Speakeasy: os bares secretos de São Paulo
Com portas ocultas e coquetéis autorais, os bares speakeasy transformam a cena noturna de São Paulo em um jogo de descobertas
Entre ruas movimentadas e fachadas discretas, os bares speakeasy escondem seus segredos de todos. Não há placas luminosas ou sinais evidentes. Muitas vezes apenas uma porta aparentemente comum, uma entrada disfarçada ou até uma livraria, ou geladeira que esconde algo a mais.
O mistério começa antes mesmo de o cliente entrar: encontrar o lugar certo, algumas vezes saber a senha e ter a sensação de fazer parte de um clube exclusivo. Cada experiência é única, os bares planejam o cardápio e a cartela de drinks para que o cliente desfrute de cada segredo que têm guardado ali.
Mas de onde vem essa ideia? Veio dos Estados Unidos, nos anos 1920, com a chamada Lei Seca. Essa lei proibia a produção, venda e transporte de bebidas alcoólicas nos Estados Unidos desde 1920 e durou até o ano de 1933.
E qual foi a solução para quem queria tomar um drink com os amigos? Bares escondidos, fora das principais vias, e em alguns casos até com fachadas falsas. Esses bares secretos eram conhecidos como “speakeasy” (que significa “fale baixo”, em inglês), porque qualquer som ou movimento fora do comum poderia levantar suspeitas de atividades ilícitas.
Nos bares speakeasy da era da Lei Seca, os drinks eram muitas vezes improvisados e criados com o que estivesse disponível, já que o álcool era escasso e difícil de ser conseguido legalmente.
Por isso, era comum o uso de destilados de baixa qualidade, muitas vezes produzidos ilegalmente e de forma clandestina. Para mascarar o sabor áspero dessas bebidas, os bartenders começaram a misturá-las com xaropes, sucos de frutas, especiarias e outros ingredientes, resultando em coquetéis inovadores.
Alguns dos coquetéis clássicos que surgiram ou se popularizaram durante esse período incluem os atualmente chamados de clássicos da coquetelaria: o “Old Fashioned”, que combina whisky, açúcar ou xarope, angostura e uma casca de laranja, o “Bee’s Knees”, feito com gim, suco de limão e mel, e o “Sidecar”, uma mistura de conhaque, licor de laranja e suco de limão.
Outro drink icônico é o “Gin Rickey”, simples e refrescante, feito com gin, limão e água com gás. Esses coquetéis não só mascaravam o sabor do álcool de qualidade inferior, como também davam aos clientes uma experiência mais agradável em um ambiente onde cada detalhe era cuidadosamente pensado para driblar a fiscalização.
Se antes os drinks eram produzidos com bebidas clandestinas e sem muito controle, hoje o que temos é o oposto. O conceito dos bares speakeasy tem crescido ao longo dos anos no Brasil. A alta coquetelaria é um dos maiores atrativos, além, é claro, da exclusividade. Os bares contam com os drinks clássicos, criações autorais de mixologistas e também já encontramos bares speakeasy de chope e até de vinho.
A popularidade dos speakeasies paulistanos revela uma mudança no comportamento dos consumidores, que valorizam cada vez mais a experiência completa que o bar proporciona – desde o momento da busca pelo local secreto até o ambiente intimista e a qualidade dos coquetéis servidos.
O Frigobar – The Original Speakeasy é um bar secreto de Pablo Moya e Diego Dillon, sócios da Nib Bebidas. O bar fica escondido em um restaurante dos empresários e irmãos Carlos e Cesinha Ferreira. A casa recebe apenas 40 clientes por noite em duas sessões.
Um dos destaques da casa é o balcão de madeira e toda a decoração retrô. Com coquetelaria autoral e clássica, o Frigobar traz coquetéis com bebidas da Nib, como o delicioso gin de pera. É possível acompanhar os coquetéis com comidinhas rápidas, como as pizzas de fermentação natural individuais e sobremesas.
BARES SPEAKEASY
Câmara Fria | @camarafria - O Câmara Fria é o primeiro speakeasy de chopp artesanal da capital paulista. Há uma seleção de chopes e cervejas na Tap List da casa, além de opções de pizzas de fermentação natural, petiscos e embutidos artesanais. Das comidinhas, vale provar a nova Pizza Thai (R$ 44) com barriga de porco glaceada, camarão, pasta de amendoim e saladinha de broto de feijão, cenoura e coentro, levemente apimentada.
Flora Bar | @florabar.sp - O bar escondido atrás de uma pequena floricultura, o Flora Bar recentemente lançou uma nova seleção de drinks autorais assinados pela bartender Chula Barmaid, entre eles o Cacao Citrus (R$54), feito com Whisky Jim Beam Black, Amaro Averna, Aperol, suco de limão, clarificado com leite, nibs de cacau. O bar também traz um novo cardápio assinado por Rubens Catarina e Vinicius Pires.
Frigobar | @frigobarspeakeasy - Localizado em um endereço discreto, o bar se esconde atrás de uma porta de refrigerador vintage em uma lanchonete, mantendo viva a tradição dos speakeasies de entradas inusitadas. Uma das estrelas do cardápio é o “Frozen Old Fashioned,” uma versão do clássico, onde o whisky envelhecido é combinado com cubos de gelo especiais aromatizados com laranja e toque de xarope de bordo. Outras delícias são os drinks com gin de pera, da NIB (@nibbebidas). Como opção para comer, a casa conta com pizzas de fermentação natural individuais, como a Rockfeller (calabresa, gorgonzola, cebola roxa, pimenta jalapeño e toque de mel) e até petiscos e doces.
Mercearia da Praça | @merceariadapraca - A Mercearia da Praça investe em grandes encontros ao redor do vinho em seu speakeasy, que fica no subsolo do restaurante em Ipanema, no Rio de Janeiro. O espaço realiza jantares harmonizados, degustações com especialistas e produtores de vinho com frequência e por ter somente 16 lugares é sempre bem concorrido. O menu é montado para cada evento de forma personalizada, para harmonizar com os vinhos.
Oculto | @castelooculto - O Oculto funciona a portas fechadas e, para que ela se abra, é preciso informar uma senha, já que seus 24 lugares são destinados a quem tem reserva. A casa conta com criações autorais elaboradas por Spencer Amereno e Cris Negreiros, como o Painkiller (R$ 40), coquetel composto de Spiced Rhum, grenadine, abacaxi, creme de coco tailandês, açúcar de baunilha e kinkan.
O Carrasco Bar | @ocarrascobar - O speakeasy fica escondido em cima do Guilhotina Bar e traz a carta de drinks assinada pelo mixologista Alê D’Agostino com opções como o Butter Tuffees (R$ 75) com Vodka Ketel One, Rum Zacapa 23, redução de aceto com cevada, bitter de toranja e espumante. Da cozinha do chef Thiago Cerqueira, uma opção para acompanhar é o camarão do curry com vagem, edamame e katsuobushi (R$ 129).
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