Taison tem toda a razão: precisamos ser antirracistas
Episódios de racismo no futebol, como os que envolveram Taison e Dentinho, na Ucrânia, e o do torcedor do Atlético que xingou segurança, têm de acabar
Blog da DB|Do R7 e Deborah Bresser
Poucas coisas são mais cretinas do que julgar outro ser humano pela cor da pele. É de uma estupidez sem limites e, no entanto, manifestações racistas parecem não ter fim. Ocorre na sociedade em geral e no futebol em especial. Os episódios do fim de semana envolvendo os jogadores Tison e Dentinho, na Ucrânia, e um torcedor do Altético Mineiro, que xingou um segurança, são bem a medida do quanto falta evoluir nesse quesito.
Taison desabafa: 'Não basta não ser racista, precisamos ser antirracista!'
Abaladíssimo, o atacante Taison, do Shakhtar Donestsk, mostrou o dedo médio para a torcida do Dínamo de Kiev, após passar o jogo todo aguentando ofensas dos torcedores. Ele chutou a bola em direção à arquibancada e acabou sendo expulso. Dentinho também foi vítima dos insultos raciais. Os dois deixaram o campo chorando. A partida foi disputada no Metalist, casa do Shakhtar, mas, mesmo assim, torcedores visitantes incomodaram os brasileiros. Os atacantes brasileiros ficaram revoltados e não quiseram seguir jogando.
Dentinho e Taison são vítimas de racismo e deixam campo chorando
Taison se manifestou no Instagram e mandou um recado que deveria ser lei, não só na Ucrânia, como também no Brasil. "Em uma sociedade racista, não basta não ser racista, precisamos ser antirracista! O futebol precisa de mais respeito, o mundo precisa de mais respeito! Obrigada a todos pelas mensagens de apoio! Seguimos a luta..".
O racismo também dá as caras no futebol brasileiro de inúmeras formas. No clássico da Ucrânia, os torcedoress imitavam macacos toda vez que Dentinho ou Taison tocavam na bola. No Brasil, neste fim de semana, a injúria racial partiu de um torcedor do Atlético Mineiro.
O homem, não identificado, é visto em um vídeo ofendendo um segurança na arquibancada, dizendo "Olha a sua cor". Ele ainda acerta uma cusparada no rosto do mesmo segurança. O clube soltou uma nota de repúdio, condenado a atitude do torcedor, e se colocando à disposição para colaborar nas investigações.
Atlético-MG repudia manifestações racistas de torcedor em clássico
Xingar uma pessoa negra de “macaco” ou desmerecer pelo tom de pele são condutas que podem ser tipificadas como crime de injuria, qualificado pelo elemento da raça, cor e etnia. A pena é de reclusão de um a três anos e multa.
O crime de racismo é determinado em legislação própria (Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989), que prevê detalhadamente diversas ações consideradas criminosas. O artigo 1º fala por si: "Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”.
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O problema é que ser crime não basta para coibir o preconceito. O Brasil ainda ouve o barulho das correntes da escravidão e carrega nas vísceras a discriminação. Negros não eram gente por aqui. Para muitos, continuam não sendo. É essa corja de racistas que impede negros de praticar atos de do dia a dia, como entrar em determinados locais, comprar determinadas coisas, não ser atendido em algum estabelecimento, ou ser privado de algum trabalho. É o atira primeiro, pergunta depois. É a falta de respeito disfarçada de piada. Ao se desumanizar uma raça, outras falsamente se empoderam. É preciso arrebentar com esse ciclo, aqui e em todo mundo.
Não custa lembrar que, pela Constituição Federal de 1988, onde em seu art. 5º, inciso XLII, “a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei”. Inafiançável e imprescritível. É cana, a qualquer tempo. Seria educativo se os racistas realmente começassem a ficar atrás das grades. Quem sabe assim aprenderiam a respeitar seus semelhantes.
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