Portela e Mangueira se juntam a Salgueiro e Viradouro nas favoritas
Vila Isabel e Mocidade também foram destaques da segunda noite de desfiles do Grupo Especial, que ainda teve irreverência crítica da São Clemente
Rio de Janeiro|Camila Juliotti e Thiago Calil, do R7
A importância do Carnaval como instrumento de luta e preservação da cultura ficou clara na avenida na madrugada desta terça-feira (5), na segunda noite de apresentações do Grupo Especial carioca. Portela, homenageando Clara Nunes, e Mangueira, dando o devido valor aos heróis brasileiros, emocionaram o público e proporcionaram grandes espetáculos para admiração e reflexão.
As duas se juntam a Salgueiro e Viradouro entre as favoritas a levar o campeonato de 2019 amanhã (6).
A escolha de Clara Nunes para a Portela não foi ao acaso. A cantora era apaixonada pela escola de Madureira e enalteceu a azul e branco em sua obra. Já a Mangueira colocou a Sapucaí para cantar e repensar tudo o que já ouviu sobre a história do Brasil. Para isso, usou alegorias provocativas sobre índios, negros e outros heróis do nosso povo.
Antes delas, a Vila Isabel fez um desfile grandioso e marcado pelo luxo. O que pode dificultar a vida da escola, no entanto, foi o estouro em um minuto do tempo máximo permitido para a apresentação.
Outro destaque da noite ficou por conta da São Clemente, que riu e fez piada das trapalhadas do próprio Carnaval. Foi um desfile leve, irônico e não menos provocativo. Já a Mocidade Independente de Padre Miguel, que encerrou a série de desfiles, fez bonito para falar sobre o tempo e deve ser outro nome da briga pelo topo do ranking de 2019.
Veja como foram os desfiles da noite:
São Clemente
A escola entrou na avenida provocativa e irreverente, tirando sarro da situação atual do Carnaval carioca e das escolas de samba. A comissão de frente, um dos destaques do desfile, representou a virada de mesa do Carnaval 2018, que suspendeu o rebaixamento de duas agremiações. A São Clemente ainda brincou com a vaidade de carnavalescos, colocou duas rainhas de bateria num ringue, criticou a presença de DJs, sertanejos e funkeiros fazendo shows nos camarotes e a indústria de composição de samba-enredo.
Unidos de Vila Isabel
A escola entrou na avenida para brigar pelo campeonato. Fantasias luxuosas e alegorias primorosas, com grande investimento em iluminação e detalhes. Cantando a cidade de Petrópolis, o ponto alto foi o riquíssimo carro abre-alas, formado por três chassis. A comissão de frente, representando o Museu Imperial, trouxe truques de ilusionismo. O desfile passou pela fauna da região e lembrou as influências dos imigrantes. A última alegoria, contou que o Brasil foi o último país a libertar os escravos. No carro, estava a família de Marielle Franco, vereadora do Rio de Janeiro assassinada há um ano.
Portela
Um dos desfiles mais aguardados de 2019 por homenagear Clara Nunes, a Portela teve como ponto alto a emoção. A escola mostrou a ligação da cantora com a religiosidade e a brasilidade que marcou a obra da artista. O destaque ficou por conta do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Marlon Lamar e Lucinha Nobre. Ele estava fantasiado de águia, representando a própria Portela, e ela, de Clara Nunes. A coreografia dos dois mostrava o amor entre a escola e a cantora. Amor esse que ficou evidente em todo o desfile.
União da Ilha do Governador
Cantando o Ceará pelos olhos dos poetas Rachel de Queiroz e José de Alencar, a União da Ilha uniu forró e xaxado ao samba na Sapucaí. O carro de som ganhou reforço do acordeão e a bateria foi complementada com um triângulo. Os efeitos possibilitaram deixar a avenida em clima de nordeste e foram o destaque da agremiação. A comissão de frente trouxe um Padre Cícero que sobrevoava o desfile. Comidas típicas, artesanato, festas populares... todos os traços culturais do Ceará estavam lá.
Paraíso do Tuiuti
A escola levou a linguagem do teatro popular para contar a história do Bode Ioiô, eleito vereador em Fortaleza nos anos de 1920. Ainda que de forma leve, o Tuitui fez várias críticas à realidade política atual do país. A comissão de frente, que resumia o enredo, tinha um candidato que pisava no povo e tentava comprar votos, sendo que a única preocupação era chegar ao poder. No fim do desfile, após mostrar as mazelas do povo e a luta de classes, a escola concluiu que não existe um salvador da pátria. Esse é um papel individual.
Estação Primeiro de Mangueira
A verde e rosa entrou na avenida reescrevendo a história do Brasil dando destaque para os verdadeiros heróis do povo. A escola enalteceu negros, índios e personalidades que lutaram pelo nosso país. Destaque para a alegoria que trouxe uma releitura do Monumento às Bandeiras, que foi colocado sobre o sangue de tribos indígenas que foram extintas pelos europeus. No final, uma homenagem a vários nomes da história recente: Cartola, Jamelão e Marielle Franco.
Mocidade Independente de Padre Miguel
Última a desfilar, a agremiação levou para a avenida o enredo Eu sou o Tempo, Tempo é Vida e falou da relação entre a humanidade e a passagem do tempo de maneira criativa. A comissão de frente foi um dos pontos altos do desfile ao trazer uma máquina do tempo para brincar com passado e futuro. Referências a diversos calendários e relógios vieram nas alas e alegorias, como, por exemplo, os componentes que desfilaram pendurados no abre-alas, em alusão aos pêndulos dos relógios antigos. O clássico de Charles Chaplin, Tempos Modernos, serviu de inspiração para a criação da quarta alegoria. Elza Soares, que será homenageada pela Mocidade em 2020, desfilou com a escola.