Novo CEP, novo público. O que acontece quando um restaurante se muda?
Não é só de cozinha e serviço que se faz um restaurante. O salão e o público que frequenta dão uma nova cara
É de comer|Camé Moraes, do @ehdecomer, para o R7 e Camé Moraes
Se não tem endereço próprio, não é raro que bons restaurantes troquem de imóvel na cidade à medida que a especulação imobiliária ou a degradação urbana tornem o empreendimento inviável economicamente. Vi esse movimento em muitas cozinhas que gosto bastante em São Paulo nos últimos cinco anos.
Frequentando os novos CEPs de lugares já conhecidos por mim, não pude deixar de notar como a mudança local muda o estabelecimento por completo, mesmo que os garçons sejam deslocados e a cozinha permaneça praticamente intocada.
Recentemente estive no Borgo Mooca, que não é mais na Mooca. O restaurante passou para uma rua em Santa Cecília, numa região bem mais hypada do que a ruazinha atrás do estádio do Juventus. A mudança no estilo dos frequentadores é visível.
Se na casinha da zona Leste o restaurante funcionava com mesas divididas entre cômodos, algumas bem espaçosas, no centro de São Paulo os assentos são mais apertados e ganharam um ar mais moderno.
Mais casais, menos famílias — já foi uma percepção minha logo de cara. Grupos menores também. O preço subiu um pouco e os pratos ficaram um pouco mais reduzidos. Não é pior. Não é melhor. É só diferente. A cozinha continua impecável e a coquetelaria deu um salto notável (embaixo funciona o bar — Bargo).
Se antes eu levaria minha família pra comer comigo em um almoço, agora a viagem gastronômica mudou: daria preferência a um jantar entre amigas.
Outras casas tradicionais também fizeram esse movimento no último ano — o Ici Bistrô mudou de rua, mas não de bairro — foi da Pará a Mato Grosso, em Higienópolis. Ganhou um salão mais iluminado e amplo.
O Sal, do Henrique Fogaça, também saiu do antigo endereço agora em fevereiro — de Higienópolis para os Jardins — rumo a um imóvel reformado e cheio de janelões. O Arturito, da Paola Carosella, vai deixar Pinheiros depois de 15 anos — a casa inclusive leva o nome da rua Arthur de Azevedo e vai fazer parte de uma região dos Jardins pra lá de luxuosa, a partir do mês que vem.
Se terá impacto no preço e no estilo dos frequentadores só o tempo irá dizer, mas aposto todas as minhas fichas que o público mais descolado que costumava frequentar pode não se sentir tão à vontade nas proximidades do Hotel Fasano, num ambiente quatro vezes maior.
Imagino que seja um risco calculado de alguns chefs, em busca de novos públicos, talvez até com maior poder aquisitivo. Mas fica uma dorzinha no coração dos habitués, que têm que deixar um ambiente acolhedor com o qual já estavam acostumados e se refazer o vínculo (ou não).
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