Nova regra para vistos de imprensa nos EUA pode mudar o trabalho de correspondentes internacionais

O Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos (DHS) apresentou em 28 de agosto de 2025 uma proposta que pode mudar de forma significativa as condições de permanência de jornalistas estrangeiros no país. A medida faz parte de um pacote regulatório mais amplo, que também envolve estudantes internacionais (vistos F) e participantes de intercâmbio cultural (vistos J).

Entre os principais pontos:

• Fim do “Duration of Status (D/S)” para vistos I, J e F, modelo que hoje permite permanência enquanto forem atendidos os requisitos do visto (emprego, programa, intercâmbio).
• Limite fixo de permanência: até 240 dias para a maioria dos jornalistas estrangeiros e apenas 90 dias para cidadãos da China.
• Extensão restrita, limitada à duração da missão jornalística, sem possibilidade de exceder o prazo do trabalho temporário.
• Justificativa oficial do DHS: combater supostos “abusos de visto”, reforçar a segurança nacional e aumentar a fiscalização.

A proposta rapidamente levantou críticas de organizações de imprensa como a Reporters Without Borders (RSF) e o Committee to Protect Journalists (CPJ). Os grupos alertam que a limitação pode comprometer a liberdade de imprensa, dificultar a cobertura em profundidade e criar instabilidade para correspondentes que precisam de tempo maior para construir fontes e narrativas. Também há questionamentos sobre a desigualdade entre países, já que cidadãos de algumas nações, como a China, receberiam prazos muito mais curtos.

Atualmente, a regra ainda é apenas uma proposta, publicada no Federal Register, o que abre prazo para comentários públicos até 29 de setembro de 2025. Após essa etapa, o DHS poderá revisar o texto e decidir sobre sua implementação final.

Para jornalistas estrangeiros, a mudança representaria uma redução drástica da flexibilidade para permanecer nos EUA. Projetos de longo prazo, coberturas eleitorais, investigações e documentários teriam que ser adaptados a prazos mais curtos, com maior custo, burocracia e incerteza.

Impactos para jornalistas brasileiros

No caso dos profissionais da imprensa brasileira, os desafios seriam ainda mais concretos. Correspondentes enviados para cobrir eleições presidenciais, economia, cultura e a comunidade brasileira nos EUA podem ser obrigados a interromper ou renovar vistos em momentos cruciais, prejudicando o trabalho.

As redações brasileiras também teriam de investir em logística adicional, seja com o envio de equipes em rodízio, seja arcando com processos de renovação frequentes. Projetos de maior fôlego, como séries documentais ou reportagens investigativas, ficariam em risco diante da instabilidade. Além disso, a redução do tempo de permanência pode impactar a imagem internacional do jornalismo brasileiro, limitando a presença do país em debates e narrativas globais.

Conclusão

A proposta do DHS representa uma mudança estrutural nos vistos I destinados a jornalistas estrangeiros. Caso seja aprovada, vai transformar a maneira como correspondentes internacionais trabalham nos Estados Unidos, trazendo novos obstáculos ao exercício do jornalismo independente.

Diante disso, é essencial que jornalistas, veículos de comunicação e organizações de imprensa acompanhem de perto esse processo. A recomendação é buscar orientação jurídica especializada, participar do debate público e avaliar alternativas, caso a regra seja confirmada.

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