Críticos apontam quais as são chances de o Brasil ganhar um Oscar hoje à noite
Entenda os principais aspectos que podem garantir um prêmio para o filme ‘Ainda Estou Aqui’ e para a atriz Fernanda Torres
Cinema|Do R7
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A expectativa pelo Oscar 2025 tomou conta do Brasil, em um clima comparável ao de uma final de Copa do Mundo. A premiação deste domingo (2) pode marcar um momento histórico para o país: a conquista inédita de uma estatueta com Ainda Estou Aqui.
O filme de Walter Salles, estrelado por Fernanda Torres e Selton Mello, colocou o país novamente no centro da maior premiação do cinema após 26 anos.
Indicado em três categorias — melhor filme internacional, melhor atriz e, de forma inédita, melhor filme —, o longa reacendeu o otimismo do público e levantou uma questão inevitável: chegou a hora de o cinema brasileiro finalmente ser reconhecido pelo Oscar? Para especialistas ouvidos pelo R7, as chances nunca foram tão grandes.
“A categoria de melhor filme internacional é a nossa melhor aposta. Isso porque Emília Pérez, que era favorito, perdeu chances devido às polêmicas em torno do filme. Então, o favoritismo agora está com Ainda Estou Aqui“, afirma Renato Silveira, presidente da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e votante do Globo de Ouro.
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Sobre as chances de Fernanda Torres conquistar a estatueta de melhor atriz, Silveira diz que há uma possibilidade “razoável” de vitória para a brasileira.
Ele explica que, diante das excelentes atuações de Demi Moore (A Substância) e Mike Madison (Anora), os votos podem acabar dissolvidos entre as duas, o que abriria caminho para Fernanda Torres.
“Pode ser que a Fernanda Torres se beneficie dessa indefinição. Então, nesse caso, ela pode ter uma boa chance”, afirma Silveira.
Na categoria de melhor filme, a mais cobiçada da noite, as chances do longa brasileiro são menores, segundo o presidente da Abraccine.
“Não está descartado, claro, mas a gente sabe que, devido aos prêmios dos sindicatos e da indústria, Anora e Conclave estão mais à frente, porque muitos membros da Academia votam nesses prêmios também. Esses dois têm mais chances do que Ainda Estou Aqui”, explica.
Apesar disso, Silveira não descarta uma reviravolta. “Pode ser que aconteça uma surpresa, assim como já em outros anos. Vamos lembrar, por exemplo, de Spotlight, que ninguém esperava que fosse ganhar, e ganhou. Quem sabe?”, diz o especialista.
Influência de premiações anteriores
O crítico de cinema e editor do portal Plano Aberto, Matheus Fiore, diz que as premiações dos sindicatos dos atores, como o SAG Awards e o PDA Awards, servem como uma forte sinalização dos vencedores do Oscar.
Já prêmios que não contam com votantes da Academia, mas, sim, com membros da imprensa, como o Globo de Ouro e o Bafta, têm um papel mais voltado para a construção de narrativa e repercussão no marketing dos filmes.
“O fato de a Fernanda Torres não ter concorrido ao Bafta, por exemplo, nem ao SAG Awards, pode enfraquecer a nomeação, porque ela teve menos palco do que a Demi Moore e do que a Mike Madison”, avalia Fiore.
Além das três indicações, Ainda Estou Aqui têm se beneficiado de excelentes índices de bilheteria. O filme entrou para a lista das 15 produções mais assistidas da história do Brasil, com mais de 5 milhões de espectadores, o que reforça sua relevância.
A produção também teve a maior estreia de um longa latino-americano no Reino Unido e na Irlanda — arrecadou £ 253.598 (cerca de R$ 1,84 milhão) nos três primeiros dias de exibição. Também é a maior estreia de um filme em língua não inglesa neste ano no Reino Unido.
O faturamento bruto mundial já atingiu os US$ 27,4 milhões (R$ 158,34 milhões). O filme segue em cartaz na Europa, em países como França, Portugal e Itália, além da Colômbia e da Austrália.
Apenas no primeiro fim de semana nos EUA e no Canadá, em 19 de janeiro, a bilheteira ultrapassou os R$ 500 mil.
Sucesso comercial ajuda ‘Ainda Estou Aqui’
Para Donny Correia, crítico de cinema e doutor em estética e história da arte pela Universidade de São Paulo, esse sucesso comercial pode fortalecer as chances do longa, já que o filme trata de temas que prendem a atenção lá fora.
“O filme do Walter Salles trata de um tema dolorido para nós e interessante aos olhos do estrangeiro. Isso pode nos ajudar, como pode também fazer com que a gente ganhe esse prêmio pelas questões intrínsecas ao filme”, afirma Correia.
“Uma bela fotografia, uma bela direção, uma bela trilha sonora: o filme é muito bem acabado, não deixa sobrar nada. Acho que, pela primeira vez em muito tempo, eu vi um filme brasileiro que você assiste do começo ao fim e não encontra absolutamente nada fora do lugar, não falta nem sobra”, conclui.