Um carioca na Amazônia
Dezembro chegou e Belém, do jeito dela, continua normalmente, agora com mais chuva e menos calor

Viajar é ter assunto. Morar fora, longe de casa, é ter ainda mais assunto. Pano pra manga. O olhar se torna curioso. Tudo vira uma grande novidade. Até que esse tudo vira apenas uma novidade. Até que o tudo e a novidade se desalinham e se separam. E nada é novidade. E aí?
Esse texto é sobre nada. É sobre a falta de assunto. Será?
Talvez esse texto seja sobre dezembro. Sobre dezembro e a ressaca que vem junto. Ressaca pós-Círio, pós-COP30. Ressaca pré-Natal, pré-aniversário.
Será que é assim para todo mundo? Ou é assim mais para quem tá longe da família? Não sei. E, cá entre nós, não importa muito. Não importa porque o Natal virá, se aproxima cada vez mais, o Ano Novo também tá batendo na porta, e assim será. Não importa a minha ressaca nesse dezembro, que teima em passar, anda quase que em marcha a ré, preguiçoso que só.
Está sendo o meu primeiro dezembro em Belém, o primeiro, portanto, na Amazônia. Já notei uma diferença: menos calor e mais chuva. Vamos ver se vai ser assim mesmo. Mas nos últimos dias me parece que o forno que é Belém deu uma trégua, e que a torneira lá no céu tá mais aberta.
Se assim for, uma preocupação a mais para quem anda de bicicleta. Asfalto molhado, trânsito ainda mais confuso, pingos nos olhos e por aí vai. Nada grave, mas algo a ser considerado.
Fui no barbeiro hoje. Meu sotaque ainda se destacada. Entre uma tesourada e outra, o rapaz me perguntou: você torce para algum time daqui? Claramente sou de fora. Gosto e não gosto disso. Na lata, falei: sou Flamengo onde quer que eu esteja. Ele não ligou. Emendou sem me dar chances de falar algo mais: torço para o Remo. Falamos sobre a Série A, que começa já no fim de janeiro, daqui pouco mais de um mês. E ele: eu não deveria, mas eu tô adorando que o Paysandu caiu, seria ótimo ter os dois clubes do Pará juntos, mas é bom pra eles aprenderem, e se me perguntar eu diria que é bom que eles caiam mais e vão para a Série C.
Enquanto isso, o barbeiro ao lado para o outro cliente: esse uniforme novo do Papão, lindo, lindo!
O belenense nem tá ligando para a final da Copa do Brasil. Ou tá. Assim como a final do Interclubes, que o Flamengo joga hoje com o PSG. Ou tá. Podem super ligar, na verdade. Mas eles querem mesmo é saber do deles. Errados? Zero! Evidente que estão certos.
O paraense, mas precisamente o belenense, que é com quem eu tenho contato diário, tenho um orgulho imenso da terra deles. A minha impressão sobre estar chovendo mais e estar fazendo menos calor, por exemplo. Já ouvi comentários assim: finalmente os torós estão vindo! Égua do calor que tava, ainda bem que deu uma trégua. Eles sabem da terra deles, do clima deles. São amazônidos.
Eles sabem do time deles. Sabem da camisa nova do Paysandu, sabem quanto custa, o barbeiro mesmo tava reclamando: tá linda, mas tá cara! Sabem até quem vai ser o último adversário do Remo na Série A, lá no fim do ano que vem. O barbeiro, o meu, falou: vamos pegar o Corinthians em casa, espero que a gente não esteja brigando para não cair, porque é isso que o Remo precisa, lutar para não cair.
Então assim: Flamengo contra PSG ou final da Copa do Brasil ou um carioca em Belém meio sem assunto para escrever? E daí? Belém segue normal. O ciclo da chuva se mantém. E o povo segue. Simpático, como sempre. Mas segue.
Eu que me vire com a minha ressaca e com o meu Natal longe de casa.
Belém me ensina todos os dias.
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