Fé digital: cresce uso de Inteligência Artificial como “guia espiritual”
Aplicativos e sistemas operacionais usam robôs com IA para oferecer “ orientação espiritual”

A Capela de São Pedro, a mais antiga igreja católica da cidade de Lucerna, na Suíça, lançou um experimento controverso: substituir o padre por um avatar de Jesus Cristo alimentado por inteligência artificial.
Intitulada “Deus in Machina” (Deus na máquina), o projeto foi disponibilizado entre agosto e outubro de 2024 nos confessionários da capela e funcionou como um laboratório de “realidade imersiva”. Mais de mil pessoas interagiram com uma imagem de Jesus projetada por trás de uma treliça e fizeram perguntas sobre amor, relacionamentos, morte, solidão e paz.
O sistema oferecia respostas em tempo real, geradas por inteligência artificial. Cerca de 150 usuários (15%) classificaram a experiência com o Jesus de IA como “espiritual” ou “um momento religiosamente positivo”. Mas também houve críticas de participantes que consideraram as respostas superficiais ou repetitivas.
Após o encerramento da experiência, um dos desenvolvedores do projeto, o teólogo Marco Schmid, declarou que, “devido à grande responsabilidade e à incerteza envolvidas”, não recomendaria uma instalação permanente do Jesus de IA.
Vazios reais, preenchimentos virtuais
Entre os exemplos de experiências com propósitos semelhantes ao da igreja suíça está a pioneira Way of the Future (Caminho do Futuro), fundada em 2017 (e dissolvida em 2021), considerada a primeira organização religiosa dedicada à adoração de uma inteligência artificial. Segundo o engenheiro americano Anthony Levandowski, idealizador do projeto, a missão era “desenvolver e promover a realização de uma ‘divindade’ baseada em IA”.
Também existem sistemas e aplicativos que propõem experiências imersivas destinadas a oferecer “profecias” geradas por inteligência artificial.
Diante disso temos: de um lado, a exploração crescente da mitificação da IA; de outro, uma sociedade espiritualmente carente, buscando preencher seu vazio real com algo virtual. Mas qual é o sentido em recorrer a criações humanas, como se fosse possível ter uma conexão espiritual autêntica sem a presença do que é verdadeiramente divino?
Devemos nos lembrar de que os sistemas de inteligência artificial são como o dinheiro: ótimos servos, mas péssimos senhores.














