém de “família tradicional”, a célula mater da sociedade hoje tem sido vista por muitos como ultrapassada, falida e reacionária.
Enquanto isso, surgem novas configurações familiares com dinâmicas totalmente diferentes, mas que, por mais diversas que sejam, têm algo em comum: a falta de tempo para viver em família. Sejam compostas por pais separados que constituem novas famílias, dos que estão sob o mesmo teto, mas quase sempre alheios ao que acontece com os demais, ou daqueles que nem sabem mais como descrever o ambiente em que vivem, como se morassem com verdadeiros estranhos.
Nesse sentido, muitos lares vêm perdendo sua principal característica: ser um porto seguro para a família. Um local de paz, alegria, confiança, acolhimento, cumplicidade, aconselhamento e descanso, onde há um forte sentimento de pertencimento que, por si só, é capaz de recarregar as energias para mais um dia de batalha.
Em vez disso, inúmeros lares têm sido reduzidos a casas que mais parecem hotéis. Onde, sempre que possível, só se vai para dormir, comer – de preferência em horários e cômodos diferentes – atacar e se defender, como em um campo de guerra e, caso a ausência de interesses ou funções vier à tona, tentar compensar toda e qualquer falta com mais um presente caro que, em pouco tempo, fará companhia a tantas outras quinquilharias que entulham os espaços que ninguém quer preencher.
Muito embora o art. 226 da Constituição Federal assegure que “a família é a base da sociedade e tem especial proteção do Estado”, não é isso que temos visto. O ensino público no Brasil se tornou um disseminador de doutrinas que desmerecem a família, desautorizam os pais e ridicularizam quem não se molda às narrativas. Não há disciplina, não há incentivo ao esforço e não há nem sequer ensino, já que o desempenho dos alunos brasileiros está muito abaixo da média mundial mesmo nas matérias mais elementares.
Esse estilo de vida, que surge travestido de liberdade e poder de escolha, é na verdade a escravidão moderna. Onde os pais se sentem cada vez mais perdidos, exaustos e estressados de tanto trabalhar apenas para pagar contas – e fazer dívidas – enquanto os filhos têm sido bombardeados por um sem-fim de estímulos que seus cérebros não são capazes de processar.
Com isso, a saúde mental de todos tem sido amplamente afetada. Hoje, se tornou comum que crianças sejam diagnosticadas com depressão, síndrome do pânico, déficit de atenção, problemas de aprendizagem e outras mazelas que jamais deveriam atingi-las. Em consequência disso, em vez de brincarem, se desenvolverem e serem felizes, estão sofrendo sozinhas, sem terem confiança na própria família, tentando remediar suas dores sem nem ao menos terem ideia de como fazer isso.
É fácil criticar a geração “mimimi”, apontando suas fraquezas, seus medos, sua falta de iniciativa para resolver questões simples, seu sentimentalismo e sua mentalidade que problematiza tudo e qualquer coisa. Mas o que esperar de um edifício construído sem alicerces, sem fundamentos, sem uma estrutura forte que lhe dê estabilidade?
O comportamento de crianças e jovens que temos visto hoje em dia é apenas a ponta do iceberg. Teremos de aprender a conviver com pessoas emocionalmente fracas, egoístas e egocêntricas, porém, improdutivas e dependentes. Pessoas que têm certeza de que sabem tudo, quando não sabem quase nada. Que leem, mas não entendem, que ouvem, mas não escutam, que estão de corpo presente, mas mente ausente.
A sociedade moderna, que desonra e despreza a família, está severamente doente. E suas mazelas vêm justamente da falta do que uma família estruturada oferece: a formação do caráter, o entendimento do conceito de certo e errado e a aplicação dos valores morais que acompanharão cada um de seus membros por toda a vida.
Se não trabalharmos arduamente para mudar essa situação, dentro de cada casa, reconstruindo a família, o futuro deste país está fadado ao fracasso. Famílias fracas geram pessoas fracas e pessoas fracas não constroem uma nação forte.